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Sidrolândia

Garoa não livra produtores da perda de 40% da safra de milho

Na avaliação do produtor Arthur Burgel, provavelmente esta será a safra que vai gerar o maior prejuízo nos últimos 40 anos.

Flávio Paes/Região News

08 de Junho de 2021 - 09:45

Garoa não livra produtores da perda de 40% da safra de milho
A dois meses do início da colheita são projetadas perdas em 40% na média. Foto: Marcos Tomé/RN

A garoa fina que caiu nesta terça-feira em Sidrolândia na avaliação dos produtores não será suficiente para reduzir as perdas do milho safrinha que a dois meses do início da colheita são projetadas em 40% na média, mas que podem ser até ser maiores se o regime de chuva dos próximos 60 dias não seja adequado. Só vai conseguir se livrar do prejuízo, quem optou pelo plantio tardio, em março.

Na avaliação de grandes produtores como Arthur Burgel, provavelmente esta será a safra que vai gerar o maior prejuízo nos últimos 40 anos. Os 40% de quebra é uma média, mas há lavouras com perda total, dependendo região ou como no caso dele, a perda vai chegar a 70%. Nos 8 mil hectares que plantou, ao invés de colher 100 sacas, está na expectativa de obter 30 sacas.

Ele acredita que a produção seja suficiente para cobrir os custos de produção, na base de R$ 1.500,00. É uma situação atípica, porque ao contrário de muitos produtores ele não vendeu toda a produção de forma antecipada com preço fixado, para financiar o custeio.

A maioria dos produtores, que sem capital próprio recorreu a este mecanismo de escambo (pagar em produto os insumos que pegou na cooperativa ou trading exportadoras), travou o preço a R$ 35,00, na época do plantio um preço atrativo. Hoje a cotação beira os R$ 90,00. Este produtor não vai se beneficiar com esta valorização de 135%, pelo contrário, terá prejuízo.

Imaginando-se que um agricultor que tenha pego R$ 10 mil, com o compromisso de pagar em saca de soja no valor de R$ 35,00, vai ter que entregar 285 sacas. Se prevalecesse a cotação de R$ 90,00, com 111 sacas quitaria. Lavouras de maior rendimento exige um investimento em torno de 50 sacas, que compensaria, tomando como base que na última safra a produtividade média de Sidrolândia de 91,4 sacas por hectare.

A equipe econômica da Federação da Agricultura de Mato Grosso do Sul (Famasul) calcula que o custo médio da lavoura ficou em R$ 3.311, 74 sacas por hectares o custo, considerando um preço médio de R$ 44,20 - visto que a comercialização iniciou o preço em R$ 36 e já alcançou o patamar de R$ 80,00 - porém foi ponderado pela comercialização mensal.

Garoa não livra produtores da perda de 40% da safra de milho

Previsão da safra

O Sindicato Rural já projeta uma perda de 40% na produtividade média, de 91 sacas por hectare para a faixa de 51 sacas insuficiente até para cobrir os custos de produção (equivalentes a 50 sacas por hectare no caso de quem investiu pesado em tecnologia na expectativa mais que o dobro disso).

No início do plantio, a expectativa é de que Sidrolândia repetisse pelo terceiro ano consecutivo seu recorde de produção de milho. A área cultivada aumentou 20 mil hectares (de 180.470,85 hectares para mais de 200 mil hectares). Mantida a produtividade de 91,4 sacas/ha, a produção aumentaria de 989.890,88 toneladas para quase 1,1 milhão de toneladas, superando a melhor safra do município, a 2019, quando foram colhidos mais de 1,050 milhão de toneladas, em 182.287,07 hectares plantados, mas a produtividade chegou à produtividade média chegou a 96,9, sacas por hectare.

Garoa não livra produtores da perda de 40% da safra de milho
Presidente do Sindicato Rural, Paulo Stefanello

O presidente do Sindicato Rural, Paulo Stefanello, acredita que na maior parte das lavouras 50% de queda da produtividade seja irreversível, independente do quanto chova até a colheita. Ele acredita que em algumas lavouras a perda foi tão grande que o produtor nem vai colher porque não compensa, o produtor vai gradear a terra.

Stefanello avalia até a possibilidade de pedir a decretação da situação de emergência na zona rural, como instrumento jurídico para negociar com os bancos a postergação dos prazos de pagamento dos financiamentos de custeio. Nem mesmo o aumento de 132,39% na cotação do grão que um ano passou de R$ 39,70 para R$ 92,60, nesta primeira semana de junho teve uma ligeira queda de 8,51% (está em R$ 88,00), alivia este cenário de perda de rentabilidade e prejuízo mesmo.

Segundo análise da equipe técnica da Famasul que monitora a evolução da safra e mercado, poucos produtores se beneficiam destes preços pela simples razão que não tem milho em estoque para comercializar. Outro aspecto é que 40% da safra foi vendida antecipadamente com o preço pré-fixado, na época do plantio em R$ 35,00, que na época era a cotação de mercado e se imaginava uma estabilização dos preços diante da perspectiva de uma grande produção.

A venda antecipada para cooperativas e grandes trading exportadoras, é saída para o produtor que não tem capital próprio para custear a própria safra escapar do financiamento bancário. Os grandes produtores fazem um mix das três alternativas de financiar o custeio.