Esporte
Ícone de geração multicampeã, Giba se aposenta do vôlei: "Bem resolvido"
Giba não carrega na bolsa mais o velho material, mas sim as três medalhas olímpicas
Globo Esporte
02 de Agosto de 2014 - 08:39
Os passos até a quadra são feitos lentamente. Giba não carrega na bolsa mais o velho material, mas sim as três medalhas olímpicas. Não tem ciúme. Permite que quem se interessa por elas possam segurá-las. Diz que não são dele, "são nossas". No lugar do uniforme, calça, camisa social e sapatos. O ponteiro de tantos títulos, que marcou uma geração vitoriosa do vôlei brasileiro, estava pronto para ser chamado de ex-jogador. Nesta sexta-feira, Giba colocou um ponto final em sua carreira de atleta. Aos 37 anos, quer começar uma nova história. E mesmo que as palavras dissessem que estava tranquilo, os olhos teimavam em mostrar que aquele momento era difícil. Durante a entrevista, se emocionou várias vezes.
O primeiro ensaio de aposentadoria foi no ano passado. Não espontâneo, mas forçado. Depois de se despedir da seleção nas Olimpíadas de Londres, Giba fez as malas e foi defender o Bolívar, da Argentina. A ideia era jogar mais uma temporada e parar de vez. Mas a passagem por lá não saiu da maneira que imaginava. Sem receber salários durante sete meses e passando pelo processo de divórcio, não disputou as semifinais da Liga e voltou ao Brasil. Acreditava que se recolocaria rapidamente no mercado.
Poucas propostas boas apareceram. Até que o Taubaté entrou em cena e o fez recuperar o fôlego. Queria se divertir e dar uma resposta: mostrar que continuava sendo o Giba. A permanência foi breve. O convite para atuar 12 meses como jogador e mais cinco anos como consultor do Al Nasr de Dubai, nos Emirados Árabes, o levou a rescindir o contrato com a equipe paulista. Após três meses de experiência, o contrato foi rompido.
Acabei supertranquilo. Ali (em Taubaté) já tinha resolvido parar. Aí veio a proposta de Dubai. Resolvi jogar mais um ano. Condição física eu tinha, estava saltando bem de novo e com bom aproveitamento no ataque. Fiz 11 jogos lá, mas a cultura era diferente e não deu certo. Hoje acho que o que tinha que fazer eu fiz. É melhor você parar do que pararem você. Não sinto falta de nada. Nada mesmo. Acabei bem resolvido, feliz com que fiz. Uma hora tem que acabar... É complicado (se emociona). Não tem como descrever o que está passando dentro de mim. Só quero agradecer às pessoas que me ajudaram, que estiveram ou estão ao meu lado. E que me desculpem alguma coisa que eu tenha errado. A sensação é de dever cumprido. De saber que dei o meu máximo em todos os momentos. Fui um jogador bom, não me considero o melhor. Um jogador que fez parte de uma geração maravilhosa. Vai ser difícil um outro time bater o que a gente fez em 12 anos. O conjunto fez o melhor time. Eu fui uma peça dentro da engrenagem - disse o campeão olímpico em 2004 e mundial em 2002, 2006 e 2010.
Giba garante que faria tudo igual. De erros a acertos. Aprendeu com todos e pôde corrigir rumos. Um deles foi voltar a falar com o levantador Ricardinho, com quem dividiu quarto por 11 anos nos tempos de seleção. Foram cinco anos afastados até a reaproximação. Juntos novamente, conquistaram a medalha de prata nos Jogos de Londres 2012. Desde então, aprendeu a acompanhar a equipe nacional apenas como espectador.
Vez ou outra, volta a dar suas cortadas numa rede na Praia do Pepê. Joga com anônimos e se diverte com suas reações ao vê-lo ali, dividindo a quadra com eles.
- Agora jogo só na "rataria", sem regras. Outro dia fui com meu sogro à praia, e ele foi lá na rede perguntar se podia jogar. E aí o chamaram, e ele disse que tinha mais um. Levantei e fui até lá. O pessoal olhou e falou: "Você está de sacanagem, né?"
É engraçado ver essa resposta do público de diferentes
idades. Teve uma vez que um senhor me abordou, e eu fui me levantar para falar
com ele. Eu disse que era um prazer conhecê-lo, e ele me falou que eu já era
íntimo dele: "Sabe quantas vezes você entrou na minha casa de
madrugada?" (risos) Eu me sinto lisonjeado por ter recebido isso da
vida.




