BRASIL
Maníaco do Parque perto da liberdade: Data marca contagem regressiva para a soltura de um dos criminosos mais cruéis do Brasil
Condenado a 280 anos, Francisco de Assis Pereira poderá deixar a penitenciária em 2028 e afirma ter se convertido, porém não demonstra arrependimento nem empatia pelas vítimas.
Página 1 News
01 de Agosto de 2025 - 17:06

Francisco de Assis Pereira, conhecido nacionalmente como o Maníaco do Parque, caminha para o fim de seu período de encarceramento. Condenado a 280 anos de prisão por assassinatos e estupros em série que chocaram o Brasil no fim dos anos 1990, o criminoso deve deixar a penitenciária em 2028, após cumprir o teto de 30 anos de reclusão previsto pela legislação penal brasileira da época. A iminente liberdade do estuprador e assassino confesso reacende debates profundos sobre impunidade, sistema penal, ressocialização e segurança pública.
A expectativa de sua soltura ocorre sem qualquer exame criminológico, uma vez que, ao cumprir o tempo máximo legal da pena em regime fechado, Francisco sairá da prisão diretamente para as ruas, sem progressão de regime ou qualquer medida intermediária. Este tipo de saída, prevista pela lei anterior à reforma do Código Penal, não exige que o apenado comprove mudança de comportamento ou ausência de periculosidade, o que, diante da brutalidade dos crimes cometidos, provoca indignação em setores da sociedade.
Durante entrevista concedida à psicóloga forense luso-brasileira Simone Lopes Bravo, dentro da Penitenciária de Iaras, no interior paulista, Francisco declarou ser uma nova pessoa. Alegou que sua conversão ao evangelismo, ocorrida em 1999, teria encerrado de forma definitiva os pensamentos sexuais e violentos que o levaram a matar nove mulheres e violentar várias outras. Apesar disso, não demonstra arrependimento pleno. Disse não pretender pedir perdão às famílias das vítimas: “Deus já me perdoou”.
Os relatos feitos por Francisco à psicóloga, reunidos no livro “Maníaco do Parque, a loucura lúcida”, revelam detalhes ainda mais perturbadores sobre os crimes. Confessou que, após matar as vítimas, voltava aos locais dos assassinatos para se masturbar diante dos corpos. Também relatou que, em algumas ocasiões, escolhia poupar determinadas mulheres e as deixava voltar, sob o argumento de que não sentiu o impulso de matá-las. Em outras palavras, sua lógica pessoal era quem ditava a sentença de vida ou morte das vítimas.
Francisco escolhia suas vítimas principalmente no Parque do Ibirapuera, em São Paulo, oferecendo falsas promessas de trabalhos como modelo. O discurso era cuidadosamente elaborado, sempre carregado de confiança e simpatia, atraindo jovens mulheres que jamais retornariam para casa. Os corpos encontrados apresentavam evidências de violência sexual e assassinato com requintes de crueldade. O caso, amplamente noticiado nos anos 90, despertou comoção nacional e mobilizou as forças de segurança por semanas.
Segundo ele, os primeiros impulsos sexuais desviantes surgiram ainda na infância, após ter contato precoce com revistas pornográficas no local de trabalho do avô. Na adolescência, disse ter vivido com descontrole total sobre seus desejos e admitiu que “os pensamentos eram mais fortes que ele”. Quando questionado sobre por que não violentava homens, respondeu com frieza: “Porque eu me sentia atraído por mulheres, pelo corpo das mulheres”.
Desde sua conversão religiosa, diz manter rotina de orações e leitura bíblica, e assegura que está curado. Com cerca de 120 quilos e sem nenhum dente — em razão de uma rara doença genética chamada amelogênese imperfeita — o detento afirma não ter mais vínculos com o “Francisco antigo” e planeja, inclusive, mudar de nome assim que deixar o sistema prisional. Tal desejo reforça o temor de que o criminoso possa tentar apagar seu passado, dificultando a identificação por parte da sociedade, o que levanta questões de segurança pública.
A aproximação entre Francisco e a psicóloga Simone Bravo se deu por meio de cartas. Ela enviou correspondência para mais de dez criminosos, mas apenas ele respondeu. Morando em Portugal, Simone contratou uma advogada no Brasil, conseguiu a inclusão na lista de visitas do presidiário como “amiga” expediente legal em caso de ausência de parentes próximos e iniciou uma série de encontros com o objetivo de produzir um livro. Para viabilizar a entrada, pagou para que a mãe de Francisco, única então na lista de visitas, abrisse mão do lugar.
Esse caso dramático escancara as lacunas e as fragilidades da legislação penal brasileira. Embora condenado a uma pena simbólica de 280 anos, Francisco se beneficiará da limitação legal em 30 anos, um teto considerado obsoleto por especialistas diante da gravidade dos crimes e do risco à sociedade. O país se depara, mais uma vez, com o paradoxo entre os ideais de ressocialização e os imperativos da segurança pública. Cabe à sociedade, ao legislador e ao sistema de Justiça repensar os mecanismos de punição, reintegração e proteção coletiva.
Enquanto isso, a contagem regressiva continua, e a liberdade de Francisco de Assis Pereira se aproxima como um prenúncio de novos debates, angústias e temores para as famílias das vítimas e para todos os que, décadas depois, ainda se lembram dos horrores cometidos pelo Maníaco do Parque.




