Mato Grosso do Sul
Lei transforma tuiuiú em ave-símbolo do Pantanal Sul-mato-grossense
O reconhecimento ocorreu devido à relevância ecológica e cultural.
Correio do Estado
25 de Junho de 2025 - 14:13

O tuiuiú (Jabiru mycteria) foi decretado nesta terça-feira (24), por meio da Lei nº 6.432, como ave símbolo oficial do Pantanal Sul-mato-grossense. O reconhecimento ocorreu devido à relevância ecológica, cultural e turística para a região.
A lei, que havia sido aprovada em 25 de março pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS), foi sancionada pelo governador Eduardo Riedel.
Acontece que, muito antes de virar lei, a ave já era símbolo representativo do bioma. Em lojas de lembrancinhas turísticas, seja no aeroporto ou em mercadões, o tuiuiú está sempre presente como um dos principais souvenirs à venda.
A espécie
Com até 1,6 metro de altura, 1,4 metro de comprimento e chegando a pesar até 8 kg, o tuiuiú é a maior ave voadora do Pantanal. De asas abertas, é ainda mais esplendoroso, com uma envergadura que pode chegar a 3 metros, de uma ponta à outra das asas.
O animal possui parentesco com a cegonha (Ciconia ciconia) e, assim como ela, voa com o pescoço e pernas esticados.
Classificado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) como Pouco Preocupante, em relação ao risco de extinção, a espécie vive de 30 a 40 anos e estima-se que haja 85 mil exemplares em toda a América Latina.
O tuiuiú se alimenta de peixes, moluscos, répteis, insetos e pequenos mamíferos. A ave também cumpre um papel essencial no ecossistema pantaneiro ao se alimentar de peixes que morrem por falta de oxigênio nas épocas de seca e evitar que as águas sejam contaminadas pela putrefação dos animais.
É também durante esse período de seca que ocorre o período reprodutivo do tuiuiú, que aproveita para se alimentar dos peixes que ficam presos nas lagoas, baías e corixos, facilitando sua pesca. O mussum (Symbranchus marmoratum), a traíra (Hoplias malabaricus) e o grande caramujo aquático pulmonado (Pomacea) são muito utilizados pela ave para alimentar os filhotes.
Em Três Lagoas, por exemplo, aves da espécie são vistas há anos durante esse período na Lagoa Maior, local onde param para se alimentarem antes de seguirem o fluxo migratório.
Resistência ecológica
Um hábito marcante dos tuiuiús é o fato de que utilizam sempre o mesmo local para fazer seus ninhos, que são consideradas as maiores estruturas construídas por aves no Pantanal.
Localizados nas árvores mais altas, as construções são reutilizadas a cada ano, sempre com acréscimo de material. Dessa forma, podem ir crescendo até atingirem 1,85 m de diâmetro e 70 cm de altura, na média. Há registro de ninho com 3 m de diâmetro.
Feitos de galhos mais grossos na parte externa, os ninhos são forrados no interior com capins e plantas aquáticas. A construção fica tão sólida ao final do período reprodutivo, devido ao pisoteio das aves, que é capaz de sustentar uma pessoa adulta sobre ele.
Infelizmente, o período reprodutivo da espécie coincide com a época em que ocorrem grandes incêndios no Pantanal. Por isso, não é incomum ver ninhos serem atingidos pelas chamas. Em 2020, um ninho de tuiuiú, considerado ponto turístico na BR-262, foi queimado. Posteriormente, uma iniciativa da Embrapa com a Energisa construiu um ninho artificial no mesmo local e o casal de tuiuiús voltou a utilizá-lo.
Símbolo cultural
Como símbolo do Pantanal, mesmo que até então não oficialmente, a ave já estava presente em muitas representações artísticas de Mato Grosso do Sul. Quem chega ao estado pelos ares, é recebido logo na saída do Aeroporto de Campo Grande pelo Monumento do Pantanal Sul, popularmente conhecido como “Tuiuiús do Aeroporto”.
A obra, de autoria do artista plástico sul-mato-grossense Cleir Ávila, é formada por três aves da espécie batizadas de Zé Bicudo, Majestoso e Asa Branca. Segundo o criador, um dos principais cartões-postais de Campo Grande, foi feito pensando no design das aeronaves, onde cada ave representa um fase do voo: pouso, abastecimento e decolagem.
“É uma alegria muito grande poder novamente revitalizar essa obra, 25 anos após sua criação. Me lembro que, observando o voo dos tuiuiús, percebi a semelhança com a aerodinâmica das asas das aeronaves, e foi quando me dei conta de que nada poderia representar melhor o Pantanal e o aeroporto que esse movimento aéreo da ave”, conta Cleir.
O monumento passa por restauração desde abril deste ano, após um das aves ter caído em decorrência de um temporal que atingiu a Capital em dezembro de 2023.
Outra representação artística das aves como símbolo de MS foi feita pelo ilustrador fluminense Gustavo Almeida. Na série "Ordem e Porrada", o artista publicou em 2022, no seu Twitter, representações das 27 unidades federativas do país como personagens de luta.
Pelas mãos de Gustavo, Mato Grosso do Sul foi representado como um híbrido de tuiuiú com arara-azul.




