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ECONOMIA

Agro quer aproveitar COP30 para captar financiamento externo

Documento inédito da Embrapa, com forte participação de Mato Grosso do Sul, será apresentado na COP30 para mostrar o agronegócio sustentável brasileiro e atrair bilhões em financiamento internacional.

Correio do Estado

20 de Setembro de 2025 - 09:49

Agro quer aproveitar COP30 para captar financiamento externo
Pecuária pantaneira será vitrine de produção sustentável de alimentos durante a COP30 da ONU, realizada no Pará - Foto / Divulgação

Um documento envolvendo as 43 unidades da Embrapa no Brasil está sendo construído com o objetivo de servir como alavanca para o setor do agronegócio ter subsídios para solicitar financiamento internacional durante a COP30, que acontecerá em Belém (PA), em novembro.

Em Mato Grosso do Sul, as unidades da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados), Embrapa Gado de Corte (Campo Grande) e Embrapa Pantanal (Corumbá) estão contribuindo diretamente nesse estudo inédito, que será apresentado em Belém a financiadores do primeiro mundo.

A construção dessa estratégia foi revelada pelo ex-ministro da Agricultura e Enviado Especial para a Agricultura na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, Roberto Rodrigues, durante o evento Ação Cidadania, realizado no Rio de Janeiro, pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS), no fimde agosto.

O Correio do Estado foi o único veículo de imprensa de Mato Grosso do Sul a participar da programação, preparatória para a COP30.

Com o tema “A contribuição da agricultura regenerativa tropical para a agenda de transformação da Agricultura e dos Sistemas Alimentares”, Roberto Rodrigues, de 82 anos, discutiu o tema em conjunto com Pedro Neto, secretário de Produção Sustentável e Irrigação no Ministério da Agricultura e Pecuária.

“A Embrapa é a alavanca para o Brasil. Nesse documento vamos mostrar o que está sendo feito no Brasil e mostrar que isso é replicável para outras zonas tropicais, isso é na América Latina, na África Subsaariana, parte da Ásia. E para conseguir prosseguir com esse processo precisamos de financiamento internacional. Vamos mostrar o que é possível fazer e mostrar isso para o mundo inteiro, e convidar o mundo desenvolvido para ajudar a financiar isso”, afirmou o Roberto Rodrigues em entrevista exclusiva para o Correio do Estado.

Ele ainda ponderou que entre os temas que o documento vai apontar estão as iniciativas desenvolvidas pela Embrapa e praticadas pelo agronegócio para agir diretamente contra problemas graves presentes no mundo.

“Nós estamos montando um documento que vai mostrar ao mundo sobre tudo o que está sendo feito no Brasil com base na ciência e na tecnologia. E isso para combater os quatro cavaleiros do apocalipse: insegurança alimentar, deficiência na produção energética, efeitos das mudanças climáticas e desigualdade social”, continuou o enviado especial da Agricultura para a COP30.

De acordo com Rodrigues, em 50 anos, os estudos da Embrapa fizeram com que o agronegócio conseguisse evoluir de forma sustentável. No caso do Pantanal, a empresa pública possui uma série de publicações e pesquisas sobre o uso do solo, desenvolvimento de gramíneas e projetos para recuperar áreas degradadas, como é o caso do Rio Taquari.

Também tem um projeto que estará nesse documento que envolve a implantação da metodologia de Fazenda Pantaneira Sustentável (FPS) para equalizar custos e garantir conservação. No total, 70 fazendas em Mato Grosso estão no radar para implantação da metodologia, que se utiliza de uma plataforma de dados e alto uso de ciência, além de outras nove em Mato Grosso do Sul.

A pecuária pantaneira é responsável por fornecer mais de 2 milhões de cabeças de gado para o Brasil, principalmente com rebanho formado por Nelore, Tabapuã e Brahman, além de cruzamentos como Brangus e o Angus x Nelore.

“No Pantanal, a vocação principal está na cria: os bezerros são desmamados e, na maioria, encaminhados para outras áreas, principalmente do Cerrado, onde passam pela recria e a engorda”, explicou o pesquisador José Comastri.

Mato grosso do sul no centro da revolução

O enviado especial Roberto Rodrigues destacou que sobre defender o agronegócio com base na ciência para pleitear financiamentos internacionais, a Embrapa colocou Mato Grosso do Sul como “laboratório” mais avançado de agricultura sustentável do Planeta. Essa proposta envolve liderar o crescimento econômico nacional em paralelo da neutralidade de carbono.

O PIB estadual mostra crescimento de 6,86% para este ano, chegando a R$ 227,8 bilhões, conforme estimativa da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc).

Em 2023, o agronegócio em MS apresentou o maior crescimento do País, com 32% de evolução, conforme Resenha Regional do Banco do Brasil. Outros gigantes cresceram menos, como Mato Grosso (23,5%) e Paraná (22,9%).

Em termos de safra 2024/2025, 75,3 milhões de toneladas de grãos foram produzidos em 7,4 milhões de hectares, sendo que quase integralmente essa produção veio do Cerrado.

“A aprovação da proposta sul-mato-grossense pela Embrapa confirma algo que já suspeitávamos: MS desenvolveu um modelo de desenvolvimento sustentável que desperta interesse internacional. Não é coincidência que o Estado tenha atraído investimentos bilionários nos últimos anos, posicionando-se como destino preferencial de empresas que buscam aliar competitividade com responsabilidade ambiental”, divulgou a Embrapa, em nota.

Durante a COP30, esses resultados estarão expostos na área chamada AgriZone. “Terras no Cerrado, há anos atrás, eram detestadas. Havia o ditado que ‘nem dado nem herdado, Deus me livre’. Hoje, virou o Maracanã para a Copa do Mundo da alimentação. E por que isso? Porque a tecnologia dominou o Cerrado. Nós queremos mostrar que a agricultura regenerativa que o Brasil desenvolveu é um aliado no combate ao aquecimento global”, defendeu Rodrigues.

Em termos de destino para financiamento internacional, Mato Grosso do Sul possui alguns fundos como o Fundo Estadual de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (ProClima) e o Fundo Pantanal, que ainda não atraíram o dinheiro estrangeiro. Porém, há expectativa para novos rumos após o que virá com a COP30.

“Talvez a maior conquista de Mato Grosso do Sul seja ter provado que a revolução climática não precisa ser disruptiva para ser transformadora. Não foi necessário abandonar o agronegócio para abraçar a sustentabilidade. Foi preciso reinventá-lo. Será o momento para demonstrar que a solução para os desafios climáticos pode estar mais próxima do que imaginamos – às vezes, bem no centro do continente sul-americano, onde o Pantanal encontra o Cerrado”, afirmou o chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Agropecuária Oeste, Rafael Zanoni Fontes.

Entre 10 a 21 de novembro está o prazo para vender esses resultados para o mundo e aguardar como será as ofertas.