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INTERNACIONAL

Trump quer tarifa global sobre produtos brasileiros; café e o cacau podem ser isentos

Página 1 News

30 de Julho de 2025 - 09:05

Trump quer tarifa global sobre produtos brasileiros; café e o cacau podem ser isentos
Café e cacau são conhecidos por seus efeitos energizantes, graças à presença de cafeína e teobromina

Em meio à escalada de tensões comerciais promovidas pelo governo dos Estados Unidos, o secretário de Comércio Howard Lutnick anunciou nesta terça-feira, 29 de julho, que o presidente Donald Trump poderá isentar de tarifas produtos considerados recursos naturais, como café, cacau, mangas e abacaxis. A medida, segundo ele, está sendo analisada com base na lógica de que o país norte-americano não cultiva tais produtos em larga escala, o que justificaria seu ingresso isento de taxação no território americano.

A declaração ocorreu durante entrevista ao canal CNBC News, na qual Lutnick destacou que o prazo final para a definição das tarifas impostas aos parceiros comerciais expira nesta sexta-feira, 1º de agosto. A data marca o encerramento das negociações entre os Estados Unidos e os países afetados pelas novas regras tarifárias anunciadas por Trump no início de julho. Até lá, os países que não obtiverem acordos específicos com a Casa Branca deverão sofrer imposição de alíquotas universais entre 15% e 20%, conforme advertido pelo presidente norte-americano.

“O presidente inclui recursos naturais quando ele faz um acordo. Se você cultiva algo que nós não cultivamos, então isso pode entrar sem tarifa. Se fizermos um acordo com um país que cultiva mangas ou abacaxi, eles podem entrar sem tarifa. Café e cacau seriam outros exemplos”, declarou Lutnick. Ele, no entanto, evitou citar quais países seriam diretamente beneficiados por essa possível flexibilização.

Brasil na mira da sobretaxa

Apesar das declarações mais brandas sobre os produtos naturais, o Brasil continua no centro da disputa tarifária. Segundo informações confirmadas pela diplomacia brasileira, o país foi formalmente notificado em 9 de julho por meio de carta assinada pelo próprio Trump, prevendo a aplicação da alíquota máxima de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos.

No documento, o presidente americano menciona práticas comerciais que considera “injustas” por parte do Brasil, além de críticas contundentes à condução do processo judicial em curso contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado. A carta teria utilizado esse argumento como uma das justificativas políticas para o endurecimento das relações comerciais entre os dois países.

Investida diplomática brasileira

Enquanto o prazo imposto por Washington se aproxima, uma comitiva de senadores brasileiros está nos Estados Unidos tentando reverter o chamado “tarifaço” de Trump. Liderado pelo senador Nelsinho Trad (PSD-MS), o grupo se reuniu nesta terça-feira com parlamentares americanos dos partidos Republicano e Democrata, em uma tentativa de sensibilizar o Congresso dos EUA sobre os possíveis impactos econômicos e diplomáticos da medida.

De acordo com informações, os senadores brasileiros estão apresentando um panorama detalhado dos prejuízos que a tarifa de 50% poderá gerar, não apenas para a economia nacional, mas também para setores da indústria e do agronegócio norte-americanos, que dependem de matérias-primas brasileiras. Segundo ele, o grupo pretende reforçar ainda a disposição brasileira de retaliação tarifária proporcional, caso não haja diálogo e negociação.

Em cada encontro, os parlamentares também estão entregando convites formais para que os senadores americanos visitem o Brasil e conheçam de perto o ambiente comercial, institucional e agrícola do país.

Disputas globais seguem paralelas

Enquanto negocia com países da América Latina e da Europa, o governo dos Estados Unidos também mantém diálogo direto com a China. Reuniões estão sendo realizadas em Estocolmo, na Suécia, com o objetivo de ampliar por mais 90 dias a trégua tarifária entre as duas potências. No entanto, conforme esclareceu Howard Lutnick, as tratativas com o governo chinês ocorrem em um contexto separado das negociações com outros parceiros comerciais, e têm prazo próprio de conclusão, marcado para o dia 12 de agosto.

Paralelamente, os EUA e a União Europeia discutem tarifas sobre aço, alumínio e serviços digitais, como parte do acordo anunciado recentemente por Trump e pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Expectativa crescente

Com o relógio correndo contra os interesses brasileiros, o mercado observa com atenção os próximos passos da Casa Branca. A expectativa é de que até sexta-feira Trump anuncie formalmente quais países serão taxados, quais serão isentos e quais categorias de produtos conseguirão escapar da sobretaxa.

A inclusão de itens como café e cacau na lista de isenções seria um alívio parcial para o Brasil, que tem no café um dos pilares de sua pauta de exportações. No entanto, permanece a apreensão quanto à amplitude e aos critérios definitivos da medida.

A decisão final poderá redefinir as relações comerciais entre o Brasil e os Estados Unidos, com reflexos diretos sobre o agronegócio, a indústria alimentícia e as políticas externas adotadas pelos dois países nos últimos anos.