Logomarca

Um jornal a serviço do MS. Desde 2007 | Quinta, 18 de Abril de 2024

Saúde

'Não há intenção de compra de vacinas chinesas', diz Ministério da Saúde um dia após anunciar negociação para adquirir 46 milhões de doses

G1

21 de Outubro de 2020 - 16:00

'Não há intenção de compra de vacinas chinesas', diz Ministério da Saúde um dia após anunciar negociação para adquirir 46 milhões de doses

O secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, afirmou, nesta quarta-feira (21), que "não há intenção de compra de vacinas chinesas" contra a Covid-19. A afirmação foi feita um dia depois de a própria pasta anunciar uma negociação para adquirir 46 milhões de doses da CoronaVac, vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac contra a Covid-19.

"Não houve qualquer compromisso com o governo do estado de São Paulo ou seu governador no sentido de aquisição de vacinas contra Covid-19", disse Franco. "Tratou-se de um protocolo de intenção entre o Ministério da Saúde e o Instituto Butantan, sem caráter vinculante. Não há intenção de compra de vacinas chinesas", acrescentou o secretário. (Veja íntegra da fala ao final desta reportagem).

As declarações do secretário-executivo vão na contramão de uma nota divulgada na terça-feira (20) pelo próprio Ministério da Saúde, que anunciava a intenção de compra. O texto previa, inclusive, a edição de uma medida provisória para disponibilizar R$ 1,9 bilhão para a aquisição (leia um trecho abaixo).

"Além das vacinas já adquiridas previamente (AtraZeneca e Covax), o Governo Federal assinou protocolo de intenções para a compra de 46 milhões de doses da Butantan-Sinovac, após negociações com o Instituto Butantan. Para tanto, será editada uma nova Medida Provisória para disponibilizar crédito orçamentário de R$ 1,9 bilhão. O Ministério da Saúde já havia anunciado, também, o investimento de R$80 milhões para ampliação da estrutura do Butantan – o que auxiliará na produção da vacina", diz o texto de terça-feira.

Ministro fala em 'compromisso'

O anúncio do governo federal, de intenção de compra, foi feito depois de uma reunião do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, com os 27 governadores, também na terça-feira.

O ministro afirmou que a pasta enviou uma carta ao Instituto Butantan, em São Paulo, na qual se comprometia a adquirir as vacinas fabricadas pelo instituto até o início de janeiro. O Butantan tem um contrato com a Sinovac de fornecimento de doses e de transferência de tecnologia da CoronaVac.

"Nós já fizemos uma carta em resposta ao ofício do Butantan e essa carta, ela é o compromisso da aquisição das vacinas que serão fabricadas até o início de janeiro, em torno de 46 milhões de doses. E essas vacinas servirão para nós iniciarmos a vacinação ainda em janeiro", disse o ministro.

O contrato do instituto com a Sinovac prevê que a farmacêutica envie 6 milhões de doses da vacina já prontas até dezembro, enquanto as outras 40 milhões teriam o processamento finalizado (o envasamento) no Butantan.

De acordo com Dimas Covas, diretor do Butantan, até o final do ano o instituto teria as 46 milhões de doses prontas. O contrato para transferência de tecnologia previa que o instituto pudesse fabricar as vacinas em território brasileiro a partir de 2021.

O governo paulista também anunciou a previsão de adquirir mais 15 milhões de doses até fevereiro de 2021, chegando ao total de 61 milhões com verba própria. A expectativa era que, com o dinheiro do governo federal, mais 40 milhões fossem adquiridas, chegando a 100 milhões até maio de 2021.

Presidente e governador

Mais cedo, também nesta quarta, o presidente Jair Bolsonaro havia afirmado, em uma rede social, que o Brasil não irá comprar "a vacina da China".

A afirmação foi feita em resposta a uma seguidora que pediu a exoneração de Pazuello. "Bom dia presidente. Exonera Pazuelo urgente, ele está sendo cabo eleitoral do Doria. Ministro traíra", escreveu a seguidora, se referindo a João Doria (PSDB), governador do estado de São Paulo.

"Tudo será esclarecido ainda hoje. Não compraremos a vacina da China", disse o presidente. Segundo auxiliares, Bolsonaro desautorizou Pazuello.

Em coletiva de imprensa no Senado, o governador respondeu que "não devemos avaliar a origem da vacina, mas sua eficácia".

Veja íntegra da fala do secretário-executivo da Saúde, divulgada em nota de esclarecimento nesta quarta (21):

NOTA DE ESCLARECIMENTO

"Sobre a reunião de ontem, realizada no Ministério da Saúde, por meio de vídeo conferência com governadores, esclarece-se o seguinte:

Houve uma interpretação equivocada da fala do Ministro da Saúde. Em momento nenhum a vacina foi aprovada pela pasta, pois qualquer vacina depende de análise técnica e aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) e pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec).

Destaca-se que o governo Federal, por intermédio do Ministério da Saúde, tem envidado esforços na direção de proteger a população por intermédio de várias ações, como:

  • a adesão na iniciativa Covax Facility, com a opção de compra de vacinas;
  • o contrato de encomenda tecnológica AztraZeneca/Oxford com insumos estrangeiros em um primeiro momento para o escalonamento de 100,4 milhões de doses e transferência tecnológica para produção própria de insumos. O que possibilitará que a Fiocruz produza mais 110 milhões de doses no segundo semestre de 2021.

Não houve qualquer compromisso com o governo do estado de São Paulo ou seu governador, no sentido de aquisição de vacinas contra Covid-19.

Tratou-se de um protocolo de intenção entre o Ministério da Saúde e o Instituto Butantan, sem caráter vinculante, grande parceiro do MS na produção de vacinas para o Programa Nacional de Imunizações (PNI).

Mais uma iniciativa para tentar proporcionar vacina segura e eficaz para a nossa população, neste caso com uma vacina brasileira, caso fiquem disponíveis antes das outras possibilidades. Não há intenção de compra de vacinas chinesas.

A premissa para aquisição de qualquer vacina prima pela segurança, eficácia (ambos conforme aprovação da Anvisa), produção em escala, e preço justo. Quando qualquer vacina estiver disponível, certificada pela Anvisa e adquirida pelo Ministério da Saúde, ela será oferecida aos brasileiros por meio do PNI e, no que depender desta Pasta, não será obrigatória."