Policial
Sequestro de filha de megatraficante intriga autoridades em MS
Filha de Gerson Palermo foi mantida em cárcere privado no fim de semana e teria sido agredida para "devolver" dinheiro.
Correio do Estado
28 de Outubro de 2025 - 15:40

O sequestro da filha de Gerson Palermo, um dos maiores traficantes do Brasil e que está foragido desde 2020, aconteceu neste fim de semana. Ela foi solta logo depois. Apesar de um homem ter sido preso e a jovem, de 25 anos, ter colocado a “culpa” do cárcere privado no próprio pai, as autoridades disseram que ainda não têm certeza sobre as motivações no crime e nem sobre o mandante.
A jovem foi sequestrada na noite de sexta-feira e foi liberada na madrugada de sábado e, de acordo com as informações repassadas por ela à polícia, Palermo teria ligado para a jovem, na sexta-feira, afirmando que mandaria alguém entregar uma quantia em dinheiro a ela.
Na ligação, o pai disse que o valor seria para ajudar nos custos do tratamento de saúde da avó, que está acamada. Quando essa pessoa chegou, ela entrou no veículo e foi sequestrada. A jovem afirmou que era cobrada para devolver um dinheiro ao pai, porém, alega não estar em posse desse valor.
Já a defesa de Palermo afirmou que ele teria pedido para que sua filha “guardasse” alguns milhares de dólares antes de ela ser sequestrada e mantida em cárcere privado no Bairro Moreninhas, em Campo Grande, mas nega envolvimento com o crime.
Conforme o advogado do traficante, Amilton Ferreira, o pai teria deixado com a jovem a quantia de cerca de US$ 10 mil (cerca de R$ 53 mil na cotação atual), que seria proveniente da venda de gado.
Ao Correio do Estado, o advogado de Gerson Palermo, revelou que a jovem não estaria em débito com seu pai e muito menos teria alguma dívida. “Nunca um pai e uma mãe mandam sequestrar um filho, sempre acontece ao contrário”.
Ainda acrescentou que, neste momento, Palermo não pensa em se entregar às autoridades, mesmo colecionando condenações graves e foragido há mais de cinco anos.
Segundo o delegado que investiga o caso, Roberto Guimarães, da Delegacia Especializada de Repressão a Assaltos a Banco e Sequestros (Garras), a polícia ainda não pode garantir o envolvimento ou não de Palermo no sequestro.
“A vítima apresentou sua versão, de que teria sido sequestrada por uma questão de dívida, de dinheiro, de um foragido da Justiça, o senhor Gerson Palermo. Se o senhor Gerson e a esposa dele têm envolvimento ou não, tudo isso ainda será levantado. O sequestro ocorreu de sexta-feira para sábado, e hoje [segunda-feira] tivemos a confirmação de que o sujeito de 34 anos que foi preso em flagrante passou por audiência de custódia e teve o flagrante convertido em prisão preventiva”, disse o delegado.
“Quem são os demais envolvidos e qual a dimensão de tudo isso? Hoje a gente não tem como provar muitas coisas, e tudo está sendo apurado”, completou Guimarães.
SEQUESTRO
Durante o período em que a jovem foi mantida em cativeiro, os sequestradores enviaram fotos e mensagem de áudio da vítima para o marido dela, que acionou o Garras.
Após ser libertada, durante a tarde de sábado, a jovem disse em depoimento que sofreu violência física e psicológica no cativeiro, incluindo ameaças de mutilação, coronhadas, chutes e intimidações de morte. O companheiro da vítima também foi ameaçado caso não entregasse o dinheiro do resgate, que não chegou a ser pago.
A polícia prendeu uma das pessoas, que seria o proprietário do imóvel ao qual a jovem foi mantida como refém, Reinaldo Silva Farias, de 34 anos, e investiga a participação de ao menos mais duas pessoas.
QUEM É GERSON PALERMO
Com quase 70 anos de idade, Gerson Palermo tem passagens pela polícia desde o início da década de 1990, na maioria das vezes por tráfico de drogas.
Mesmo conhecido por ser um dos maiores traficantes do Brasil e chefão do Primeiro Comando da Capital (PCC) em Mato Grosso do Sul, ganhou fama nacional após liderar o sequestro de um Boeing da Vasp, que saiu de Foz do Iguaçu (PR) com destino a São Luís (MA), em agosto de 2000.
Com 61 passageiros e seis tripulantes, Palermo e cinco ajudantes desviaram o voo, fazendo pouso forçado no interior do Paraná, em Porecatu. Como resultado do crime, foram levados cerca de R$ 5,5 milhões que estavam no compartimento de carga do avião e os sequestradores fugiram em um carro, também roubado.
Duas semanas depois o traficante foi preso em São Paulo, com apenas R$ 66 mil do dinheiro roubado.
Posteriormente, foi condenado a 20 anos de prisão por formação de quadrilha. Na época, Palermo já acumulava 14 indiciamentos por tráfico e um por roubo, além de uma condenação de 10 anos em 1991, da qual ele cumpriu apenas sete anos, ganhando liberdade em 1998.
Sua última prisão ocorreu em 2017, após deflagração da Operação All In, que prendeu 16 traficantes ao redor do Brasil, incluindo Palermo, que foi localizado em Campo Grande.
A ação da Polícia Federal desmantelou uma organização criminosa que atuava no tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro, da qual o traficante sul-mato-grossense seria o líder.
Apontado como líder da organização, o traficante foi condenado a 59 anos e nove meses de prisão em agosto de 2019. Porém, oito meses depois, o regime fechado se transformou em prisão domiciliar, após decisão do desembargador Divoncir Schereiner Maran, que acatou o habeas corpus apresentado pela defesa. Desde então, Palermo está foragido.




