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Sidrolandia

Basta um dia, um acidente de trabalho, e a vida muda para sempre

Em Mato Grosso do Sul, a cada dia a vida de 31 trabalhadores muda, temporariamente ou de forma definitiva, depois de incidentes relacionados ao desempenho profissional.

Midiamax

13 de Novembro de 2015 - 07:00

Se a vida da gente fosse um filme, boa parte dele teria como locação o nosso ambiente de trabalho. É dele que extraímos o básico para viver, o retorno financeiro, e também é dele que vem o reconhecimento do ofício estudado ou aprendido na vida. Trabalho é lugar, ainda, de estabelecer relações de amizade, de amor, algumas para toda a vida. Às vezes, porém, esse filme fica triste, e o que era para ser um local seguro, um nascedouro de coisas boas, transforma-se em risco à vida, em medo da morte, em desesperança, na forma de acidentes de trabalho.

Em Mato Grosso do Sul, a cada dia a vida de 31 trabalhadores muda, temporariamente ou de forma definitiva, depois de incidentes relacionados ao desempenho profissional. O dado considera o levantamento mais atualizado disponível, de 2013, quando foram registrados 11.402 acidentes de trabalho no Estado, 6,5% a mais do que em 2011, de acordo com as informações do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).

Na frieza dos números, é um quadro preocupante e merecedor de envolvimento do Poder Público, da iniciativa privada e da sociedade em ações de combate ao problema. No calor dos sentimentos, cada número na estatística se transforma em uma mudança nas vidas do trabalhador e de quem o cerca. Jane da Silva Leite, de 40 anos, ilustra de forma exemplar essa nova vida após um acidente de trabalho. Em 2013, poucos dias após conseguir emprego numa lavanderia de Campo Grande, o roteiro que se iniciava teve uma interrupção drástica, quando ela ia para a empresa. Jane gravou na memória aquele momento. “Era o meu 3° dia de serviço. Um rapaz em uma camionete entrou na minha frente. Eu estava na preferencial, não deu tempo de parar, eu bati no para-lama do carro. Na hora do acidente, eu já perdi os movimentos, perdi minha perna ali”, lembra. Como estava no trajeto para a lavanderia, a situação configura acidente de trabalho.

Uma nova descoberta

Podia ser só mais um episódio para praguejar contra o destino. Mas não. Para Jane, o acidente abriu novas oportunidades. Ela encontrou no tiro adaptado a superação para a trauma. “Desde o ano passado, eu comecei o esporte e não me vejo sem. Hoje, eu vejo que sou muito mais feliz que antes. Eu consegui me desenvolver com o tiro adaptado”, destaca. Ela e mais de 20 atletas disputam o esporte pela ARPP (Associação de Reabilitação e Paradesporto Pantanal). Ela já conheceu várias cidades do país pelo esporte. No último campeonato, a equipe ficou em 1° lugar no ranking nacional.

Jane é segurada do INSS, e passa por readaptação para voltar ao mercado de trabalho. Ela mal vê a hora de retornar ao serviço. “Eu quero muito voltar a trabalhar, ganhar o meu dinheiro, como antigamente. Sempre trabalhei, desde nova, não vai ser agora que vou parar de vez”. Jane quer, principalmente, manter o esporte que, ironicamente, descobriu após um evento tão trágico em sua vida. “Eu não consigo mais viver sem o tiro adaptado. Quero cada vez mais me aperfeiçoar neste esporte. Hoje estou em 3° lugar no ranking nacional e quero melhorar ainda mais”, afirma.

Em Campo Grande, em média 550 segurados procuram o programa anualmente. Neste ano, 330 segurados já receberam atendimento. Entre essas pessoas, é possível ver que, quando o inesperado chega no lugar onde a gente ganha o sustento, tanto quanto as marcas físicas, algumas eternas, as marcas psicológicas ficam lá, martelando, mudando as pessoas de uma forma impossível de esquecer.