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Policial

Campo Grande tem mais de 20 casos de violência doméstica registrados por dia

Procuradoria lança campanha de conscientização

Midiamax

18 de Novembro de 2016 - 10:00

Mato Grosso do Sul é o 5º Estado com mais registros de violência contra a mulher no país. Esse foi o dado passado pelo procurador de Justiça Francisco Neves Junior na manhã desta sexta-feira (18), no lançamento da campanha ‘Isso dói em mim’, de enfrentamento e combate à violência doméstica. São 600 registros feitos na delegacia por mês, segundo a delegada Ariene Murad.

A campanha faz parte das comemorações aos 10 anos de criação das Promotorias de Justiça Especializadas na Lei Maria da Penha no Estado. ‘Isso dói em mim’ é uma campanha que tenta mostrar para a sociedade que todos fazem parte disso. “A sociedade inteira tem que se mobilizar e ver que isso é um problema de todos, se não isso não vai mudar”, disse a promotora Ana Lara Camargo.

“Cada vez mais as vítimas têm denunciado os agressores. Isso, no entanto, não quer dizer que a violência tenha aumentado, mas sim que as mulheres tomam cada vez mais coragem”, afirmou o procurador Francisco Neves, que é coordenador do Nevid (Núcleo de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher).

Ao todo, Campo Grande tem 5 promotorias que tratam da violência doméstica e atuam em todo o Estado. A intenção é que, assim como em outros estados, em Mato Grosso do Sul seja implantado o tratamento para o agressor, ou seja, cursos que os homens devem fazer para que a realidade mude.

Para a promotora Ana Lara Camargo de Castro, que já esteve à frente da 48º Promotoria de Justiça, da Vara de Violência Doméstica e Familiar, as denúncias feitas pelas vítimas aumentam por conta das campanhas e também pela lei de enfrentamento. “Antes, as mulheres achavam que nada aconteceria com o agressor, que ele continuaria em casa. Assim, com medo, elas não denunciavam, além de também terem vergonha e dependerem econômica e emocionalmente dos agressores”, disse.

Estado machista

Segundo a promotora Ana Lara, que trabalhou anos no enfrentamento à violência doméstica, Mato Grosso do Sul é um Estado ruralista, conservador e patriarcal, o que reforça a violência doméstica. “A mulher acha que tem que ser boa dona de casa, que a roupa tem que ser comportada, que tem que ser boa esposa, boa mãe”, disse. Com isso, a vítima acaba se sentindo envergonhada e culpada quando não consegue ser essa pessoa que o marido ou companheiro e a sociedade querem que ela seja.

Também conforme a promotora, a abordagem feita na delegacia já determina todo o andamento do processo. “Se a mulher tiver abordagem não acolhedora, ela vai acabar retirando a queixa e não vai dar prosseguimento ao processo”, afirmou. Ana Lara lembrou que muitas mulheres se sentem sozinhas e só quando conseguem ver outra vítima que passou por cima das agressões e crimes, elas conseguem fazer a denúncia.

Segundo a delegada Ariene Murad, da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), as vítimas podem ir para o abrigo onde passam 48 horas até que consigam ir para a casa de um parente ou amigos ou o abrigo permanente, para onde as vítimas vão quando não tem outro lugar a não ser a casa onde viviam com os agressores.

“Por mês, são feitos 40 autos de prisão em flagrante e pelo menos 600 boletins de ocorrência por violência doméstica”, afirmou a delegada. Só na última semana, quatro mulheres foram vítimas de tentativa de feminicídio em Campo Grande.