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Brasil colhe safra histórica de milho e enfrenta queda nos preços com retração da demanda

Safra recorde e enfraquecimento da demanda externa derrubam valores enquanto Brasil projeta quase 132 milhões de toneladas do cereal.

Página 1 News

14 de Julho de 2025 - 08:58

Brasil colhe safra histórica de milho e enfrenta queda nos preços com retração da demanda
Foto: Imagem - Brevant

A colheita da segunda safra de milho, que avança em ritmo acelerado nos principais estados produtores do Brasil, já se consolida como a maior da história, impulsionando o país a uma produção recorde e, ao mesmo tempo, pressionando fortemente os preços no mercado interno. O cenário atual reflete a combinação de uma safra excepcional com um momento de demanda enfraquecida, tanto no mercado doméstico quanto nas exportações, gerando um movimento de baixa que afeta produtores em todo o território nacional.

De acordo com o 10º levantamento da safra 2024/2025 divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Brasil deverá colher um total estimado de 131,97 milhões de toneladas de milho. O número representa um crescimento expressivo de 14,3% em relação à temporada anterior, configurando-se como a maior safra já registrada no país. Essa expansão ocorre especialmente por conta das condições climáticas favoráveis durante o desenvolvimento das lavouras e pelo aumento da área cultivada, sobretudo nas regiões Centro-Oeste e Sudeste.

A segunda safra, conhecida popularmente como “safrinha”, representa mais de 70% da produção total de milho do Brasil. Neste ano, os estados de Mato Grosso, Paraná e Goiás lideram o ranking dos maiores produtores. Mato Grosso, principal expoente da produção nacional, deverá colher cerca de 47 milhões de toneladas, impulsionado por tecnologia agrícola avançada, investimento em irrigação e produtividade elevada por hectare. O Paraná aparece em seguida com previsão de 17,8 milhões de toneladas, enquanto Goiás projeta uma colheita próxima a 13 milhões de toneladas.

Contudo, ao mesmo tempo em que os números da produção crescem, os preços pagos ao produtor rural seguem em forte retração. Levantamentos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) revelam que, apenas na primeira quinzena de julho, a saca de milho de 60 quilos caiu 6,13% na praça de Campinas (SP), uma das referências do mercado nacional. O preço médio do grão foi de R$ 62,91 na última sexta-feira, atingindo o menor patamar do ano até o momento.

Os fatores que explicam essa queda acentuada vão além da oferta elevada. A retração na demanda, tanto no mercado interno quanto no exterior, tem contribuído diretamente para o recuo das cotações. Indústrias consumidoras e exportadores têm se mostrado cautelosos nas compras, postergando negociações à espera de novas quedas de preço. Além disso, a demanda internacional pelo milho brasileiro está enfraquecida, em parte pela concorrência mais agressiva de países como os Estados Unidos e a Ucrânia, que também colhem safras volumosas e oferecem o cereal a preços competitivos no mercado global.

A queda nos preços preocupa produtores, sobretudo os de menor escala, que enfrentam desafios para cobrir os custos de produção. Em algumas regiões, o valor atual da saca já não cobre despesas com insumos, transporte e mão de obra, gerando apreensão quanto à rentabilidade da atividade. Mesmo com o volume expressivo da safra, parte dos produtores pode enfrentar dificuldades financeiras caso o cenário de baixa se mantenha nas próximas semanas.

Ainda assim, especialistas apontam que a colheita histórica de milho poderá fortalecer a posição do Brasil como um dos maiores exportadores mundiais do cereal. A expectativa é que, com o avanço do segundo semestre e uma possível retomada da demanda externa, os embarques aumentem e ajudem a escoar os estoques internos, contribuindo para algum equilíbrio nos preços.

A produção recorde também evidencia a resiliência e a capacidade técnica do agronegócio brasileiro, que vem ampliando a produtividade mesmo diante de desafios climáticos e econômicos. A manutenção dessa competitividade, no entanto, dependerá de políticas públicas que garantam segurança de renda ao produtor e ampliem o acesso a mercados internacionais.

No contexto atual, o desafio está em conciliar o êxito produtivo com a sustentabilidade econômica da cadeia. Com a colheita ainda em andamento, o mercado segue atento às próximas movimentações da demanda interna e externa, além de eventuais medidas governamentais que possam interferir no fluxo de comercialização.