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Economia

Preço do livro sobe mais que inflação em 2016, mas faturamento do setor cai 9,2%

Valor médio do exemplar aumentou de R$ 36,59 para R$ 39,77. Número de cópias vendidas também diminuiu; veja números do balanço do mercado editorial brasileiro.

G1

23 de Janeiro de 2017 - 14:19

Foi uma história com final infeliz – e previsível. Em um ano de crise econômica e sem um fenômeno equivalente aos livros de colorir para adultos, o mercado editorial brasileiro fechou 2016 com uma queda de 9,2% em faturamento (considerando a inflação). Os números foram estes: R$ 1,62 bilhão em 2015 e R$ 1,57 bilhão no ano passado.

Vale registrar que 2016 foi cheio de "spoilers", com repetidos resultados negativos ao longo de toda a temporada (só no primeiro semestre, o recuo havia sido de 15,61%). Nos últimos episódios, a black friday e o Natal apareceram para melhorar discretamente a situação, mas não a ponto de garantir saldo positivo.

Para tentar reagir ao cenário desfavorável, o setor aumentou o preço médio do livro: de R$ 36,59 em 2015 para R$ 39,77 em 2016 – um acréscimo de 8,69% (acima da inflação no período, que foi de 6,29%). Além disso, o número de exemplares vendidos diminuiu 10,84%: de 44,2 milhões de obras em 2015 contra 39,4 milhões em 2016.

Esses números todos estão na edição mais recente do Painel das Vendas de Livros do Brasil, que saiu na semana passada.

Divulgado mês a mês e agora com o balanço do ano inteiro, o é feito pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) e pela Nielsen. A pesquisa baseia-se no resultado da Nielsen BookScan Brasil, que verifica as vendas em livrarias, supermercados e bancas. 

Por que o preço do livro subiu?

“Em um ano em que o consumidor evitou colocar a mão no bolso, percebemos que, para fechar as contas, o mercado livreiro foi além da criatividade editorial e ajustou seus preços um pouco acima da inflação do período”, afirmou em nota o gestor do BookScan Brasil, Ismael Borges.

Ao G1, Borges explicou, no entanto, que "a nossa questão é econômica, e não editorial".

"Isso é muito importante frisar: definitivamente, não é uma crise editorial. No mundo, o Brasil foi um dos países que apresentou maior queda de faturamento. Os Estados Unidos, o Reino Unido e a Índia, por exemplo, cresceram. A Itália e a Espanha caíram um pouquinho. Mas a gente caiu muito, quase 10%."

Para ele, "o que se espera é que o mercado editorial crie conteúdo suficientemente interessante e vendável, como normalmente se faz quando lançam não só grandes autores, mas tendências também". Em 2016, faltou justamente isto: uma grande tendência.

2016 teve YouTubers, mas eles foram fenômeno editorial?

Em 2015, a febre dos livros de colorir vendidos como "antiestresse" liderou as listas de best-sellers, que salvaram o mercado. Fizeram sucesso títulos como "Jardim secreto" (Sextante), "Floresta encantada" (Sextante), "Jardim encantado" (Alaúde), "Mãe, te amo com todas as cores" (BestSeller) e "Floresta celta" (Alaúde). 

Já no fim de 2016, sentindo que a fase de colorir estava passando, o setor apostou as fichas nos YouTubers. Eles foram bem – mas nada perto do fenômeno anterior.

"Os YouTubers tiveram uma participação importante, mas não houve um pico", explicou Ismael Borges ao G1. "Foi um movimento flat [plano] no decorrer de 2016. Mas gerou bastante buzz, vide a Bienal de São Paulo. Os YouTubers mantiveram o mercado editorial em evidência. Em termos de faturamento, talvez isso não tenha sido o salvador da colheita, comparativamente à movimentação dos livros de colorir."

Borges destaca ainda que os YouTubers foram "uma moda interessante pelo fato de valorizar o autor nacional".

"Isso é muito bom tanto do ponto de vista cultural, de trazer algo para dentro de casa, como pelo fato de o autor nacional ser mais economicamente viável em momento de crise. Mas isso é só uma inferência, já que esses autores não necessitam de trâmites em dólar e viagens internacionais para negociar direitos autorais e de publicação no Brasil."

O que dá para esperar de 2017?

Em nota, o presidente do Snel, Marcos da Veiga Pereira, antecipou a previsão para este ano: "Apesar do resultado negativo [de 2016], vale ressaltar a tendência à recuperação dos últimos quatro períodos [meses], em que houve reversão da queda de vendas. Até a semana 40, o mercado caía 4,9% e conseguimos fechar o ano com -3,1% [sem contar a inflação]. Nossa esperança é que em 2017 o número de exemplares vendidos permaneça minimamente estável dentro de um cenário ainda difícil da economia brasileira".

De acordo com Ismael Borges, existe a expectativa quanto ao surgimento de um novo fenômeno editorial – "mas esse outro fenômeno não tem nome ainda". "Claro que essas ondas são surpresas, ninguém esperava que colorir fosse ser o maremoto que foi. No Brasil foi uma coisa vertiginosa, alucinante, chamou atenção no mundo inteiro." 

Ele avalia que "embora as surpresas sejam sempre muito bem-vindas, o que o mercado quer é se recuperar sem a dependência disso".

"Não pode ficar esperando que nasça um novo fenômeno para se recuperar, precisa ser um crescimento orgânico, saudável. Se a origem do problema é a econômica, a solução do problema poderia vir a ser econômica também. Então, tem uma expectativa positiva para 2017, pelo menos de estabilidade. E, para 2018, de retomada de crescimento. No mínimo."

Outro estudo

Além do Painel das Vendas de Livros do Brasil, que é divulgado mês a mês pelo Snel e pela Nielsen, há a pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro. Mas esta é uma estimativa que usa dados colhidos a partir de uma amostra das editoras, e não em pontos de venda.

O estudo é feito pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), pelo Snel e pela Câmara Brasileira do Livro (CBL).

Em agosto de 2016, a Fipe, o Snel e a CBL divulgaram o dossiê "10 anos de Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro". Ele constatou que o mercado editorial brasileiro teve uma queda de 12,5% ao longo da última década, considerando a inflação do período. 

Em 2006, o faturamento do setor foi de R$ 5,98 bilhões (em valores corrigidos). Em 2015, foi de R$ 5,23 bilhões.