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Policial

Idosos "explorados" por primeira dama viviam em Casa Lar precária

A edícula, chamada de Casa Lar existe há mais 15 anos e sempre funcionou abrigando de 1 a 3 idosos.

Campo Grande News

17 de Julho de 2015 - 14:05

Os três idosos de 77, 88 e 86 anos atendidos pela prefeitura de Jaraguari, viviam em uma casa precária e ficavam a maior parte do tempo sozinhos. Vizinhos que não quiseram se identificar com medo de sofrer represálias disseram que no local trabalhavam cinco pessoas no total, sendo duas da área de limpeza, que também faziam a alimentação, a chefe de limpeza e duas enfermeiras que faziam visitas em um intervalo de 15 a 20 minutos, mas durante a noite ninguém ficava com os idosos.

A edícula, chamada de Casa Lar existe há mais 15 anos e sempre funcionou abrigando de 1 a 3 idosos. Além da falta de funcionários, outro fato que chama a atenção, é a precariedade da edícula de cinco peças, composta por dois quartos, sala, cozinha e banheiro.

Um comerciante de 56 anos, que não quis que seu nome fosse divulgado, disse a que o local não serve para ser um asilo. "Não tem acessibilidade, algumas janelas estão quebradas, o terreno é inclinado e a casa é muito humilde", contou.

Ivo Miranda, 50 anos, proprietário de um comércio na rua Francisco Siqueira, mesma rua onde está localizado o asilo, disse que a situação é uma vergonha para uma cidade tão pequena. Ele conta que nunca ficou sabendo que os idosos sofriam maus tratos, nem a maneira que eles são tratados lá dentro. "Tenho consciência de que ali não é lugar para asilo e não pelo tamanho, mas sim pelas condições do local".

Envolvimento - Uma das envolvidas no caso, a funcionária pública Salete Terezinha Belchior, 52 anos, que ficava com o cartão do idoso de 77 anos, o seu Jordão, disse que não sabia da gravidade em ficar com o cartão do idoso.

"Não sabia que poderia virar caso de polícia, senão teria feito uma procuração. Eu fiz isso tudo porque ele me pediu, eu não sabia que o fato de ficar com o cartão de outra pessoa virava caso de polícia", afirmou.

Salete, disse ainda que do total do valor que o idoso recebia, sobrava pouco mais de R$ 400, devido aos cinco empréstimos, que segundo ela, o idoso tinha. Esse dinheiro que restava, ela usava para comprar coisas que o próprio idoso pedia. "Comprava coisas como frutas, verduras e roupas", disse.

A servidora se explica que só ficou com o cartão do idoso para ajudar, pois ele tinha dificuldades em andar, tinha sofrido um AVC e segundo ela, possui um câncer de próstata, na qual precisa se deslocar para a Capital para tratamento. "Por isso fiquei com o cartão dele", afirmou.

Mas, os vizinhos dos idosos, disseram que o seu Jordão realmente anda com dificuldades devido ao AVC, mas que ele se locomove, ou seja, poderia sacar o benefício. Já o outro idoso, o de 86 anos, é boliviano, não tem documentos e por esse motivo não recebe aposentadoria.

Segundo o delegado do caso, Antenor Batista da Silva Júnior, as duas contas dos dois idosos estavam zeradas. Porém, a funcionária pública desmente, dizendo que a conta de seo Jordão não estava zerada. "Eu sacava conforme ele ia precisando", diz.

Denúncias - O caso estava sendo investigado, após denúncias de que os três idosos estariam sofrendo maus-tratos, ficavam sozinhos e sem um mínimo de higiene e cuidado. Com as investigações, a polícia descobriu que a primeira dama Cláudia Batista de Oliveira ficou durante 2 anos e 4 meses com o cartão do idoso de 88 anos. No total, ela sacou R$ 24 mil. A servidora pública Salete Terezinha Belchior se apropriou há quatro meses do cartão do idoso de 77 anos.

Elas foram presas ontem (16) e soltas no mesmo dia após pagamento de fiança. Em depoimento, as duas alegaram que os idosos não têm família na cidade e não tinham condições de andar, por isso que o dinheiro era sacado por elas.

A primeira dama e a servidora vão responder pelos crimes de apropriação indébita de benefício de idoso e retenção de cartão magnético. Cláudia por ser responsável pela secretaria de Assistência Social, responde por maus-tratos. Cláudia pagou fiança de R$ 6.304 e foi solta. A servidora pagou R$ 788 e também foi liberada.