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Sidrolandia

Prefeitura de Três Lagoas superfatura marmitex e servidores jogam comida no lixo

Midia Max

14 de Agosto de 2012 - 11:00

A prefeitura de Três Lagoas – distante a 338 km de Campo Grande – tem licitado por meio de carta convite, marmitex para servidores do Pronto Atendimento e Samu em valor muito acima do que é realmente fornecido aos funcionários. Ao contrário da justificativa da prefeita Márcia Moura (PMDB), de que os valores que sobram seriam utilizados para prorrogação de tempo dos contratos, as publicações em diário oficial mostram que há acréscimo de dinheiro.

Apesar do alto preço pago pela prefeitura, os servidores denunciam que há quatro anos reclamam da falta de qualidade da comida, que acaba sendo jogada no lixo. Os funcionários do Samu disseram que quase todos os dias é preciso jogar a comida fora porque “ela é imprópria para consumo humano”.

“A prefeita sabe. Já foram feitas várias reuniões com ela onde nós já dissemos que a comida é ruim. Há pelo menos quatro anos a gente reclama. Semana passada ela esteve aqui, pedindo voto e nós falamos de novo que poderia ser um ticket alimentação, mas ela disse que vai ver uma proposta para o ano que vem, porque esse ano é de eleição. Enquanto isso a comida continua indo pro lixo”, declarou um funcionário do Samu que pediu para não ser identificado.

No início do ano, o vereador Jorge Martinho (PSD), havia denunciado o superfaturamento. Com isso a prefeita Márcia Moura foi à rádio difusora dizer que “tudo o que assinamos é verdadeiro e o que foi levantado pelo vereador não procede”.

Além de entrevistar diretamente os beneficiários, a reportagem do Midiamax também ouviu a versãodo do fornecedor da comida.

Marcos Antonio de Castro Alves – conhecido como Marquinhos e candidato a vereador em Três Lagoas - se apresentou como responsável pelo fornecimento dos marmitex, mesmo com a empresa Colinos Ltda tendo como responsável nos contratos a filha dele, Daniella de Castro Alves. Sem citar o nome de Daniela, informou a princípio que ele já não faz o fornecimento há uns quatro meses, o qual passou para seu sócio Marcos Vinícius, “genro do Orestinho” (Orestes Prata, pecuarista).

“Vendi uma padaria minha e passei a marmitaria pra fazer no Marcão. Ele é sócio meu, mas só na marmita. As denúncias que aparecem é porque eu sou amigo da Simone (Tebet), do Walmir (Marques Arantes – secretário de finanças), e isso apareceu só no dia que o Eduardo (Rocha) falou que eu ia sair vereador, ai minha marmita é estragada”, declarou.

Pelos cálculos feitos por “Marquinhos”, somente no Pronto Atendimento, por mês são fornecidos R$ 7,2 mil em marmitex. “No meio da semana são 25 por dia, ou 125 durante a semana. No final de semana são 46 no sábado e mais 46 no domingo, que dá 92. Fazendo a conta são 868 marmitex só para o Postão, no mês, a R$ 8,40 cada, o que dá R$ 7.291,20”, contabilizou, sem mencionar a quantidade enviada para o Samu.

Mesmo assim, o valor multiplicado por quatro meses é de R$ 29,1 mil, que é muito inferior ao valor da licitação, que totaliza R$ 78.960,00. A diferença é de R$ 49,8 mil. “Estou entregando uma mixaria de marmita e eles ainda dizem que eu faturei superfaturado. Os diretores atestam a quantidade que chega e eu só recebo pela quantidade que eu vendo e depois de já ter entregue a comida”, ressaltou Marcos.

Outro fornecedor de marmitex para as indústrias de Três Lagoas, mais exigentes quanto à qualidade, cobra R$ 7,50 por unidade.

Servidores recebem marmitex em menor número e diferença chega a mais de R$ 109 mil

Os servidores que trabalham no Pronto Atendimento e no Samu informaram uma quantidade inferior de marmitex que a dita por Marcos Antônio, o que dá uma diferença de mais de R$ 109 mil. Os funcionários do Pronto Atendimento que preferiram não se identificar por medo de represálias, disseram à reportagem que durante a semana são entregues um ou dois marmitex de dia e 20 marmitex à noite - o que dá 88 unidades por semana.

Já nos finais de semana, no sábado seriam 20 no almoço e outros 20 no jantar e no domingo a mesma coisa, totalizando 80 unidades. Somado, o número de marmitex chega a 704 por mês, que ao custo de R$ 8,40 sai por R$ 6.384,00 por mês. Como o período do contrato é de quatro meses, o valor deveria ser de R$ 25,5 mil.

Entretanto, consta publicado em diário oficial o contrato nº 034/2012 entre a prefeitura e a Panificadora Colinos o valor de R$ 78.960,00, “para fornecimento de refeições de funcionários do Pronto Atendimento por quatro meses”.

O montante dá uma diferença de mais de R$ 53,4 mil. Além do número reduzido, os funcionários afirmam que antes das denúncias feitas pelo vereador no início do ano, a comida ainda chegou azeda ou estragada por algumas vezes.

No Samu a informação também demonstra uma quantidade reduzida. Os servidores disseram que durante a semana, de dia são entregues oito marmitex e a noite mais 14, o que dá 22 por dia. Ou 110 por semana. Já aos finais de semana são 14 no almoço e outros 14 no jantar, totalizando 28 por sábado e mais 28 por domingo.

Com isso, por mês o Samu recebe 664 marmitex, que ao custo de R$ 8,40 a unidade sairiam por R$ 5.577,60 mensais. Esse valor comparado ao contrato nº 5.693/2011, entre a prefeitura e a padaria Colinos, que é de quatro meses, deveria ser de R$ 22,3 mil, mas no documento constam R$ 78.960,00, o que dá uma diferença de R$ 56,6 mil.

Prefeita disse em entrevista de rádio que “os marmitex são muito bons”

A reportagem teve acesso a uma entrevista de rádio em que a prefeita Márcia Moura afirma que os marmitex são muito bons e que a equipe está aberta ao diálogo, caso os servidores não estejam satisfeitos.

Ela diz que tudo o que chega é atestado pelos chefes, que não assinariam inverdades. Contudo, na hora do almoço a reportagem não encontrou nenhum chefe, tanto no Pronto Atendimento quanto no Samu, que atestasse os recebimentos. As assinaturas atestando são de Gisele Gonçalves B. Meneguzzo e Carlos Eduardo, ambos lotatos na prefeitura.

Durante o programa da rádio difusora a prefeita foi questionada sobre o fato de o valor gasto não atingir o total licitado. A explicação dada por ela foi de que o contrato é um tipo de compra “guarda chuva.” Todavia, os documentos deixam claro que cada contrato especifica quais são as unidades atendidas, sendo um exclusivo para o Pronto Atendimento e outro exclusivo para o Samu, cada um deles no valor de R$ 78.960,00.

“Não é só para o Pab (Pronto Atendimento). Ele abraça uma série de outras situações da saúde, inclusive o projeto Saúde para a Comunidade. Esses mesmos documentos favorecem as pessoas que estão nas ruas buscando servir a população. Então vá ate o local e pergunte para os servidores se eles não estão tendo isso?”, destacou Márcia Moura.