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Política

A trajetória de Ari Artuzi que em 20 anos se tornou um fenômeno político em Dourados

Segundo os boletins médicos da época, ele acreditava se tratar de uma apêndice, mas durante os procedimentos foi detectado o tumor no colo retal.

Com informações do Douradosnews

24 de Agosto de 2013 - 07:16

Durante as pouco mais de duas décadas que viveu em Dourados, o ex-vereador, deputado estadual e prefeito, Ari Valdecir Artuzi, saiu de defensor e esperança de ‘ajuda’ da população carente, para a acusação de ser um dos principais articuladores de um esquema que fraudou e desviou milhões de reais dos cofres públicos do município, antes de morrer vítima de um câncer no abdome no dia 23 de agosto no Hospital Evangélico em Dourados.

Natural de São Valentim, interior do Rio Grande do Sul, ao chegar à maior cidade do interior do Mato Grosso do Sul em 1992, se embrenhou na política e foi trabalhar como cabo eleitoral do tio, Dioclécio Artuzi nas eleições do mesmo ano em 1996.

Quatro anos depois, já com bastante conhecimento no município – foi presidente da associação de moradores do Jardim Canaã I - se candidatou a uma vaga no Legislativo douradense e conquistou o primeiro mandato como vereador. Artuzi não ‘esquentou’ a cadeira na Câmara de Vereadores e dois anos depois já conquistara saltos maiores, entrando de vez na política estadual através de sua eleição para a Assembleia Legislativa.

Em 2006 a história se repetia e o ‘fenômeno’ Artuzi conquistava a reeleição como deputado estadual, começando a ganhar força entre os eleitores douradenses. Na época, a cada entrega de obras, visitas ou grandes eventos realizados no município, ele cumprimentava as pessoas afirmando, ‘vou ser prefeito desta cidade’, para em seguida soltar o famoso ‘Ajuda eu’.

Com o fim do governo Tetila em 2008, o então deputado, na época no PMN, entrou de cabeça na campanha para o cargo de chefe do Executivo, concorrendo contra o atual prefeito, Murilo Zauith (PSB) na época DEM e Wilson Biasotto (PT).

Após dias de acusações, dúvidas e brigas entre os candidatos, Artuzi, teve o sonho realizado e comandaria a maior cidade do interior nos próximos quatro anos. Ele conquistou 34.920 votos (42,38% dos válidos), à frente de Zauith (32.068 votos, 37,94% válidos) e Biasotto, com 17.553 (20,74% dos votos válidos).

No dia 1º de janeiro de 2009, ele é diplomado prefeito de Dourados e junto com novos secretários e 12 vereadores, prometia levar desenvolvimento sem esquecer do ‘meu povo’ como denominava os moradores de bairros mais carentes. Porém, o tempo se passava e as reclamações e escândalos internos começavam a vazar. Sete meses depois de assumir a prefeitura, o prefeito enfrentava a primeira crise. Desencadeada pela Polícia Federal e batizada de ‘Operação Owari’, Artuzi viu assessores e ex-secretários presos.

Em novembro de 2009, seu sigilo bancário foi quebrado como parte das investigações do processo e também por irregularidades na saúde. Mas, o pior ainda estava por vir, e em 17 dias o ‘Castelo de Artuzi’ caiu. No dia 14 de agosto, durante entrevista a uma emissora de rádio local, o então prefeito declarou que em seu mandato, os trabalhos eram feitos por ‘gente branca’.

Em posse da gravação das palavras de Artuzi, uma ação foi encaminhada ao MPE (Ministério Público Estadual). Na ocasião, segundo o Promotor de Justiça João Linhares Jr., ele teria praticado o racismo, ofendendo a honra subjetiva dos afrodescendentes. "Nóis temu fazenu serviço de genti branca; serviço de genti" (sic), teria dito, segundo o processo.

Em março deste ano, a Justiça acatou todos os pedidos do Ministério Público na ação, considerando-a integralmente procedente e decretou a prisão do ex-chefe do Executivo, porém ele recorreu da decisão e continuou em liberdade..

Após a infeliz declaração, o golpe fatal na ‘Era Artuzi’ na prefeitura de Dourados. No dia 1º de setembro de 2010, 20 meses após ter assumido o cargo que almejou desde que entrou na política, é preso junto com o ex-vice-prefeito Carlinhos Cantor, a ex-primeira-dama Maria Artuzi, nove ex-vereadores – incluindo o presidente da Câmara Sidlei Alves – secretários e empresários do município, acusado de chefiar um esquema de fraude em licitações para desvio de recursos públicos, em nova operação desencadeada pela Polícia Federal, desta vez, batizada de Uragano.

A ação contra os políticos envolvidos contou com a ‘ajuda’ de seu ex-braço direito durante o governo, o repórter Eleandro Passaia que hoje trabalhar no SBT do Paraná.. Artuzi ficou por 90 dias detido – entre as celas da Polícia Federal de Dourados, Presídio Federal e Depac (Delegacia de Pronto-Atendimento ao Cidadão), ambos na capital – e renunciou o cargo de prefeito de dentro da prisão.

Nesse período, o município sofreu intervenção da Justiça e foi governado pelo juiz Eduardo Machado Rocha. Em seguida, a então eleita presidente da Câmara de Vereadores Délia Razuk assume o cargo, repassando-o à Murilo Zauith, eleito após eleição extemporânea em janeiro de 2011.

O CÂNCER

Artuzi foi internado no dia 1º de novembro de 2011 reclamando de fortes dores na região do abdome. Segundo os boletins médicos da época, ele acreditava se tratar de uma apêndice, mas durante os procedimentos foi detectado o tumor no colo retal.

Ele foi submetido a uma laparotomia exploradora (Intervenção cirúrgica pela qual o abdômen é aberto para se procurar a causa de uma doença não diagnosticada) e foi necessária a retirada de parte do intestino grosso.

O ex-prefeito passou a realizar sessões de quimioterapia, mas a doença não parou de evoluir e ele precisou ser internado novamente em março de 2013. No dia 12 de junho, ele voltou ao hospital. Alegando fortes dores, ele passou por nova laparotomia e outros procedimentos e após a cirurgia, foi encaminhado para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Evangélico.

De lá para cá, Artuzi alternou visitas e saídas da unidade hospitalar, e não resistiu à doença e faleceu no início da noite de ontem.