INTERNACIONAL
Presidente eleito da Bolívia diz que “justiça recairá” sobre Evo Morales
Rodrigo Paz afirma que governos anteriores permitiram que ex-líder do país atuasse sem sofrer consequências legais.
CNN Brasil
21 de Outubro de 2025 - 16:20

Em entrevista à CNN, Rodrigo Paz, vencedor das eleições presidenciais da Bolívia, abordou o papel do ex-presidente Evo Morales, figura central na política boliviana nos últimos 20 anos, que tem sido alvo de múltiplas denúncias e processos judiciais não resolvidos.
“O presidente não é quem coloca as pessoas na cadeia”, esclareceu, “mas acho que a mensagem e esta questão não são tanto sobre mim, mas sobre justiça.”
Paz declarou que a reforma judicial será promovida e afirmou que seu governo exercerá toda a influência institucional necessária para garantir que os processos sejam executados.
Sobre Morales, ele sustentou que “a justiça recairá sobre aqueles que tiverem que enfrentar a justiça, sejam eles chamados Evo, Juan ou Pepe. Mas Evo tem uma condição especial: o Estado não aplicou a ele o rigor da lei”. Segundo Paz, governos anteriores permitiram que Morales atuasse sem consequências legais. “Este governo, como os últimos 20 anos, permitiu que a justiça não fosse aplicada como deveria. Portanto, como governo, sejam chamados de Evo, Juan ou Pepe, a justiça recairá sobre eles.”
Em 8 de novembro, Rodrigo Paz e seu vice-presidente eleito, Edman Lara — o ex-policial que virou estrela do TikTok por sua retórica anticorrupção — assumirão oficialmente o poder.
Paz, senador de 58 anos e ex-prefeito da cidade de Tarija, tornou-se o presidente eleito da Bolívia no domingo (19), derrotando o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga, que recebeu 45,5% dos votos, com 54,5% dos votos no segundo turno das eleições presidenciais, segundo a contagem rápida do Tribunal Supremo Eleitoral, que apurou 97,4% dos votos.
No primeiro turno das eleições, realizado em agosto passado, Paz, filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora (1989–1993), surpreendeu os bolivianos ao conquistar o primeiro lugar, após as pesquisas o terem colocado em quarto nas intenções de voto nos dias anteriores.
As pesquisas para este segundo turno, o primeiro da história da Bolívia, mostraram Quiroga, um candidato de direita, à frente de Paz.
Distanciamento do ex-partido de Morales
Autodenominado centrista, ele sucederá Luis Arce, do MAS (Movimento ao Socialismo), em um contexto de profunda crise econômica que inclui escassez de combustível, alta inflação, baixas reservas e um primeiro semestre com recessão de 2,4%, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).
Paz descartou qualquer possibilidade de ter feito um pacto com o partido MAS para chegar ao poder, afirmando que sua vitória representa o fim de um ciclo político que, em sua opinião, prejudicou o país.
“É preciso ser muito masoquista para estar ligado a algo que não fez bem ao país”, disse ele no programa “Conclusões” da CNN, referindo-se a reportagens que sugeriam um possível acordo com o partido que liderou o país por quase duas décadas.
Para o presidente eleito, este é um momento de profunda mudança: “Precisamos fechar um ciclo. Não se trata mais apenas de não ser membro do MAS. Precisamos abrir o país e entender uma Bolívia do futuro com outras diversidades, outras contribuições.”
Nesse sentido, ele reiterou que seu projeto é amplo e aberto: “Vamos dar um amplo espectro às pessoas que querem participar do governo; já dissemos isso abertamente.”
Paz também propôs a formação de um governo de unidade com os três blocos de oposição que conquistaram representação parlamentar. “É por isso que estamos nos aproximando, mas não contamos ao MAS. Quero que os três blocos que o povo da Bolívia definiu como oposição liderem um novo governo”, explicou.
“Isso culminou e nos dá uma oportunidade”, disse Paz.
O presidente eleito prometeu inaugurar uma era na Bolívia marcada pela transparência, meritocracia e um distanciamento do modelo promovido pelo MAS por quase duas décadas.




