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Assentados trocam militância pelo plantio de soja e criticam fala de Zeca
O vídeo do parlamentar, postado em suas redes sociais e amplamente compartilhado em grupos de WhatsApp, gerou reações críticas de quem acredita que o discurso não reflete a realidade do campo.
Redação
22 de Dezembro de 2024 - 18:47

A proposta do deputado Zeca do PT, que sugere ao Incra retomada dos lotes de assentados que aderiram ao plantio de soja ou fizeram parcerias com grandes produtores, provocou indignação entre os próprios assentados. O vídeo do parlamentar, postado em suas redes sociais e amplamente compartilhado em grupos de WhatsApp, gerou reações críticas de quem acredita que o discurso não reflete a realidade do campo.
O modelo de reforma agrária, baseado na produção em pequenas propriedades e em práticas tradicionais, parece estar perdendo força diante da economia agrícola de grande escala. Assentados como Jânio Marinata, do assentamento São Pedro, são exemplos dessa mudança. Ele trocou o cultivo de 1 milhão de pés de abacaxi em 14 hectares por 200 hectares de soja e está diversificando em mãos 40 hectares onde planeja confinar 450 cabeças de gado. “Alguns políticos querem manter os assentados dependentes do Governo”, constata Marinata.
"Trabalhei duro para ter hoje uma vida confortável. Meus filhos também são bem-sucedidos, passam férias na praia , tem uma Dodge RAM", relata, lembrando que esses sinais de prosperidade alimentaram até rumores de que tinha envolvimento com o tráfico de drogas . Além de investir na produção agrícola em escala empresarial, Jânio retomou os estudos , fez faculdade e é hoje psicoterapeuta, criou uma ONG que atende gratuitamente pessoas com problemas psicológicos e dependência química.
O assentado não teme perder o lote que conquistou com a reforma agrária e os outros seis que adquiriu o direito de posse .Ele lembra que os lotes da reforma agrária são intransferíveis por 10 anos e como ele está no São Pedro desde 2005, já se passaram 19 anos, portanto , acabou o prazo legal para ingerência do Governo na questão da transferência da posse e propriedade. O assentamento já tem mais de 26 anos .
"Há muito tempo os assentados que enfrentavam dificuldades para explorar seus lotes já arrendavam, só que para a criação de gado.O arrendamento para a lavoura trouxe um rendimento muito maior . Isto trouxe melhoria na qualidade de vida de muita gente . Acredito que o Governo deve reavaliar algumas propostas da reforma agrária , partir destes resultados", comenta Jânio .
Arnaldo Cáceres, assentado no Capão Bonito 2 e ex-candidato a vereador, classifica a ideia do deputado como "insanidade". Ele chegou ao confronto Zeca diretamente em um grupo de WhatsApp. Até ao ano passado, Cáceres plantou 95 hectares, combinando os 25 do seu lote e mais 70 arrendados de vizinhos. Após uma colheita frustrante devido à seca, optou por plantar milho e devolveu as áreas arrendadas.
Outro exemplo é José Pastor, do assentamento Eldorado. Depois de 33 anos trabalhando no Paraguai, Pastor obteve um lote de 9,5 hectares, mas perdeu prejuízos com a comercialização de hortaliças. “Vi caixas de alface que vendi por R$ 4,50 sendo vendidas a R$ 1,59 por unidade nos supermercados”, relata. Cansado das dificuldades, decidiu investir no plantio de soja. Com o dinheiro da venda de sua propriedade no Paraguai, adquiriu outro lote e hoje cultiva 80 hectares, inclusive em parceria com vizinhos.
Pastor também destaca a falta de assistência técnica da Agraer e das entraves para acesso a linhas de crédito, como o Cadastro Nacional da Agricultura Familiar (CAF), necessário para financiamento e participação em programas como o PNAE e o PAA.
Para Jorge Antônio Parasi, do assentamento Capão Bonito, as críticas de Zeca do PT estão desconectadas da realidade. Ele aponta que as políticas de apoio não chegam ao campo e que os esforços de criação de cooperativas para eliminar atravessadores falharam, muitas vezes por falta de engajamento dos próprios assentados. Projetos em tese promissores, como a instalação de uma fecularia e um laticínio para agregar valor à produção de mandioca e leite, não saíram do papel.




