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Policial

"Quero ele solto", diz mulher esfaqueada oito vezes pelo marido

O agressor foi preso, mas Vanessa pede que ele seja solto alegando que "deu motivos" para que ele tomasse aquela atitude

G1

26 de Setembro de 2014 - 08:04

Vanessa Lima tem 22 anos e vive em Tarauacá (AC), distante 400 quilômetros de Rio Branco. No dia 3 de agosto, ela foi esfaqueada 8 vezes pelo marido com quem vivia há 9 anos, enquanto tomava banho. O agressor foi preso, mas Vanessa pede que ele seja solto alegando que 'deu motivos' para que ele tomasse aquela atitude. O casal tem duas filhas, uma de 4 e outra de 7 anos.

"Eu me sinto culpada. Vou falar a verdade, se eu não tivesse dado motivos, ia pedir justiça, mas eu dei. Eu saía de casa, abandonava minhas filhas e voltava dias depois. Fui muito influenciada por amigos que diziam que a vida de solteiro era muito boa e eu acreditava nisso", explica.

Ao site, a coordenadora do Centro de Referência para Mulheres Vítimas de Violência Domiciliar Casa Rosa Mulher, Vanessa Mota diz que mulheres nessa condição levam até dez anos para sair de uma relação violenta. "Muitas vezes elas acham que têm culpa, perdoam, mas o que temos visto é que quando não inseridos em algum programa, esses homens voltam a cometer agressões. Ela precisa de acompanhamento psicológico", afirma.

A coordenadora explica que com a Lei Maria da Penha independente das vítimas quererem a liberdade dos agressores o processo continua.

A conselheira tutelar de Rio Branco, Gorete Oliveira, diz que a atitude de Vanessa é anormal. "Muitas mulheres se calam porque dependem financeiramente do marido, mas o correto é manter a distância até para proteger os filhos e a ela mesma", diz.

Vanessa explica que o marido está preso desde a semana passada, mas garante que se reconciliaram três semanas após o ocorrido. "No dia que tudo aconteceu eu estava com muita raiva, não conseguia enxergar nada.  Depois foram clareando as minhas ideias e vi que eu dei motivos e que ele não merece passar pelo o que está passando. Não é todo homem que aguenta o que ele suportou inclusive traição", destaca.

Ela ficou internada no hospital de Tarauacá por 9 dias se recuperando dos ferimentos e não passou por qualquer acompanhamento psicológico após a violência que sofreu, mas faz questão de ressaltar que não ficou com traumas e nem está abalada. 

"Não estou abalada, é apenas a verdade. Não adianta eu jogar toda à culpa para cima dele porque Deus sabe da minha culpa", diz.

A mulher conta que vendeu a casa em que mora por R$ 15 mil para contratar um advogado para tirar o marido da cadeia. O comprador da casa permitiu que ela continuasse no imóvel por um tempo. "Ainda estou na casa, porque o novo dono deixou que eu ficasse", diz.

Vanessa diz que não trabalha e não tem condições de sustentar as filhas, além disso, destaca que o marido sempre foi um bom pai e que as crianças sentem a falta dele. “A mais nova não consegue dormir e a mais velha não quer mais ir para a aula. Não é justo que minhas filhas paguem por um erro meu", diz.

Ela afirma que no Ministério Público foi informada que receberia uma cesta básica para ajudar no sustento das crianças, mas Vanessa exige que o marido pague a sentença em liberdade. 

"Eu não quero justiça, quero ele solto para trabalhar e criar as filhas dele. Porque as meninas não precisam apenas de comida, mas do amor do pai e da mãe", enfatiza.

Antes de ser preso, segundo Vanessa, o agressor, de 27 anos, lhe pediu perdão. "Foram só oito golpes", finaliza.

Entenda o caso

Vanessa estava em casa no dia 3 de agosto quando o marido chegou em casa, segundo ela, alcoolizado pedindo para reatar o relacionamento. Diante da negativa da esposa, ele pegou uma faca e desferiu oito golpes contra ela. Na semana passada, ele foi preso e Vanessa pede que ele responda o processo em liberdade.

Sobre os ferimentos, ela diz que já não sente mais nada. "O que tinha que acontecer já aconteceu. Eu to bem, os ferimentos sararam e não sinto mais nada", diz.