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Sidrolandia

Governos manifestam indignação com vazamento de arquivos secretos

"A função do jornalismo é questionar o poder", ressaltou nesta segunda-feira o fundador do Wikleaks, Julian Assange, que defendeu a divulgação dos arquivos.

AFP

26 de Julho de 2010 - 15:06

A divulgação de dezenas de milhares de arquivos secretos das forças americanas causou a indignação nesta segunda-feira de países que lutam no Afeganistão, por temor de que as vidas dos soldados estrangeiros que combatem os talibãs sejam colocadas em perigo.

Cerca de 92.000 documentos foram divulgados pelo site Wikileaks com detalhes inéditos da guerra no Afeganistão, retirados de arquivos do Pentágono e de relatórios da situação no teatro de operações, com datas que vão de 2004 a 2010.

"Os Estados Unidos condenam firmemente a divulgação de informações classificadas por parte de pessoas e organizações que poderão colocar as vidas de americanos e de nossos aliados em risco, e ameaçam nossa segurança nacional", disse o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, James Jones, em um comunicado de domingo.

A Grã-Bretanha indicou nesta segunda-feira que lamentava o vazamento, mas pediu ao Paquistão que desmantele todos os grupos militantes que operam em seu território.

"Lamentaríamos qualquer revelação não autorizada de material classificado", disse uma porta-voz de Downing Street. "A Casa Branca fez uma declaração. Não falaremos sobre documentos vazados".

Os documentos contêm, entre outras coisas, notas confidenciais da embaixada de Washington em Cabul, onde é expressada a preocupação com o que denunciam como uma crescente influência do Irã no Afeganistão, ressalta um resumo divulgado nesta segunda-feira pelo jornal britânico The Guardian.

"O Irã deu uma série de passos para expandir e aprofundar sua influência no Afeganistão", escreveu um militar de alto escalão em um documento secreto emitido pela legação diplomática e reproduzido pelo diário, que não pode confirmar a autenticidade dos "relatórios de ameaças" que vazaram.

Os informes, a maioria com base em testemunhos de espiões e informantes afegãos, sugerem que o Irã participa de uma campanha contra as forças internacionais lideradas pelos Estados Unidos no Afeganistão, por meio do fornecimento de dinheiro, armas e treinamento aos talibãs, acrescentou o The Guardian.

Teerã, que a princípio apoiou a ação liderada pelos Estados Unidos contra o regime dos talibãs no Afeganistão, rejeita as denúncias.

Por outro lado, a inteligência militar americana acusa o serviço secreto paquistanês (ISI) de trabalhar com insurgentes afegãos, segundo as novas revelações.

O material que vazou liga, por exemplo, o ISI à tentativa de assassinato do presidente afegão Hamid Karzai em 2008, aos ataques contra aviões da Otam e aos atentados contra a embaixada indiana em Cabul há dois anos.

O Paquistão foi um aliado próximo do regime talibã afegão (1996-2001) e os Estados Unidos acreditam que após a sua derrubada o ISI manteve as relações com os islamitas, esperando pelo momento em que as tropas internacionais se retirariam.

Em Berlim, o Ministério da Defesa, que tem cerca de 4.600 soldados no norte do Afeganistão, criticou o vazamento e indicou que estava revisando os arquivos, embora tenha acrescentado que muitas dessas informações não são novas.

"Obter e divulgar documentos, alguns deles secretos, em tal escala é uma prática altamente questionável, já que pode afetar a segurança nacional dos aliados da Otan e toda a missão da Otan", afirmou uma porta-voz do ministério.

De acordo com o Guardian, pelo menos 195 mortos civis estão registrados, um número "provavelmente subestimado porque vários eventos controversos são omitidos nos relatórios diários das tropas no terreno". A maior parte dessas mortes foi provocada por disparos de soldados nervosos em postos de controle.

"A função do jornalismo é questionar o poder", ressaltou nesta segunda-feira o fundador do Wikleaks, Julian Assange, que defendeu a divulgação dos arquivos. Assange disse em uma entrevista coletiva à imprensa que os relatórios de baixas civis no Afeganistão registrados nos documentos, podem ser evidência de que a coalizão pode ter cometido "crimes de guerra".