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Brasil

Rubem Fonseca, escritor que renovou a literatura brasileira no século 20, morre aos 94 anos

Ele sofreu um infarto nesta quarta e foi levado ao Hospital Samaritano, mas não resistiu. Com estilo direto e seco, autor lançou livros clássicos, como os volumes de contos 'Lucia McCartney' e 'Feliz ano novo', além dos romances 'O caso Morel' e 'Agosto'.

G1

15 de Abril de 2020 - 15:29

Rubem Fonseca, escritor que renovou a literatura brasileira no século 20, morre aos 94 anos

O escritor Rubem Fonsecaque renovou a literatura brasileira no século 20 com uma linguagem coloquial e direta, morreu nesta quarta-feira (15), aos 94 anos, no Rio. Contista, romancista e roteirista, ele influenciou gerações de escritores e leitores.

Segundo familiares, Rubem Fonseca sofreu um infarto e foi levado ao Hospital Samaritano, em Botafogo, na Zona Sul, mas não resistiu. Até a última atualização desta reportagem, não havia informações sobre velório ou enterro.

Dentre seus principais livros, estão os clássicos volumes de contos "Lucia McCartney" (1967), "Feliz ano novo" (1975) e "O cobrador" (1979), além dos romances "O caso Morel" (1973), "A grande arte" (1983) e "Agosto" (1990).
Marcada por um estilo urbano, violento, seco, erótico, repleto de palavrões e sem artifícios, a literatura do escritor era classificada como "brutalista" pelo crítico Alfredo Bosi.

Dentre os principais prêmios que o autor recebeu, estão o Camões, em 2003, e o Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras (ABL), em 2015.

Na época em que anunciou o prêmio, a instituição disse que o autor "consagrou-se por sua narrativa nervosa e ágil, ao mesmo tempo clássica e moderna, entre o realismo e o policial, revelando a violência urbana brasileira, sem perder o olhar sensível para a tragédia humana a ela subjacente, a solidão das grandes cidades ou para os matizes do erotismo".

"Seu estilo contido, irônico e cortante, ao mesmo tempo denota um leitor dos clássicos e um ouvido atento ao falar das ruas em seu tempo. Exerceu profunda influência em nossa cena literária, inaugurando a tendência que Alfredo Bosi chama de 'brutalista'", continuou o comunicado.

Na juventude, Rubem Fonseca trabalhou como comissário de polícia, função que influenciaria em sua obra, que em muitas momentos retratou o cotidiano e personagens do submundo.

Recluso, avesso a eventos públicos e considerado um dos maiores nomes da nossa literatura, o autor era conhecido por ser, na intimidade, uma pessoa divertida e respeitosa, como lembrou a escritora Nélida Piñon em entrevista à GloboNews para comentar a morte do amigo.

Biografia

Nascido em Juiz de Fora (MG) em 11 de maio de 1925, José Rubem Fonseca mudou-se para o Rio aos 8 anos de idade.

Em 1948, formou-se em Direito Forma-se na Faculdade de Direito da Universidade do Brasil. Em 1952, passou a trabalhar como comissário no no 16º Distrito Policial, em São Cristóvão, no Rio. Ficou na polícia até 1954.

Na década seguinte, prestou serviços para o Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (Ipes), vinculado ao golpe militar de 1964. Mais tarde, ele negou que tivesse apoiado o regime.

Em 2015, ao receber o Prêmio Machado de Assis, pelo conjunto da obra, Rubem Fonseca citou seu livro de estreia, escrito aos 17 anos.

Ele também falou sobre como a obra chocou o primeiro editor a quem ela foi oferecida. O "problema" teria sido, justamente, a presença de palavrões no texto (assista, no vídeo acima, a um trecho do discurso).

Questionado sobre o fato de Machado de Assis e Eça de Queiroz, algumas de suas inspirações, não usarem palavrões em seus textos, Fonseca afirmou que as palavras não devem ser discriminadas.

"Eu escrevi 30 livros. Todos cheios de palavras obscenas. Nós, escritores, não podemos discriminar as palavras. Não tem sentido um escritor dizer: 'Eu não posso usar isso'. A não ser que você escreva um livro infantil. Toda palavra tem que ser usada", disse.