Policial
Lideranças já tinham alertado autoridades para ocorrência de feirinhas na Reserva
Capitão da aldeia Bororó, onde o caso aconteceu, Gaudêncio Benites lamentou o caso e, principalmente, a inércia das autoridades competentes com a situação que não é incomum
Dourados News
07 de Outubro de 2014 - 14:30
Feirinhas. Esta é a gíria utilizada dentro da Reserva Indígena de Dourados, onde estão as aldeias Bororó e Jaguapiru, para definir casos de estupro praticados por vários homens contra uma ou no máximo duas vítimas.
A mais recente, foi uma menina de nove anos atacada entre a noite de domingo e a madrugada de segunda-feira por um grupo de inicialmente sete pessoas, entre maiores de idade e adolescentes, e que permanece internada em estado gravíssimo no Hospital Universitário. A polícia não descarta que até 15 pessoas possam estar envolvidas no caso.
Capitão da aldeia Bororó, onde o caso aconteceu, Gaudêncio Benites lamentou o caso e, principalmente, a inércia das autoridades competentes com a situação que não é incomum. Segundo ele, as feirinhas aconteciam com frequência há poucos anos atrás, e agora estão se tornando novamente recorrentes.
É um termo usado aqui para a situação de um grupo pegar uma mulher na marra. Quando fala isso, todo mundo já sabe o que é. Acontecia muito no passado e está começando a voltar. Estamos preocupados e sem saber como agir. É desesperador. As autoridades já tinham sido alertadas sobre isso e também sobre a violência na Reserva, mas eles acham que a gente exagera. Já convidamos várias vezes para virem aqui a noite verem de perto o tráfico de drogas, o consumo de álcool, a escuridão e os perigos, mas não dá em nada, lamentou o líder indígena.
Ainda de acordo com Benites, há um problema grande atualmente nas aldeias com relação aos jovens indígenas.
Temos alertado que tem muita adolescente e até menina, criança ainda, que já sai para festa, que fica andando sozinha a noite na escuridão. É perigoso. Não que seja uma questão só dos pais, porque eles fogem de casa. Não que tenha sido isso no caso da menina de domingo também. Mas, é um problema real, está muito difícil e não temos autoridade também para reagir. Tem a bebida também que é outro problema. É preocupante, precisamos do apoio das autoridades.
Questionado sobre o papel da Funai (Fundação Nacional do Índio) no processo, o cacique fez críticas. Deveria partir dela alguma ação para intervir, mas o pessoal daqui diz que não tem efetivo, e de Brasília nada acontece também. Por fim, o capitão da Bororó fez questão de ressaltar que as feirinhas não são uma questão cultural indígena, e que a comunidade repudia a situação. Nós não achamos normal, muito pelo contrário, e repudiamos isso. Cobramos ação da polícia e da Justiça, para prender quem faz isso e prevenir que outros façam. É algo bárbaro e repudiado sempre, finalizou Benites.
Acusados já detidos falaram em feirinha
A delegada que cuida do caso da menina de nove anos, Rozeli Dolor Galego, também mencionou o termo feirinha em entrevista ao Dourados News. Segundo a titular da Deam (Delegacia de Atendimento à Mulher), os três acusados detidos até o momento (Fábio de Souza Irala, 23, Junior Alves Duarte, 19, e um adolescente de 14 anos) usaram o termo para relatar o crime. Eles mencionaram esse termo. Disseram que estavam bebendo, e que aí foram lá e pegaram a menina para fazer a feirinha, disse Rozeli.
Fábio e Junior permanecem presos na delegacia do 1º Distrito Policial de Dourados. O adolescente foi encaminhado para a Unei (Unidade Educacional de Internação) Laranja Doce.
A Polícia Civil permanece em diligências para localizar mais quatro acusados do estupro que foram indicados pelos três presos. No entanto, com base em depoimento de testemunhas, não está descartada a participação de pelo menos 15 pessoas no crime.