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Sidrolandia

Ciclovias representam apenas 1% da malha viária das capitais no país

O levantamento mostra que as 26 prefeituras planejam implantar ao todo 1.200 km de ciclovias e ciclofaixas até o fim do 2014 ou ao término da gestão

G1

24 de Março de 2014 - 10:00

Em meio à crescente frota de automóveis nas grandes cidades do país, as bicicletas lutam para conquistar espaço.  Levantamento feito junto às prefeituras das 26 capitais do Brasil mostra que, juntas, elas possuem 1.118 km de ciclovias – o que representa apenas 1% do total da malha viária das cidades (97.979 km de ruas).

O Brasil tem hoje cerca de 70 milhões de bicicletas, mas quase não há lugares exclusivos e seguros para se trafegar, especialmente nas metrópoles.  Para o especialista em mobilidade Alexandre Delijaicov, da USP (Universidade de São Paulo), o problema é que não é dada prioridade a quem realmente precisa.

“Mais de um terço das viagens no país é feita a pé, a maior parte por uma população que não tem dinheiro para se locomover. Não construir calçadas mais largas e ciclovias é um absurdo”, diz.

O professor da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo) diz que há um estímulo ao uso do carro por todos os lados. “Trata-se de um urbanismo mercantilista, que só colabora para piorar a construção coletiva da coisa pública.”

Apesar dos números, há municípios que têm dado uma atenção maior ao meio de transporte. A cidade campeã em ciclovias é o Rio de Janeiro (RJ).  Ela é a que tem o maior número de vias: são 361 km, com previsão de chegar aos 450 km até 2016, ano dos Jogos Olímpicos. A prefeitura diz que são feitas 1,5 milhão de viagens de bike todos os dias.

“A bicicleta passou a fazer parte de um movimento de modernização como um modal de transporte de curtas distâncias, servindo como alimentador das redes de transporte de massa.  Por ser 100% não poluente, também contribui para redução dos gases do efeito estufa”, diz, em nota, a Secretaria Municipal do Meio Ambiente do Rio.

Já Rio Branco (AC) tem a maior proporção em relação à malha (7,4%) e ao número de habitantes. Segundo o diretor da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito de Rio Branco, Ricardo Torres, a ordem na cidade é que sempre que for realizada uma obra de infraestrutura viária esteja previsto também o investimento no transporte não motorizado.

“Boa parte das ciclovias está na região periférica, onde está a população mais carente. Então há pessoas que até têm vale-transporte, mas que o passam para frente para conseguir uma renda extra e acabam utilizando a bicicleta, sobretudo operários da construção civil, trabalhadores de pequenas indústrias e da limpeza pública”, afirma.

Ele diz que não há um indicador preciso de que o trânsito esteja melhor, mas essa é a percepção geral da população.  “Se toda essa parcela que utiliza a bike migrasse para o ônibus, a moto ou o carro, a situação ia complicar, com certeza.” O desafio agora, segundo ele, é interligar toda a rede e melhorar a estrutura cicloviária da área central.

Para se ter uma ideia, Amsterdã, capital da Holanda e cidade referência para o transporte em bicicletas, tem 400 km de ciclovias - e área territorial e população significativamente menor em relação ao Rio de Janeiro, por exemplo.

0 km

Apenas uma capital, Boa Vista, não possui nenhuma ciclovia implantada. A única via para bicicletas que a cidade já teve, de cerca de 3 km, jamais foi utilizada e acabou abandonada. Hoje, é utilizada por motoristas como estacionamento.

“Não houve uma campanha de educação para o uso dela, que foi tratada como uma extensão da calçada, já que passa na frente dos comércios. E como era só uma, juntou a falta de cultura de ciclovias com a continuidade da política de não criação desses espaços. Atualmente ela está toda descaracterizada”, diz o diretor-presidente da Empresa Municipal de Desenvolvimento Urbano e Habitacional de Boa Vista, Edgard Magalhães.

São Paulo, que tem 60 km de ciclovias, conta também com 121 km de ciclofaixas de lazer (que funcionam aos fins de semana e nos feriados) e 58 km de ciclorrotas (que possuem sinalização e pintura no solo), o que faz a cidade possuir a segunda maior malha cicloviária total.

Curitiba (PR) possui 127 km de ciclovias e Campo Grande (MS), 73 km. Cuiabá, com só 2 km, e Manaus, com 3 km, são as cidades com a pior relação entre o número de ciclovias e o número total de ruas.

Planos e projetos

Se depender dos planos e projetos das prefeituras, no entanto, essa realidade pode mudar em um ou dois anos. O levantamento mostra que as 26 prefeituras planejam implantar ao todo 1.200 km de ciclovias e ciclofaixas até o fim do 2014 ou ao término da gestão, dobrando a malha atual.