Sidrolandia
Suíça liberta Roman Polanski
A vítima teria estado bêbada e sob efeito de drogas. Polanski que receberia, em setembro, uma homenagem em um festival suíço de cinema
Correio Braziliense
13 de Julho de 2010 - 08:10
Se no Dicionário de Cinema o acadêmico autor Jean Tulard hesita entre definir o berço criativo do cineasta Roman Polanski entre a Polônia, França, Reino Unido, Estados Unidos e Itália (os infortúnios da vida privada calibram com dimensão trágica o cosmopolistimo, enfatiza a publicação), ao menos a Justiça suíça tomou a decisão prática. Detido em 26 de setembro passado, ao desembarcar no aeroporto de Zurique, o diretor franco-polaco não será mais extraditado para os Estados Unidos e teve a restrição de liberdade suprimida. A libertação põe fim à prisão domiciliar atribuída ao cineasta premiado com o Oscar de melhor diretor por O pianista. Vítima do Holocausto e do trauma do brutal assassinato da mulher, Sharon Tate, Polanski está com 76 anos. Ele é acusado de abusar sexualmente de uma menor nos Estados Unidos.
Sem direito a apelar da sentença, representantes da Justiça dos Estados Unidos não reverterão o quadro judicial do cineasta que, ainda ao fim da década de 1970, aos 43 anos, fugiu do país, prestes a ser condenado por ter mantido relações sexuais com uma garota de 13 anos, em 1977. A vítima teria estado bêbada e sob efeito de drogas. Polanski que receberia, em setembro, uma homenagem em um festival suíço de cinema pagou fiança de US$ 4,5 milhões e cumpria prisão domiciliar em um chalé de Gstaad (nos Alpes Suíços).
Já sem o bracelete eletrônico (de controle prisional), usado por quase oito meses, o cineasta ouviu que a ministra da Justiça Eveline Widmer-Schlumpf baseou as deliberações no fato de que não foi possível excluir, com a certeza necessária, um erro no pedido de extradição feito pelos Estados Unidos. Por meio do advogado Hervé Temime, Polanski agradeceu ontem com um imenso obrigado a todos que o apoiaram e avisou que não fará declarações sobre a decisão da Justiça suíça. O Departamento de Justiça dos EUA reagiu anunciando sua decepção com a Suíça ante a recusa à extradição. Estamos decepcionados com isso. A violação de menor por um adulto deve ser considerada crime. Continuaremos em busca de justiça, disse o porta-voz Philip Crowley.
Lacunas
Declarado culpado em Los Angeles, Polanski que morou na França até 2009 é considerado fugitivo da Justiça desde 1978. Lacunas na documentação solicitada por suíços aos EUA motivaram a libertação do cineasta. O clima de confiança estabelecido entre Polanski e o Estado suíço desde 2006, quando ele adquiriu o chalé, atenuou a situação. O encaminhamento do caso surpreendeu, dados os recentes rumores de uma possível extradição em breve. Samantha Geimer, a vítima (hoje casada e com 46 anos), sempre tem se desinteressado pelo prosseguimento do calvário judicial. O advogado dela chegou a declarar que, cada vez que era trazida à tona, a história causava danos à cliente. O defensor de Polanski e os embaixadores dos Estados Unidos, da França e da Polônia na Suíça receberam informações mais detalhadas sobre a avaliação judicial suíça.