Sidrolandia
Médico classifica dores como "piti" e jovem morre 1 mês após parto
De acordo com declaração do rapaz, o parto foi bem-sucedido, mas no dia seguinte Francieli Gonçalves Colman, 25 anos, começou a reclamar de dores.
10 de Fevereiro de 2017 - 13:00
Inconformado e angustiado Otávio Franco Garcia, 23 anos, denuncia o drama e peregrinação em busca de socorro que vivenciou nos últimos dias para tentar salvar a esposa que recém havia dado à luz ao segundo filho do casal.
De acordo com declaração do rapaz, o parto foi bem-sucedido, mas no dia seguinte Francieli Gonçalves Colman, 25 anos, começou a reclamar de dores. Mesmo assim, recebeu alta médica, continuou com dores em casa, buscou por atendimento outras vezes, mas, sem confirmação sobre o problema que tinha, um mês depois de muito sofrimento acabou morta.
A jovem chegou a ser diagnosticada com depressão pós-parto e médico teria classificado reclamações de dores como ''piti''. No entanto, laudo da morte atestou como causa insuficiência respiratória e embolia pulmonar - que é condição em que uma ou mais artérias dos pulmões são bloqueadas por um coágulo sanguíneo. O episódio teve início no Hospital Regional de Ponta Porã e desfecho final no Hospital da Vida, em Dourados. Otávio acredita em negligência médica, por isso relatou o caso à polícia para investigação.
Em entrevista à reportagem, o rapaz conta que o primeiro capítulo de um roteiro que teria fim trágico começou no dia 29 de dezembro, um dia depois do nascimento do filho. A cesária foi às 8h do dia 28, sem nenhum problema. No outro dia, às 17h, quando fui visitar minha esposa ela reclamava de dores nas costas e no tórax. Fui embora e minha irmã ficou como acompanhante. Três horas depois, minha irmã me ligou dizendo que a Francieli gritava de dor. Fizeram exame de sangue e raio-x, mas nunca tivemos acesso ao resultado. Médicos diziam que não era nada, apenas depressão pós-parto, disse.
Ainda com dores, Francieli teve alta do hospital no dia 31 de dezembro, às 11h. O receituário prescrevia Dipirona como única medicação, segundo o marido. Já no dia 16 de janeiro, a jovem chegou a sofrer desmaio por causa de outra forte crise de dores. Foi levada para o mesmo hospital e depois de consulta rápida, foi liberada e orientada a tomar Torsilax e Paracetamol. O médico não fez nenhum exame. Nem para verificar o batimento da minha esposa e a liberou para voltar para casa, relembrou Otávio.
No dia 22, o estado de saúde de Francieli evoluiu para falta de ar. Coloquei ela no meu carro e levei para o hospital. Fizeram nela duas inalações seguidas e ela só piorou. O coração começou a acelerar demais e ela foi induzida ao coma para drenar o pulmão. Para se verem livre do problema, transferiram minha esposa para o Hospital da Vida em Dourados. Mas já era tarde. Depois disso, ela nunca mais acordou, lamentou.
Francieli permaneceu na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da unidade hospitalar e não pode fazer exame para confirmar a embolia pulmonar porque não podia ser retirada dos aparelhos. Começaram a tratar embolia e infecção porque precisavam fazer alguma coisa para tentar salvá-la, mas ela teve hemorragia na hora da hemodiálise e só piorou, desabafou Otávio.
Franciele morreu no fim da madrugada do dia 30 de janeiro, nove dias depois de respirar com ajuda de aparelhos, e o atestado de óbito mostrou a confirmação que antes não havia tido: a causa da morte foi embolia pulmonar. Diante da situação, o marido está revoltado.
Vou recorrer à Justiça. Minha mulher passou por uns oito médicos. Como nenhum suspeitou sobre o que ela tinha. É só digitar na internet que a gente encontra os sintomas que ela tinha relacionados à gravidez. Fizeram a gente acreditar que fosse depressão. Depois que a Francieli morreu, fui procurar e achei a informação. Será que são tão leigos assim?, questionou.
Hoje, o filho recém-nascido do casal tem 1 mês e meio e outro filho deles, quatro anos. Como vou criá-los? Perdi meu emprego para cuidar dela. Não temos familiares que possam nos ajudar onde moramos, lamentou o rapaz.
INVESTIGAÇÃO
O caso foi levado ao conhecimento policial no começo desta semana, somente após Otávio ter sido instruído pela Associação de Vítimas de Erros Médicos. Inicialmente, a apuração foi feita pelo delegado Patrick Linares, que não descarta exumação do corpo.
Vamos esgotar as provas que temos de imediato. Vamos analisar o prontuário, ouvir profissionais e outras pessoas envolvidas. No caso de alguma dúvida extrema, poderemos pedir a exumação do corpo. O caso ainda está recente e não tem como afirmar se foi erro médico, citou o delegado.
A reportagem tentou falar no hospital de Ponta Porã, mas ligações não foram atendidas. No Hospital da Vida, em Dourados, foi confirmada a internação da paciente, mas a direção não posicionou-se sobre o caso.