Sidrolandia
Elaine Alem Brito: O Afeto na relação com a criança
Todo esse breve intróito tem o objetivo de remeter o leitor a uma palavra tão pequena e doce e que precisa ser praticada
Elaine Alem Brito
26 de Janeiro de 2011 - 23:09
Analisando a realidade que temos presenciado quanto ao crescimento e ao futuro de que nossos filhos vão viver, eis que a criminalidade na infância, o desvirtuamento de valores morais, éticos e religiosos tem sido crescente, sendo que os resultados são visíveis nas delegacias, conselhos tutelares, promotorias de justiça, escolas e família, penso que seja o momento de mobilizar a sociedade civil para que os olhos se abram diante do futuro que queremos e daquele que ainda é possível ser modificado.
Mudança no sentido de renovação, de recomeço, palavras que possuem significados profundos e que jogadas ao vento não tem sentido algum, mais que em simples gestos e atitudes podem transformar vidas e histórias.
A vida cotidiana, a busca pelo crescimento pessoal, profissional, o desejo de proporcionar uma vida estável aos que estão próximos tem feito de cada ser humano um ser individual e egoísta, tem minado o amor ao próximo e o desejo de fazer com que o dia de quem está perto seja melhor com um simples sorriso e uma palavra de carinho, o bom dia, boa tarde, boa noite, por exemplo, são palavras raras e o sorriso então, puxa esse sim bem longe, afinal é preciso correr para o almoço, para buscar o filho na escola, para o mercado, para o compromisso de trabalho.
Todo esse breve intróito tem o objetivo de remeter o leitor a uma palavra tão pequena e doce e que precisa ser praticada a fim de que a humanidade possa sobreviver ao vasto mundo cibernético e capitalista, ela se chama AFETO.
AFETO que possui amplos significados definidos pela língua portuguesa como impulso do ânimo, sua manifestação, sentimento, paixão, amizade, amor, simpatia, dedicação, afeição, incumbido e entregue (in http://www.priberam.pt/dlpo/Default.aspx).
Trazer a magnitude do significado da pequena palavra para a realidade? Eu posso? Você pode? Como começar? Eu quero? O que me impede?
O desejo aqui é levar o leitor refletir sobre o significado e fazer com que esta palavra faça sentido em nossos lares, escolas, igrejas, clubes e em todos os relacionamentos humanos, afinal ninguém consegue ser uma ilha, somos carentes de afeto.
A palavra permanecerá existindo nos dicionários, entretanto, para ela sobreviver em nossas vidas pequenas atitudes pode ser iniciadas em nossas vidas, em especial na educação e cuidado com as crianças.
A criança pode ser iniciada ao afeto no abraço e beijo de bom dia, no desejo de reunir a família nas refeições, nas palavras mágicas que devem ser iniciadas pelos pais, como por exemplo, me perdoe eu errei, por favor, com licença, quando os pequenos vão para a cama dormir, com a benção dos pais.
Essas atitudes podem ser extensivas a brincadeira, a criança do século XXI não brinca mais, brincar é afeto também.
Afeto não tem preço, não envolve pensão alimentícia, preconceitos racial, social, financeiro, separação litigiosa, apenas o desejo e a atitude de praticá-lo.
A psicanálise é enfática na necessidade da prática do afeto pelos pais, que por muitas vezes é substituído por algo material, sem sentido e sem conseqüências na boa vida que podemos proporcionar aos nossos filhos. Num exemplo de imperiosa valia, Lacan, nos ensina que quando uma criança pede um doce, parece estar exprimindo uma necessidade, enquanto, freqüentemente, trata-se de demanda de amor. Os pais podem recusar a dar o doce, mas, com um abraço, dar-lhe o amor. Mas também pode dar-lhe o doce, negando-lhe o amor.
Por tais motivos, faço um convite aos pais, tios, amigos, padrinhos e a todos aqueles que têm a oportunidade de propiciar afeto as crianças, comece hoje, pois a prevenção na forma de afeto é muito mais agradável do que tentar reparar erros futuros que serão pesarosos e irreversíveis.
Escrito por: Elaine Alem Brito, Advogada militante na Comarca de Sidrolândia (MS), presidente do INSTITUTO APASCENTAR, presidente do Conselho da Comunidade da Comarca de Sidrolândia (MS).