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ECONOMIA

China adia decisão sobre importações de carne bovina e traz alívio ao agro brasileiro

Prorrogação da investigação para novembro permite manutenção das exportações brasileiras, enquanto governo busca dissipar tensões comerciais.

Folha de Campo Grande

07 de Agosto de 2025 - 14:52

China adia decisão sobre importações de carne bovina e traz alívio ao agro brasileiro
Os frigoríficos brasileiros embarcaram mais de 641 mil toneladas nos primeiros seis meses de 2025, um crescimento de 13,4% em relação ao mesmo período de 2024, totalizando US$ 3,2 bilhões em receitas.

O Ministério do Comércio da China decidiu estender o prazo da investigação sobre possíveis salvaguardas à importação de carne bovina por mais três meses — agora com conclusão prevista somente para 26 de novembro. A prorrogação representa um respiro para exportadores do Brasil, Argentina, Austrália e Estados Unidos, que vinham temendo imposição de tarifas adicionais ou cotas restritivas em meio ao crescimento das importações.

A decisão surpreendeu alguns agentes do mercado, que esperavam um desfecho durante o mês de agosto. Segundo o analista da Scot Consultoria, Felipe Fabbri, “o adiamento traz um certo alívio para a pecuária brasileira”, especialmente em um momento de forte tensão no comércio internacional. Os Estados Unidos também implementaram uma sobretaxação de 50% sobre produtos brasileiros, incluindo carne bovina, aumentando ainda mais a pressão sobre os preços domésticos da proteína animal.

Desde o início das investigações, iniciadas em dezembro de 2024, o governo chinês vem seguindo protocolos legais, com envio de questionários, audiências públicas, inspeções e análise de documentos apresentados por exportadores e autoridades — incluindo representantes brasileiros. A China destacou que manterá o diálogo com todos os envolvidos, numa tentativa de preservar um ambiente de comércio estável.

O Brasil, por sua vez, continua como principal fornecedor de carne bovina para o mercado chinês, tendo exportado cerca de 1,3 milhão de toneladas em 2024 — quase metade da carne importada pela China. Os frigoríficos brasileiros embarcaram mais de 641 mil toneladas nos primeiros seis meses de 2025, um crescimento de 13,4% em relação ao mesmo período de 2024, totalizando US$ 3,2 bilhões em receitas.

Apesar da investigação, até o momento não foram adotadas medidas tarifárias especiais, o que indica uma aprovação tácita das exportações brasileiras dentro da tarifa vigente de 12% aplicada pela China. O governo e a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) têm reforçado que a carne brasileira complementa, e não prejudica, a produção local chinesa — e se mantêm abertos ao diálogo.

Com o adiamento da decisão, o setor pecuário ganha tempo para ajustar estratégias e ampliar esforços diplomáticos. Espera-se que o mês de agosto, tradicionalmente aquecido pelas compras chinesas, não resulte em rupturas na cadeia exportadora. Contudo, o resultado final da apuração ainda pode impactar a competitividade brasileira — sobretudo se houver tarifas adicionais ou cotações restritivas no futuro.

A prorrogação permite que o país mantenha sua participação no mercado asiático e ajuste eventuais respostas estratégicas. Essa incerteza jogou luz sobre a resiliência da indústria da carne no Brasil. No primeiro semestre de 2025, as exportações de carne bovina e processada renderam US$ 7,2 bilhões, um salto de 27% em relação ao mesmo período de 2024.

Apesar do crescimento nas vendas externas, o mercado interno enfrenta desafios. Preços elevados ao consumidor persistem e a oferta ainda não acompanha a demanda. Especialistas apontam que este cenário deve se manter ao longo do ano, impulsionado pelos custos de produção e ritmo moderado de recuperação da pecuária doméstica.

Para a indústria, a expectativa é de novo recorde em 2025. A Abiec projeta volume e faturamento históricos, contando com a abertura de novos mercados — como Japão, Vietnã, Turquia e Coreia do Sul — e a consolidação da carne nacional como insumo estratégico nas cadeias globais.

Dados da Embrapa, porém, indicam que apesar do crescimento sustentado desde os anos 1970, a cadeia produtiva ainda atua em ritmo de consolidação, exigindo investimentos em tecnologia e eficiência.

Já o USDA projeta uma leve retração na produção brasileira em 2025, embora as exportações de carne in natura devam crescer cerca de 0,7% frente a 2024. A China deverá aumentar sua importação em apenas 1,3%.

Outro fator de pressão vem dos Estados Unidos. Com a recente imposição de tarifas adicionais, estima-se uma perda de US$ 1 bilhão nas exportações previstas. Diante disso, parte da produção poderá ser realocada para o mercado interno, o que tende a reduzir os preços da carne, gerando impacto na rentabilidade de pecuaristas e frigoríficos.

Em conjunto, esses fatores apontam para um segundo semestre cauteloso. O Brasil equilibra o otimismo exportador com os desafios de atender às exigências sanitárias internacionais, expandir para novos mercados e manter a oferta interna estável — tudo isso em meio a um cenário global ainda incerto para proteínas.