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Policial

Fronteira com a Bolívia bate recorde de assassinatos

Dos 75 homicídios registrados na região fronteiriça, 19 ocorreram em Corumbá, maior número desde 2020.

Correio do Estado

22 de Outubro de 2025 - 09:13

Fronteira com a Bolívia bate recorde de assassinatos
Jonathan Medeiro da Fonseca foi morto na tarde de segunda-feira; ontem, outro homem foi assassinado em Pedro Juan Caballero - Ponta Porã

A linha internacional entre Corumbá e a Bolívia é a maior responsável pelo aumento no número de assassinatos na região fronteiriça do Estado neste ano, com 19 vítimas, um número recorde nos últimos cinco anos, segundo dados registrados até o dia 14 deste mês.

Em entrevista à reportagem, o titular da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul (Sejusp), Antonio Carlos Videira, revelou que o número de homicídios dolosos não preocupa as autoridades estaduais até o momento, visto que, segundo ele, não houve um aumento uniforme no período.

Porém, Videira afirma que a região de fronteira entre Corumbá e as cidades bolivianas de Puerto Quijarro e Puerto Suárez é para onde a atenção das forças policiais sul-mato-grossenses estava voltada nos últimos meses, já que a quantidade de casos de assassinatos foi atípica em comparação com outros anos.

“O que de fato aconteceu foi um exponencial crescimento destes casos na região de Corumbá, motivado por conflitos entre pessoas ligadas a diversos crimes. A situação na região de Corumbá foi contida a partir do mês de agosto e tem se mantido estabilizada”, reforça o secretário ao Correio do Estado.

Segundo dados disponibilizados pela Sejusp, Corumbá foi responsável por 19 dos 75 homicídios dolosos registrados este ano, mais que o dobro do número contabilizado entre janeiro e outubro de 2024, quando foram registrados nove assassinatos. Importante ressaltar que o portal de estatísticas da Sejusp foi atualizado somente até o dia 14 deste mês.

Em comparação com dados de 2021, 2022 e 2023, a cidade atingiu um recorde nos últimos 10 meses, visto que nos anos citados foram catalogados 15, 17 e 18 homicídios dolosos na região de fronteira, respectivamente.

Vale lembrar que ainda falta ser contabilizado o restante deste mês pela Sejusp, abrindo a possibilidade de este ano também ultrapassar as marcas de 2020 e 2019, quando foram 20 e 21 assassinados em Corumbá, respectivamente.

Sobre a “pacificação” conquistada a partir de agosto mencionada por Videira, há controvérsias. Nos cinco primeiros meses deste ano foram, 14 mortos. Porém, em junho e julho não houve ocorrências de homicídios.

No mês seguinte houve o retorno de assassinatos na cidade, com quatro vítimas, e, em setembro, ocorreu apenas uma morte. Até o momento, não ocorreram registros neste mês.

CASO RECENTE

Um dos exemplos mais recentes de homicídio doloso em Corumbá ocorreu na tarde do dia 13 de agosto, quando João Farias da Silva, de 53 anos, foi assassinado com tiros na cabeça enquanto aguardava em um ponto de ônibus.

Por meio de imagens de câmeras de segurança, foi possível constatar que um motoqueiro chegou próximo de onde João estava, desceu do veículo e disparou dois tiros contra a vítima.

Diante da cena, o delegado responsável pelo caso acreditava que João e o suspeito se conheciam, visto que a dinâmica do crime aponta para alguma relação entre os dois. Quatro dias depois, Aldo da Silva Paim, de 31 anos, foi preso pela Polícia Civil suspeito de ser o autor do assassinato.

Inclusive, Aldo já era considerado foragido desde o início do ano, quando rompeu a tornozeleira eletrônica que utilizava por decisão judicial, deixando de cumprir as medidas impostas.

PERIGO

Como reportado ontem pelo Correio do Estado, os municípios de Mato Grosso do Sul que fazem fronteira com os países vizinhos são responsáveis por 2 a cada 10 assassinatos no Estado este ano, registro impulsionado pela “guerra” de facções que tentam tomar o controle do tráfico na região fronteiriça.

Em Mato Grosso do Sul, 13 municípios fazem fronteira com o Paraguai ou a Bolívia, são eles: Corumbá, Ladário, Porto Murtinho, Caracol, Bela Vista, Antônio João, Ponta Porã, Aral Moreira, Coronel Sapucaia, Paranhos, Sete Quedas, Japorã e Mundo Novo.

Juntos, eles registraram 75 vítimas de homicídios dolosos este ano, o que representa 21,43% dos assassinatos no Estado.

Além disso, em relação ao mesmo período do ano passado, ou seja, de janeiro a outubro, houve um aumento de 27,12% nas vítimas de homicídio doloso. Em 2024, foram 59 assassinados na fronteira.

Sobre isso, o secretário afirma que sempre houve interesse dos traficantes nos limites internacionais entre o Brasil e os países vizinhos, principalmente de organizações criminosas.

“O interesse do crime organizado internacional nas fronteiras de Brasil e Paraguai e Brasil e Bolívia é por óbvio crescente, em razão da capacidade de produção e distribuição de drogas destes países, além de toda a rede que o mercado ilícito exige”, explica.

É importante frisar que todos os números citados são dos casos que ficam sob responsabilidade de Mato Grosso do Sul, já que os assassinados “do outro lado do muro” são de encargo das forças policiais estrangeiras, como os atentados que ocorreram nesta semana.

Na segunda-feira, Jonathan Medeiro da Fonseca, de 36 anos, foi executado no estacionamento do Shopping China, em Pedro Juan Caballero (PY), atingido por pelo menos 16 tiros na cabeça, no rosto e no peito. O brasileiro concorreu a vereador nas eleições de 2024 pelo município de Coronel Sapucaia.

Ontem, o comerciante César Michel Arguello, de 37 anos, morreu após ser alvejado com 14 tiros, conforme apurou a Polícia Nacional, novamente na cidade de Pedro Juan Caballero, que faz divisa com Ponta Porã.

Inclusive, sobre cooperações com forças policiais dos países vizinhos, Videira disse que há muito o que melhorar, até pela importância de comunicação entre as cidades fronteiriças.

“Em relação à cooperação internacional, há muito ainda que se avançar, principalmente por parte dos Estados nacionais, que, por meio de suas representações, podem e devem compartilhar informações e estabelecer uma espécie de comando bipartite, como já se faz na tríplice fronteira em Foz do Iguaçu e em outras práticas exitosas como a da Europa”, destaca o secretário.