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Policial

Depca apreende quadro de exposição por suspeita de apologia à pedofilia

Apesar do constrangimento, uma das maiores preocupações da coordenadora do Marco é com a dona da obra apreendida.

Correio do Estado

15 de Setembro de 2017 - 07:23

Delegado da Delegacia Especializada de Proteção a Criança e ao Adolescente (Depca), Fábio Sampaio, apreendeu quadro da artista mineira Alessandra Cunha Ropre hoje à tarde. A obra de arte estava exposta no Museu de Arte Contemporânea (Marco), em Campo Grande.

A apreensão foi feita para averiguar se o quadro faz apologia à pedofilia. Deputados estaduais reclamaram que exposição da artista estaria "incentivando" crime contra crianças e adolescentes.

Fábio declarou que o quadro apresenta indício de pedofilia e por esse motivo foi retirado do museu.  

A coordenadora do Marco, Lúcia Monte Serat Alves Bueno, declarou que está muito triste e se sentindo constrangida. “Apesar dos policiais terem sido muito gentis, nunca passei por isso. Entraram aqui com arma na cintura”, desabafou Lúcia. Amanhã (15), a coordenadora terá que prestar depoimento na Depca.

Apesar do constrangimento, uma das maiores preocupações da coordenadora do Marco é com a dona da obra apreendida. “Ela nem sabe de nada ainda e o pior que ela vai ficar sem o quadro. Eles nem sabiam quem era a artista. Acharam que o quadro era meu. Isso é muito ruim”, lamentou.

O motivo da apreensão do quadro se deu a partir de denúncia feita por deputados estaduais. Os parlamentares Coronel Davi (PSC), Paulo Siufi (PMDB) e Herculano Borges (SD) foram até a Depca, na tarde de hoje, e registram boletim de ocorrência cobrando providências das autoridades considerando a exposição de caráter sexual desrespeitoso, ofensivo e impróprio, além de ferir a moral e os bons costumes.

Após a denúncia, Lúcia recebeu telefonema do secretário de Cultura e Cidadania de Campo Grande, Athayde Nery, instruindo a coordenadora do museu a acatar pedido dos parlamentares de mudar a idade mínima do público da mostra para 18 anos, antes era 12 anos.

“Aceitamos o pedido deles e mudamos. Antes a idade mínima era de 12 anos, justamente para pegar o público infantil que são os atingidos quando se fala de pedofilia”, explicou Lúcia.

O quadro que foi apreendido era o único que tinha no seu contexto a palavra pedofilia. “O nome do quadro é justamente esse, 'denúncia à pedofilia'. Não dá para entender o que eles pensam. Eles não compreendem”, indignou a coordenadora. 

Outro indício de que a artista estava criticando a pedofilia e a violência sexual, de acordo com Lúcia, é o que Alessandra escreveu na obra, de trás para frente: "Machismo mata, violência humilha".

“Nós respeitamos a opinião de todos, não tem sentido as pessoas terem essa postura, mas os artistas já estão acostumados a serem tratados assim”, desabafou Lúcia. 

Mesmo com a apreensão do quadro, a exposição segue até o dia 17 de setembro, próximo domingo.