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Saúde

Campo Grande acende alerta com 10 casos de morcegos com raiva

Mesmo sem registro em humanos desde 2015, doença é de alta periculosidade, em função da taxa de letalidade de quase 100%, além de infectar cães e gatos.

Correio do Estado

20 de Outubro de 2025 - 14:40

Campo Grande acende alerta com 10 casos de morcegos com raiva
Morcegos encontrados e recolhidos em Campo Grande foram levados para a Coordenadoria de Controle de Zoonoses para análise - Paulo Ribas

Com taxa de letalidade em humanos próxima de 100%, as ocorrências de morcegos infectados com raiva encontrados em Campo Grande neste ano têm chamado a atenção das autoridades, já que o contato com o vírus pode levar uma pessoa à morte dentro de duas semanas após os primeiros sintomas.

Neste ano, a Capital acumula 10 casos de morcegos infectados com o vírus da raiva, que foram encontrados em nove bairros diferentes da Capital: São Francisco (2); Centro; Jardim Ouro Preto; Carandá Bosque; Aero Rancho; Jardim Veraneio; Jardim Columbia; Vila Jacy; e Vila Planalto.

A Secretaria Municipal de Saúde (Sesau) explicou que o número representa apenas 1,6% do total de 620 morcegos recolhidos e analisados pela Coordenadoria de Controle de Zoonoses (CCZ) desde janeiro.

A Sesau também explicou que são recolhidos apenas aqueles animais que são encontrados caídos, visto que este comportamento é considerado anormal e, como não é possível analisar sem exames laboratoriais qual o motivo da queda, pode representar sério risco para a população, cachorros e gatos.

Em conversa com a reportagem, a veterinária Juliana Sguario explicou a relação dos morcegos com a doença. “A raiva é uma zoonose, ou seja, pode ser transmitida para humanos e é letal, afeta o sistema nervoso de mamíferos. Causada por um vírus do gênero Lyssavirus, tem o morcego como reservatório, por isso, eles são os principais transmissores da doença”, diz.

Juliana explica que os morcegos com raiva encontrados em Campo Grande são frugívoros, ou seja, mamíferos que se alimentam principalmente de frutas, e não costumam atacar pessoas, utilizando a mordida apenas em último caso, para se defender. Porém, por serem normais em zonas urbanas, apresentam perigo para a proliferação de doenças em humanos.

Sobre os casos nos últimos meses na Capital, a veterinária acredita que há vários fatores que contribuem para isso, como alterações climáticas e desmatamento (consequentemente, a perda de seu habitat), além de a procura por alimento e água aproximá-los da cidade.

Ainda, a população estar alerta sobre a doença faz com que o recolhimento seja mais acionado, ampliando o número de registros.

Por isso, Juliana recomenda a vacinação de cachorros e gatos. “Além das vacinas serem importante para a prevenção de uma zoonose, como a raiva, também é importante para qualidade de vida e a longevidade do pet, pois também previne de outras doenças virais, como a parvovirose e a cinomose”, explica.

Segundo censo atualizado em tempo real com número de imunizantes contra raiva disponíveis em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e Centros Regionais de Saúde (CRSs) de Campo Grande, há 259 vacinas antirrábicas prontas para serem aplicadas, das quais 123 estão somente na UPA Leblon, seguida pela UPA Santa Mônica e a UPA Universitário, que somam mais de 90 doses.

10 ANOS LIVRE

Em Mato Grosso do Sul, uma década se passou sem casos registrados de raiva em humanos. Inclusive, o último caso confirmado no País ocorreu em abril de 2015, em Corumbá, onde acontecia uma epidemia de animais com raiva na época.

Na ocasião, um homem de 38 anos foi mordido por um cachorro infectado e procurou ajuda quase um mês depois do ocorrido.

Transferido para o Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), em Campo Grande, ele ficou dias em regime de isolamento, coma induzido e respirando por aparelhos.

Um mês de internação depois, o rapaz faleceu após sofrer uma parada cardíaca. Este foi o primeiro caso em humanos no Estado desde 1994, ou seja, um período de 21 anos sem registros.

FATAL

Como já mencionado, a raiva é uma doença que atinge mamíferos, incluindo seres humanos. Mesmo com baixa incidência de casos confirmados em humanos, a doença sempre é alvo de preocupação das autoridades de saúde, visto que sua infecção está diretamente ligada à morte.

De acordo com o Ministério da Saúde, a raiva é transmitida ao homem por meio da saliva de animais infectados por meio de mordedura, arranhadura ou lambedura.

Após o período de incubação (cerca de 45 dias em adultos e em menos tempo em crianças), surgem os primeiros sintomas da doença, como náuseas, anorexia, mal-estar geral, dor de cabeça e garganta, irritabilidade, entorpecimento, inquietude, pequeno aumento na temperatura e sensação de

angústia.

Essas manifestações da raiva costumam durar de 2 a 10 dias. Após esse período, os sintomas progridem e começam a ficar mais graves, manifestando-se como febre, delírios, convulsões e espasmos musculares involuntários. Em geral, o tempo da piora dos sintomas até o óbito dura de dois a sete dias.

Por isso, é recomendado que pessoas com alto grau de exposição a esses animais (como veterinários e biólogos), vacinem-se como medida de prevenção.

A vacina antirrábica para cães e gatos é distribuída gratuitamente na rede pública, já que a proteção deles é vista como essencial para a não propagação da doença em humanos.