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Policial

Estudo liga contrabando à violência e pobreza em quatro cidades de MS

Os índices revelados pela pesquisa estão, segundo o Idesf, muito abaixo da média nacional e de centros urbanos, como Rio de Janeiro e São Paulo.

Campo Grande News

27 de Outubro de 2016 - 16:27

Mato Grosso do Sul tem quatro das 120 cidades brasileiras que ficam na fronteira com países da América do Sul e sofrem com a violência e o subdesenvolvimento por causa do contrabando. Os dados fazem parte de uma pesquisa inédita feita pelo Idesf (Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras), divulgada hoje (27).

Coronel Sapucaia, Mundo Novo, Paranhos e Ponta Porã, todas na fronteira com o Paraguai, assim como as outras 116 cidades onde a pesquisa foi feita, apresentam PIB per capita abaixo da média nacional, baixos índices de escolaridade e empregabilidade, além de taxas altíssimas de homicídios, segundo o estudo.

Os índices revelados pela pesquisa estão, segundo o Idesf, muito abaixo da média nacional e de centros urbanos, como Rio de Janeiro e São Paulo. Os dados foram apresentados hoje, durante a 3ª edição do Seminário Fronteiras do Brasil, realizado em Foz do Iguaçu (PR).

Luciano Barros, presidente do Idesf, disse que os resultados mostram que o contrabando tem efeitos negativos sobre a economia das cidades. “Mesmo em locais como Foz do Iguaçu, que tem uma economia mais diversificada que as outras cidades, o crime do contrabando causa à população sofrimentos severos”, afirmou.

Os cinco principais – Conforme o estudo do Idesf, além de Foz, outros cinco municípios se destacam como os principais entrepostos de mercadorias contrabandeadas que entram no Brasil: Coronel Sapucaia (MS), Guaíra (PR), Mundo Novo (MS), Paranhos (MS) e Ponta Porã (MS).

Segundo a assessoria do Idesf, a média do PIB per capita desses municípios ficou abaixo de R$ 20 mil em 2013 (somente Foz do Iguaçu alcançou média acima de R$ 37 mil), enquanto o PIB per capita médio do brasileiro ficou acima de R$ 26 mil.

Em comparação com regiões mais desenvolvidas, os seis municípios não alcançam nem 50% do PIB per capita de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo.

“Quando se trata do volume de recursos arrecadados pelos seis municípios, observa-se a existência de uma enorme dependência dos governos estaduais e federal, que está sempre acima de 50%. Isso contribui para torná-los muito vulneráveis em momentos de dificuldades financeiras da União ou dos Estados, pois todos eles possuem uma taxa de dependência alta, que chega a mais de 90% no caso de Coronel Sapucaia”, afirma nota do Idesf.

Desemprego – Ainda de acordo com o estudo, o impacto do contrabando nessas cidades – quatro de MS e duas do Paraná – influencia na oferta de empregos.

Com exceção de Foz do Iguaçu, todos os demais municípios possuem taxa de emprego inferior a 25% da população economicamente ativa. A média brasileira é de 35%.

De acordo com o estudo do Idesf, o contrabando também afeta o rendimento escolar. Todos os analisados apresentam taxas de aprovação inferiores à média brasileira de 89,2% para o ensino fundamental e 80,3% para o ensino médio.

Coronel Sapucaia e Paranhos, os dois municípios que possuem os menores índices de empregos, também são os que apresentam as maiores taxas de abandono no ensino fundamental.

Violência – Com pouco investimento em segurança pública, as cidades arrasadas pelo contrabando convivem com altos índices de violência, segundo o estudo;

Os índices de homicídios por 100 mil habitantes chegam a ser cinco vezes superiores aos de uma cidade como o Rio de Janeiro. É o caso de Coronel Sapucaia, a 400 km de Campo Grande.

Em Guaíra, o que chamou a atenção na elaboração do estudo foram os números de mortos por armas de fogo. Foram registradas 62,13 mortes a tiros por 100 mil habitantes, contra 9,14 na cidade de São Paulo.

Luciano Barros afirma que de maneira geral os indicadores de todas as 120 cidades fronteiriças são inferiores à média nacional, demonstrando a necessidade urgente de políticas públicas específicas para a região de fronteira por parte dos governos.

“Essas são regiões isoladas e com poucas oportunidades em termos de emprego e geração de renda. E não é difícil observar que os problemas se agravam, e muito, nas cidades que também têm de enfrentar a mazela do contrabando”, afirmou Barros.

Segundo o presidente do Idesf, é preciso uma atuação forte para combater a ilegalidade, além de políticas de desenvolvimento local e investimentos em educação e saúde.