Invasão de lote no Capão Bonito 2 com plantio de soja gera revolta entre assentados

A invasão de um lote no Assentamento Capão Bonito 2, em Sidrolândia, na madrugada desta quarta-feira, provocou indignação entre os assentados, que temem um “efeito cascata” com  novas ocupações irregulares, que estariam sendo incentivadas por lideranças de alguns movimentos sociais contrários a exploração dos lotes com o plantio de culturas tradicionalmente do agronegócio.

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O lote invadido, de 18 hectares, pertence a dona Jocelaine Aparecida Hsmermuller, herdeira do pai, um dos beneficiários originais do programa de reforma agrária, já falecido. A área está cultivada com soja. Segundo relatos de vizinhos, um casal chegou durante a madrugada em um caminhão carregado de mudança e se instalou no local, alegando que por estar desocupado, o terreno poderia ser retomado.

“Eles chegaram de madrugada e descarregaram tudo. Como a dona não mora aqui, acharam que podiam tomar conta”, contou um assentado vizinho que preferiu não se identificar.

A Polícia Militar enviou uma viatura para preservar a integridade física do invasor que chegou a arrombar a porta da casa. Os vizinhos impediram que o casal colocasse os móveis dentro da residência.

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A tentativa de invasão ocorre em meio à operação de vistoria do Incra, iniciada em julho, por determinação da Controladoria-Geral da União (CGU). Técnicos estão fiscalizando lotes em Sidrolândia para apurar denúncias de comercialização irregular e de arrendamento para o cultivo de grãos em larga escala — como soja, milho e mandioca.

O Assentamento Capão Bonito 2, criado há 35 anos, possui 308 lotes distribuídos em 8.231 hectares. A região se destaca pela produção agrícola e pela pecuária, mas vive um clima de apreensão desde o início das fiscalizações. Muitos produtores temem sanções, como a retomada de áreas por parte do Incra.

“Ninguém foi informado oficialmente sobre os motivos da fiscalização. Surgem boatos de que podem retomar lotes de quem comprou ou arrendou de antigos beneficiários”, relatou outro assentado.

O superintendente regional do Incra em Mato Grosso do Sul, Paulo Roberto, informou que o órgão está apenas cumprindo determinação do Ministério Público Federal (MPF). Segundo ele, qualquer medida mais drástica dependerá do resultado das investigações.

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No ano passado, o deputado federal Zeca do PT criticou, em discurso na Assembleia Legislativa, o avanço do arrendamento nos assentamentos e cobrou providências do Incra. Ele defendeu a retomada das áreas em casos comprovados de irregularidades.

De acordo com um levantamento da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação), Sidrolândia possui 4.456 lotes de assentamentos, totalizando 48 mil hectares, dos quais cerca de 30 mil já foram ocupados ou utilizados irregularmente. O município reúne 4.483 beneficiários da reforma agrária, sendo 2.382 pequenos produtores. Ainda há 1.169 lotes vazios, sem ocupação definitiva.