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Sidrolandia

Na audiência assentados reclamam da falta de crédito, água e energia para ampliar produção

Em síntese, testemunhos da falta de investimentos por parte do Incra que ainda continua com suas atividades travadas, em função do contingenciamento dos recursos.

Flávio Paes/Região News

23 de Setembro de 2013 - 08:39

Foto: Rafael Brites/Região News

Na audiência assentados reclamam da falta de crédito, água e energia para ampliar produção

Audiência Pública

Na ausência de estrelas regionais petistas, dirigentes do Incra, Ministério Desenvolvimento Agrário, Banco do Brasil e lideranças dos próprios movimentos sociais, a audiência pública realizada sexta-feira à noite na Câmara Municipal de Sidrolândia, abriu aos assentados  a oportunidade de detalhar as dificuldades que enfrentam para tornarem seus lotes produtivos. 

Relataram situações daqueles  que embora estejam há 10 anos nas áreas,  ainda não tiveram acesso ao financiamento do Pronaf, sofrem com o racionamento de água porque a rede não foi bem planejada. Aonde a energia elétrica já chegou a carga disponível é insuficiente para construção de novos aviários (caso do Capão Bonito) ou a instalação de uma ordenhadeira mecânica (situação verificada no João Batista).

Em síntese, testemunhos da falta de investimentos por parte do Incra que ainda continua com suas atividades travadas, principalmente, em função do contingenciamento dos recursos. Motivadas pela fala do engenheiro agrônomo da Agraer, Ivan Oliveira Santos, que por 10 minutos pontuou de forma genérica os gargalos enfrentados pelos assentados, os agricultores não se intimidaram diante do microfone e expuseram as dificuldades.

Pelas famílias do Eldorado se pronunciaram Sidnei da Costa Oliveira e João Francisco Pereira da Silva, ambos do Núcleo João Batista, que compreende 208 famílias. Como o grupo não é vinculado a nenhum movimento social (Fetagri, MST, CUT ou FAF) o grupo se sente discriminado pelo Incra.

“Já temos energia elétrica e conseguimos concluir com R$ 7 mil a construção das casas de 50 metros quadrados. Mesmo assim ainda não recebemos o DAP (Declaração de Aptidão do Produtor) que permite o acesso aos recursos do Pronaf”,  comenta João em tom de  desabafo.  A promessa é de que nos próximos dias sairão as primeiras 87 DAPS.

Sem o crédito do Pronaf  para viabilizar a compra de vacas leiteiras, construção de mangueiros, o leite ordenhado é quase só para subsistência ou para produção caseira de queijo. “Quem consegue melhor resultado produz diariamente 20 litros de leite. A produção é tão baixa que o resfriador comunitário com capacidade para 2.500 litros, o máximo que atingiu foram 250 litros”, admite Sidnei da Costa.

Outra dificuldade do João Batista é o abastecimento. “Fizeram a rede de água com um erro de projeto porque o poço ficou na parte mais baixa do assentamento. Resultado, a água não chega na região mais alta porque falta pressão”, conta Francisco Pereira que observa: “O mais revoltante é o fato de tudo ter sido feito com a supervisão de funcionários do Incra que não fizeram nada para corrigir o problema”.

Resultado: hoje o consumo por família está limitado a 2 mil litros diários, abrangendo consumo da casa e dos animais. Ele defende a perfuração de mais poços e a instalação de outros reservatórios. Mesmo em assentamentos mais antigos como o  São Pedro e o Capão Bonito. Segundo Ivori Jacomin e Agnaldo Cáceres, do Capão Bonito 1, a demora da escrituração dos lotes inviabilizou, por exemplo, a instalação de mais 21 aviários em sistema de parceria com  a Seara.

“Estamos de mãos e pés amarrados. Recebemos em 2001 um documento do Incra que não serve para nada na hora de obter um financiamento”. Outra dificuldade que trava o incremento da produção é a energia elétrica que é monofásica. “Esta carga não permite a instalação de novos aviários e até uma ordenhadeira mecânica”, explica Agnaldo.

A Enersul exige uma contrapartida de R$ 20 mil, por assentado, para fazer rede bifásica ou trifásica. Técnico agrícola, filho de assentado, Itamar Souza Silva, acha que esta nada hora dos assentados voltarem às ruas para pressionar o Governo.

“Não é possível que haja tantas famílias no Eldorado, no Barra Nova ainda sem DAP. Esta demora é porque no Incra só há um funcionário, o Carlão, responsável pela emissão das Declarações de Aptidão do Produtor. Sem a DAP não há projeto de assistência técnica, não há recursos do Pronaf”, explica.