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Sidrolandia

Mercosul é tema de reflexões em abertura do 1º Fórum Regional de Relações Internacionais

De acordo com o docente da UNB, o Brasil concentra 75% do PIB dos países do Mercosul, tem metade da população e do território da região

Dourados Agora

07 de Novembro de 2014 - 16:17

Marisa Serrano, conselheira do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso do Sul e o professor da Universidade de Brasília, Roberto Goulart Menezes, foram os palestrantes que compuseram a mesa de abertura do 1º Fórum Regional de Relações Internacionais do Centro-Oeste.

O evento está acontecendo na Universidade Federal da Grande Dourados até este sábado, dia 8 de novembro, e é organizado pelo Conselho Institucional dos Estudantes de Relações Internacionais (CIERI).

Marisa Serrano, foi deputada federal entre 1995 e 2002 e senadora de 2007 a 2011. Nos seus mandatados na Câmara Federal, esteve envolvida com temas ligados à área de educação e também foi representante do Brasil no Parlamento do Mercosul (Parlasul). A conselheira do TCE teceu explicações sobre o funcionamento do Parlasul e destacou seu importante papel de representar os interesses das populações dos países da América do Sul.

Entre outros temas importantes, o Parlasul é responsável, por exemplo, por debater os direitos das pessoas que emigram para trabalhar em países da região; em pensar estratégias para promover e melhorar a assistência em saúde nos municípios fronteiriços; em avaliar a transparência e idoneidade das eleições; em falar de políticas públicas para garantir a segurança dos moradores das cidades da faixa de fronteira. “Essas questões mostram a importância do Parlasul, este parlamento representa as pessoas, as populações desses países, é o porta-voz do povo do Mercosul”, enfatizou Marisa Serrano.

Na opinião da ex-senadora, o Parlasul tem sido esvaziado, tendo realizado apenas três reuniões neste ano apesar de ter um estatuto que estabelece assembleias mensais. Ela também afirmou que as decisões tomadas no Parlasul têm pouco impacto nos governos dos países do Mercosul, havendo muitas iniciativas e propostas que ficam apenas no papel. Ela exemplificou mencionando obras que são consideradas imprescindíveis para o desenvolvimento da infraestrutura e fortalecimento da economia dos países da América do Sul, como a Rota Bioceânica e a hidrovia Paraguai-Paraná.

Por fim, Marisa Serrano teceu críticas ao governo federal, afirmando que a política externa tem que ser uma política de Estado, sendo discutida com o povo do país, e visando os interesses nacionais. Ela condenou a postura do governo em marginalizar países desenvolvidos como os Estados Unidos, que são desenvolvedores de tecnologias e potenciais mercados consumidores.

Ao fazer uso da fala, o professor Roberto Goulart fez uma palestra rica em referências, com diversos números e estatísticas sobre as relações comerciais do Brasil e de outros países. Ele ainda elencou uma série de autores das áreas de Relações Internacionais e da Economia, para defender a ideia de que o Brasil não tem um papel de líder do Mercosul, mas de parceiro estratégico no desenvolvimento regional.

“O Brasil não assume o papel de liderança, quando pensamos liderança associada a ideia de exercer hegemonia sobre os demais países. A diplomacia brasileira vem adotando, desde o governo FHC, a postura de responsabilidade diferenciada diante dos demais países da América Latina”, analisou.

De acordo com o docente da UNB, o Brasil concentra 75% do PIB dos países do Mercosul, tem metade da população e do território da região. Portanto, é inegável que há uma relação assimétrica entre esses países. Estando em posição privilegiada, o Brasil obviamente é um país influencia a região – mas, conforme destacou o professor, este poder de influência é utilizado para infundir a ideia de cooperação, exercendo aquilo que teóricos chamam de soft power.

Roberto afirmou que os países do Mercosul têm baixo poder infraestrutural, pois não conseguem mobilizar os recursos do Estado para promover bem-estar aos cidadãos. Ele concordou com Marisa Serrano no que concerne à dificuldade de os países concretizarem as decisões tomadas no Mercosul e no Parlasul, e assinalou a deficiência em investimento nas áreas de energia, transporte e telecomunicações.

Conforme Roberto, se esses países têm carências estruturais e o Brasil é visto como liderança regional, nada mais correto seria investir em infraestrutura na região. Contudo, isso fica inviabilizado pelas necessidades internas do país. “Como a Câmara Federal vai aprovar investimento em infraestrutura no país vizinho, sendo que cada parlamentar brasileiro sabe de deficiências nas estradas, nas escolas, nos hospitais da sua região?”, questionou.

Por fim, o professor citou dados da balança comercial e informações sobre as exportações brasileiras, para defender o argumento de que o Brasil não é um país generoso com os seus vizinhos e parceiros comerciais do Mercosul, não fazendo nenhum investimento ou empréstimo sem garantia de retorno concreto a curto e médio prazo.

Mais informações sobre o 1º Fórum Regional de Relações Internacionais do Centro-Oeste: https://www.doity.com.br/frri-co/