Sidrolandia
Douradense está no Afeganistão a serviço da Legião Estrangeira
A única informação era que os militares pertenciam ao contingente francês. O medo era de que o rapaz estivesse entre as vítimas.
Flavio Paes com informações do G 1
20 de Julho de 2011 - 14:51
![Douradense está no Afeganistão a serviço da Legião Estrangeira](https://cdn.regiaonews.com.br/uploads/noticias/2020/08/15/1d2jvse8weo7a.jpg)
O sul-mato-grossense Jefferson Feltrin Macedo, de 25 anos, está no Afeganistão, a serviço da Legião Estrangeira, integrando o 2ª regimento estrangeiro de paraquedistas. Na última quarta-feira (13), a família, que mora em Campo Grande, ficou atenta às notícias internacionais: naquele dia, um ataque suicida matou cinco soldados estrangeiros e um civil na provícia de Kapisa, a 60 quilômetros de Cabul. A única informação era que os militares pertenciam ao contingente francês. O medo era de que o rapaz estivesse entre as vítimas.
Jefferson estava na base da legião, localizada na região de Kapisa, mas conseguiu entrar em contato no dia seguinte pela Internet e tranquilizou a família, dizendo que estava bem. Por e-mail, em entrevista ao G1, ele explicou que estava com problemas de comunicação e, por isso, não tinha ligado para a mãe. O soldado não fez nenhum comentário sobre o ataque. A exclusão desta informação pode fazer parte da estratégia adotada por ele. Eu omito o que não é necessário que eles saibam.
O rapaz nasceu em Dourados e se mudou para Campo Grande com a família. Depois de servir o Exército no Brasil, viajou durante um ano, até que morou no Rio de Janeiro por quatro meses. Em janeiro de 2007, aceitou o convite de um amigo e foi para a Espanha. Morou em Alicante (litoral) por dois anos, trabalhando na construção de piscinas e fazendo bico como segurança, mas não estava contente.
A ideia de ir para a França surgiu num estalo; no dia 16 de janeiro de 2009, peguei o trem para Paris e no dia 17 já estava nos portões do Fort de Nogent, um posto de recrutamento da Legião Francesa em Paris. Macedo recorda. Eu não sabia falar o idioma. Assim que se apresentou, o passaporte foi tomado. Aí confiscaram minha bagagem e me deram um novo nome. A partir daí, o brasileiro Jefferson Macedo se tornou Paul Floro, voluntário da Legião Estrangeira, sistema comum da companhia. O histórico do militar foi checado pelo Departamento de Inteligência da Legião e pela Interpol.
O brasileiro passou por bateria de testes físicos e psicológicos. Dois oito voluntários, apenas dois foram aceitos, entre eles, o sul-mato-grossense. Fui enviado para treinamento em um acampamento isolado do mundo, não podíamos nem ter relógio. Foram quatro meses de treino e de prática de francês. O exame final é a Marche Rouge, marchamos 90 quilômetros em três dias, e os que chegam ao destino final recebem o kepi blanc, simbolo da Legião Estrangeira. Nove meses depois, conseguiu a patente de soldado de 1ª Classe e integra o 2ª regimento estrangeiro de paraquedistas, o único dentro da legião.
Emboscada
A primeira missão foi no Afeganistão, em janeiro de 2010. Fiquei seis meses e voltei com o ombro machucado. No quinto mês, durante uma emboscada preparada pelos talibãs, fraturei o ombro direito ao quebrar um muro de barro e pedra pra me proteger dos tiros. Um soldado afegão foi atingido na cabeça, e dois talibãs foram mortos. Toda missão tem um risco, seja por tiros ou por bombas colocadas nas estradas, relatou Macedo.
O sul-mato-grossense está na segunda missão no Afeganistão. Além dele, há outros quatro brasileiros no grupo: um paulista, dois mineiros e um gaúcho. Tem um da Guiana Francesa que gosta de ser tratado como brasileiro, conta.
Macedo faz parte de um grupo encarregado de missões de apoio e de tomada de posição inimiga. Sempre estamos acompanhados pelos americanos, que nos dão apoio aéreo, e pelo exercito afegão, que legitima nossas ações quando entramos nas casas para revista.
Os trabalhos de apoio são importantes para garantir a confiança dos afegãos. Acompanhamos articuladores que oferecem rádios a pilha, geradores elétricos, entre outras coisas, para as pessoas das vilas e os chefes tribais; Isso não quer dizer que somos bem recebidos em todo lugar, já levei muita pedrada no capacete de crianças que nos jogam pedras quando passamos a pé pelas ruas.
No tempo livre, o contingente tem à disposição um bar e uma pizzaria. A venda de cerveja foi limitada após a morte de um soldado, atingido acidentalmente por rajada de tiros, disparada por um colega francês. Quando não estou em missão gosto de ler Paulo Coelho e malhar. Ganhei um livro do Sidney Sheldon da minha irmã, mas ainda não li.
Jefferson Macedo só deve voltar para o Brasil em fevereiro de 2012, de férias, já que o contrato com a Legião acaba em janeiro de 2014. Por enquanto, não penso em voltar ao Brasil, eu adoro meu trabalho, viajo o mundo e ainda ganho por isso. Sei que minha família sofre um pouco, mas no fundo, eles entenderam que é essa a minha vida.
Família
A mãe, a auxiliar administrativa Elizabete Macedo,de 50 anos, disse que o "espírito aventureiro" foi herdado pelo soldado do pai, Adélio Macedo, 50 anos. Meu marido sempre viajou muito. Ela lembra o que o filho sempre dizia que não nasceu para trabalhar em escritório.
Elizabete tem noção dos riscos que o filho passa, mas entende o fato de ele omitir algumas informações. Tem coisas que ele não me conta,tem coisas que eu especulo, tem coisas que eu prefiro não saber. Ela disse que, mesmo após o fim do contrato, Macedo não deve retornar ao Brasil. "A saudade e a angústia são grandes, só posso orar e pedir a Deus para proteger ele, disse a mãe do soldado.