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Política

Réu por liderar jogo do bicho, deputado foi visitado por primo de Jarvis Pavão

Operação Successione investiga disputa pela atividade ilegal em Campo Grande.

Campo Grande News

29 de Fevereiro de 2024 - 13:56

Réu por liderar jogo do bicho, deputado foi visitado por primo de Jarvis Pavão
Jarvis Pavão, o “Barão da Droga”, quando foi preso no Paraguai. (Foto: Arquivo Capitan Bado).

A investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), que coloca o deputado Roberto Razuk Filho (PL), o Neno Razuk, no topo de organização criminosa do jogo do bicho, mostra a relação de proximidade dele com Jonathan Gimenez Grance, definido como um “célebre criminoso”.

“Em virtude dessa liderança na organização criminosa e do já exposto interesse na expansão das atividades ilícitas, foi observado que o denunciado ROBERTO RAZUK FILHO (“NENO RAZUK”), apesar de ocupar o cargo de Deputado Estadual, tem se relacionado com célebres criminosos, a exemplo de JONATHAN GIMENEZ GRANCE (“CABEZA”), primo do megatraficante JARVIS PAVÃO e um dos líderes do grupo criminoso por esse chefiado”, informa o documento da operação Successione.

Jonathan é primo do narcotraficante sul-mato-grossense Jarvis Pavão, o “Barão da Droga”, que acumula pena de 70 anos e está na penitenciária federal de Brasília.

Apontado como peça importante na estrutura do crime na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, Jonathan chegou a ser preso com arsenal, em Ponta Porã, no ano de 2018. Segundo a investigação policial, o grupo preparava ataque ao traficante Sérgio Arruda Quintiliano Neto, o “Minotauro”, então principal chefe da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) na fronteira do Paraguai com o Brasil.

Réu por liderar jogo do bicho, deputado foi visitado por primo de Jarvis Pavão
Deputado Neno Razuk durante sessão da Assembleia Legislativa. (Foto: ALMS)

“Deve ser destacado que o denunciado CARLITO GONÇALVES MIRANDA, um dos integrantes responsáveis pela execução dos roubos, já foi preso em flagrante delito ao lado de JONATHAN GIMENEZ GRANCE (“CABEZA”) e de outros membros do grupo criminoso liderado por JARVIS PAVÃO, em 7.12.2018, em posse de 6 (seis) pistolas e 1 (um) revólver, além de 8 (oito) veículos (quatro blindados), razão pela qual não se pode ser desprezada a possibilidade de existência de conexões entre os dois grupos criminosos”.

Dia especial - Em 2022, Jonathan foi colocado em liberdade. A Justiça reduziu a pena de 36 anos para 11 anos. Livre, ele esteve no condomínio de luxo Damha III, na Capital.

“A propósito, consta que o líder ROBERTO RAZUK FILHO (“NENO RAZUK”) foi visitado por JONATHAN GIMENEZ GRANCE (“CABEZA”), na residência no condomínio Damha III de Campo Grande, na data dos 3 (três) roubos praticados nesta capital (16.10.2023)”.

A visita foi às 21h53 daquele dia. Naquela data, 16 de outubro do ano passado, aconteceram três roubos forjados de malotes do “recolhe” do jogo do bicho. Com três crimes semelhantes, a equipe do Garras (Grupo Especializado de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros) foi acionada e perseguiu um dos veículos usados no primeiro roubo.

O Hyundai/HB 20 estacionou em frente a uma residência, na Rua Gramado, no Bairro Monte Castelo. O investigado José Eduardo Abdulahad, o “Zeizo”, recebeu os policiais e acompanhou a diligência.

“Foi, então, que as equipes policiais, durante a busca pelos assaltantes, encontraram verdadeiro ponto de concentração da organização criminosa voltado à exploração do jogo do bicho, contendo centenas de máquinas usadas nas operações do jogo de azar, além de acessórios e de R$ 2,5 mil em dinheiro”, descreveu o Gaeco na denúncia.

Outros nove homens que estavam dentro da residência afirmaram que foram ao local jogar pôquer. Dentre eles, dois eram militares: Gilberto Luiz dos Santos, o “Barba”, e Manoel José Ribeiro, o “Manelão”.

A investigação também teve acesso a câmeras de segurança do condomínio Damha III, onde mora o parlamentar, e descobriu os veículos usados nos roubos dos “recolhes” passando na portaria para ir à casa do “chefe”.

Já no dia 20 de dezembro, a operação Successione cumpriu mandado de busca e apreensão contra Jonathan, primo de Pavão.

Casa escritório – De acordo com o advogado João Arnar Ribeiro, que atua na defesa de Razuk, a casa no condomínio de luxo também era utilizada como escritório político. “E, nessa condição, recebia muitas pessoas. A priori, não se sabe exatamente quem esteve por lá, gente de bairro, movimento político. Recebia centena de pessoas”.

A defesa de Jonathan Gimenez Grance informa que ele não foi denunciado pelo Ministério Publico e que desconhece motivo do mandado de busca em dezembro.

Advogados - Ainda de acordo com o Gaeco, Neno Razuk "tem arcado com a defesa dos presos durante a Operação Successione (...), sobretudo, para controle do posicionamento de todos perante as autoridades, de forma que não seja implicado, tal qual até aquele momento tinha ocorrido".