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Homem morre após ser preso por depredar unidade de saúde e caso levanta suspeitas sobre lesões corporais durante custódia

Luiz Carlos Jebailhe, de 53 anos, estava em situação de rua, foi detido por danos à UPA e faleceu em hospital com hematomas de origem indefinida; morte foi registrada como fato atípico.

Página 1 News

07 de Agosto de 2025 - 15:22

Homem morre após ser preso por depredar unidade de saúde e caso levanta suspeitas sobre lesões corporais durante custódia
Imagens - Direto do Fato

Luiz Carlos Jebailhe, de 53 anos, morreu sob custódia do Estado após ser preso em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, acusado de depredar uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) localizada no bairro São Francisco. O caso, registrado como “morte decorrente de fato atípico”, ocorreu no dia 6 de agosto e está cercado de contradições e sinais que exigem investigação rigorosa por parte das autoridades competentes.

A detenção ocorreu no dia 27 de julho. Segundo o boletim de ocorrência, Luiz, que vivia em situação de rua e era usuário de drogas, segundo sua filha, foi conduzido à delegacia após danificar a estrutura da unidade de saúde. Ele permaneceu custodiado na cela da delegacia, mas logo passou a apresentar sintomas preocupantes, como tosse com sangue.

Diante do quadro clínico, a polícia o encaminhou à UPA do bairro Tiradentes. De lá, ele foi transferido a um hospital, onde veio a óbito dias depois. No entanto, a causa da morte não foi declarada pela médica responsável pelo atendimento final. Segundo consta no boletim policial, a profissional se recusou a preencher o atestado de óbito alegando a presença de hematomas suspeitos no corpo do paciente, como lesões na região do supercílio esquerdo, na lateral do abdômen e na área cervical. As marcas, de etiologia indeterminada, não condiziam com a descrição do quadro clínico apresentado.

Esse detalhe muda o rumo da ocorrência e transforma a morte em uma questão pública, exigindo transparência da Polícia Civil e atuação firme de órgãos como o Ministério Público e a Defensoria Pública. A morte de Luiz Carlos não pode ser tratada como um episódio isolado. Trata-se de uma possível falha grave no dever do Estado de garantir a integridade física de indivíduos sob sua custódia mesmo aqueles em conflito com a lei.

Casos como este revelam uma realidade frequentemente negligenciada nas instituições policiais e nas políticas públicas de saúde e assistência social: a ausência de protocolos eficazes para o tratamento digno de pessoas em vulnerabilidade extrema. Luiz Carlos não era apenas um detento. Era um cidadão, um ser humano em situação de rua, dependente químico e, ao que tudo indica, com problemas de saúde que exigiam cuidado e atenção especializada, e não abandono.

A classificação do caso como “fato atípico” não encerra a responsabilidade do Estado. Pelo contrário: reforça a necessidade de apuração rigorosa e técnica sobre as circunstâncias da morte. Se comprovada negligência, omissão ou abuso, as instituições envolvidas devem ser responsabilizadas nos moldes da legislação vigente.

A família de Luiz Carlos aguarda respostas. A sociedade também. O que está em jogo vai além da causa da morte. Trata-se de respeito à dignidade humana, à justiça e à função constitucional das instituições de proteger todos os cidadãos — inclusive os que estão à margem.