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Sidrolandia

Agricultura virou alternativa para cidades atingidas por febre aftosa

Em outubro de 2005 eles estavam no centro das atenções. Um foco de febre aftosa voltou os olhos do mundo para o Estado.

Canal Rural

21 de Março de 2014 - 09:29

Encontrar, na pior situação possível, uma saída para sobreviver na atividade. Foi o que fizeram os produtores rurais dos municípios de Eldorado, Japorã e Mundo Novo, em Mato Grosso do Sul. Em outubro de 2005 eles estavam no centro das atenções. Um foco de febre aftosa voltou os olhos do mundo para o Estado.

Interdições, sacrifício de animais, embargos com a carne, burocracia. Uma combinação de fatores que praticamente inviabilizou o trabalho de quem dependia da pecuária.

Seguiram-se anos difíceis para os produtores que acabaram encontrando uma saída nada convencional: numa área tipicamente de pecuária, o cultivo em grande escala de soja e milho. A agricultura está mudando a paisagem na região.

A gente tem isto muito vivo na memória, toda esta crueldade que fizeram com o gado, esta matança - afirma o produtor rural João Marcos Wolf. Ao todo foram quase quarenta animais sacrificados. Cerca de mil e trezentas propriedades interditadas. Mais de cinquenta países fecharam as portas para a carne bovina de Mato Grosso do Sul. O prejuízo soma mais de R$1 bi.

Não foi fácil, acabou com assentamento, acabou com nosso município, foi lamentável - conta o produtor rural Edinor Sebastião Vogel. Quase dez anos se passaram e a situação mudou. A paisagem por aqui é outra. O que antes era área de pastagem, hoje é da agricultura. O antigo criador de gado hoje é produtor de soja e milho - lamenta o produtor João Henrique Bosco.

É possível dividir a região em antes e depois do foco da febre aftosa. Foi ela quem provocou uma mudança cultural. Uma modificação ainda recente que cresce muito.  Cerca de 25% da área total do município é utilizada para lavoura.

A aftosa deixou as suas marcas e mudou também o perfil social e econômico do município. A pequena pecuária, não muito profissional, se transformou numa agricultura forte, uma agricultura boa. Da pecuária, em virtude da aftosa, nos tornamos um município eminentemente agrícola - explica o prefeito de Japorã, Vanderlei Bispo.

O produtor rural Edinor Vogel na época tinha cento e cinquenta cabeças de gado para corte e leite. Todo rebanho foi sacrificado. Dois anos depois, aproveitando o abatimento de 95% da dívida concedido pelo governo aos agricultores, investiu no plantio da mandioca. Hoje planta 100 hectares e tem capital para mais.

Hoje tenho 100 hectares plantados. Vai aumentar mais sessenta hectares este ano. Esta área está sendo preparada para mandioca - mostra. Capitalizado e confiante em um controle mais rígido das autoridades sanitárias, a cidade voltou a mexer com gado. O rebanho dobrou se comparado a 2005.

No lado paraguaio da fronteira procuramos o serviço nacional de qualidade e saúde animal.  A chefe do Senacsa, Andrea Zacarías, afirma que a vigilância é realizada em conjunto com o Brasil, em uma proporção de 15 quilômetros para cada lado, a partir da linha internacional.

Se monitoram animais que ficam nesta zona e também se realizam supervisões dos trabalhos que feitos tanto do lado brasileiro como paraguaio - afirma. Mas nem a garantia de um controle maior convence alguns produtores. João Marcos Wolf, por exemplo, não pretende voltar a criar gado.

Aquilo foi um pesadelo que ainda está vivo na memória da gente - relata.

Ele também pertence ao novo perfil da região. Planta trinta e oito hectares de soja. Mesmo com a estiagem conseguiu cinquenta sacas por hectare. O volume é comercializado com cooperativas de Mato Grosso do Sul e Paraná.