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Política

Com delação de Cid, apoio de Bolsonaro ficou "tóxico", dizem cientistas políticos

Informações do tenente-coronel do Exército e ex-ajudante de ordens do ex-presidente podem "trazer mais luz" sobre o caso.

Correio do Estado

12 de Setembro de 2023 - 08:38

Com delação de Cid, apoio de Bolsonaro ficou "tóxico", dizem cientistas políticos
O tenente-coronel do Exército Mauro Cid durante depoimento - Antônio Cruz/Agência Brasil.

A homologação pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), no sábado, da delação premiada do tenente-coronel do Exército Mauro Cid relativa ao escândalo das joias faz com que o ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL) deixe de ser um cabo eleitoral poderoso para se transformar em político “tóxico” a ser escondido no palanque, segundo análise de cientistas políticos ouvidos pelo Correio do Estado.

Para o cientista político Tércio Albuquerque, sem dúvida nenhuma que a proposta de delação apresentada por Mauro Cid vai impactar o PL no Brasil como um todo, particularmente em Mato Grosso do Sul, provocando uma reviravolta.

“Podemos dizer que caem por terra as pretensões do deputado federal Marcos Pollon [PL] de concorrer à Prefeitura de Campo Grande em 2024. Isso porque ele tem uma grande expectativa de que Bolsonaro possa fazer um movimento político que acabaria por influenciar diretamente na sua candidatura e, dessa forma, fortalecer também a candidatura do ex-presidente em 2026, caso reverta na Justiça sua cassação. Porém, caso Mauro Cid apresente algum tipo de prova que comprometa Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, a influência bolsonarista perderá força”, declarou Albuquerque.

Ele lembrou que quem sustenta o bolsonarismo é o próprio Bolsonaro. Com o ex-mandatário enfraquecido em razão de problemas na Justiça, o PL e seus correligionários vão para o ralo com o discurso de incorruptível.

“É possível até que uma provável derrocada de Bolsonaro possa afetar, além das lideranças do PL na Capital, também a candidata da senadora Tereza Cristina [PP], a atual prefeita Adriane Lopes [PP], fortalecendo a candidatura do PSDB, que terá no comando o ex-governador Reinaldo Azambuja e o governador Eduardo Riedel, dois políticos muito bem avaliados pela população”, projetou.
Tércio Albuquerque pontuou que, se acontecer uma provável prisão de Bolsonaro, a situação complicará ainda mais, pois o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), virá para Mato Grosso do Sul com muita força e tentará, seja por aliança, seja de forma indireta, emplacar alguém do PT também nessa disputa política pela prefeitura da Capital.

“Dessa forma, Lula fortaleceria o PT no Estado, portanto, estamos com um cenário bastante complexo e que vai ser redesenhado a partir do momento em que tivermos conhecimento dos pontos contidos nessa delação”, alertou.

INCÓGNITA

O cientista político Daniel Miranda lembrou que, por enquanto, o conteúdo da delação de Mauro Cid ainda é uma incógnita em relação a quais pessoas estão implicadas. Porém, de acordo com ele, independentemente da extensão e das pessoas envolvidas de fato, enquanto permanecer fechado o conteúdo dessa delação premiada, não será possível mensurar suas implicações, principalmente quais seriam as evidências que o tenente-coronel teria apresentado.

“Porque não basta, é claro, a pessoa dizer que fulano ou beltrano é culpado de qualquer tipo de crime, ele precisa apresentar provas que vão além do seu testemunho pessoal. Então, enquanto não houver clareza da extensão dessa delação, as pessoas que buscam o apoio político de Bolsonaro ficarão realmente em uma corda bamba. É o que está acontecendo aqui em Campo Grande com a prefeita Adriane Lopes, mas também em São Paulo, com o prefeito Ricardo Nunes, que apoia Bolsonaro, mas, ao mesmo tempo, procura se manter a uma certa distância, caso esse apoio seja excessivamente nocivo”, disse.

Daniel Miranda acrescentou que, no caso específico da prefeita Adriane Lopes, ela vai se resolver quando avaliar a extensão da delação e, consequentemente, o impacto na imagem de Bolsonaro.

“Como que essa imagem manchada vai repercutir nas eleições do próximo ano? Porque pode acontecer de as pessoas ainda considerarem, por exemplo, que, apesar de o apoio de Bolsonaro já não ser assim tão forte no próximo ano, ainda ser o suficiente para atrair votos para a prefeita. Por isso, mais importante do que a delação em si é avaliar qual o estrago que ela fará na imagem do ex-presidente junto ao seu eleitorado”, considerou.

Ele pontuou ainda que são os próprios bolsonaristas que estão se movimentando atrás do apoio de Bolsonaro. “Ele não me parece ser uma pessoa que esteja se movimentando no sentido de construir candidaturas pelo Brasil afora. Penso que existe um movimento muito mais forte dos potenciais candidatos bolsonaristas em direção a ele do que o contrário”, constatou.

SAIBA

A delação premiada de Mauro Cid está mexendo nos nervos dos Bolsonaro. Embora a família adote um discurso de perseguição política, nos bastidores o clima é de “pânico”. Interlocutores que cercam o ex-presidente dizem que a grande preocupação é que novas denúncias contundentes possam surgir, além das existentes que já circulam na imprensa.