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Economia

Preço da carne deve se manter em alta por mais dois anos

IG

25 de Fevereiro de 2011 - 17:00

De acordo com os analistas, boa parte do problema está relacionado com o aumento da demanda. Com o desemprego nos menores níveis da história do País e a renda média da população avançando, o apetite do consumidor brasileiro pelos cortes de carne bovina vem aumentando. Mas a produção não tem acompanhado essa ampliação da demanda.
O resultado é a falta de matéria-prima para abastecer os frigoríficos e a elevação dos preços no varejo. Somente no ano passado, a carne bovina subiu cerca de 35%. Mas alguns cortes como a picanha e o alcatra tiveram altas superiores a 40% nos últimos 12 meses. Em 2010, a inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 5,91%. Em 12 meses, até janeiro, o indicador acumula alta de 5,99%.
De acordo com o analista especializado no setor de agronegócios Alex Lopes, da Scot Consultoria, para cada 1% de aumento na renda, o consumo de carne cresce 0,5%. “Com isso, os cortes traseiros do boi, que concentram algumas das partes mais nobres e com maior valor agregado, iniciaram uma trajetória de alta”, disse.
Fábio Romão, economista da consultoria LCA, destaca que os preços da carne já estão em nível historicamente alto, e não deve haver uma nova elevação nos moldes de 2010, mas sim a manutenção dos preços no atual patamar elevado. “Projetamos uma alta da carne em torno de 2% no IPCA de 2011”, disse Romão. “Mas os preços seguirão pressionados em 2011 e 2012. Poderemos ver, por conta do ciclo de safra, pequenas quedas ou altas”, destacou.
O analista da Scot argumenta que este ciclo pode se estender um pouco mais, até 2013, já que existe falta de gado para abate e o ciclo de engorda do boi leva cerca de três anos.
Segundo Lopes, desde 2008 está havendo uma elevação nos preços do boi gordo dentro de um processo de alta do ciclo agropecuário, com os preços no atacado tendo reajustes e o varejo repassando ao consumidor esses aumentos.
“Em 2009, com alguns reflexos da crise econômica iniciada em setembro do ano anterior, o preço da carne deu uma pequena recuada. As pessoas estavam segurando um pouco o consumo”, disse Lopes. “Em 2010, a economia se recuperou com o avanço no emprego e na renda per capita e isso se refletiu no consumo de carnes. Se não fosse a crise econômica em 2008, esse ciclo teria tido início mais cedo,” acrescentou.

Alta das commodities

O consumidor sempre tem a opção de substituir a carne bovina por frango ou cortes suínos, mas essas carnes também estão em alta porque os grãos, entre eles a soja, respondem por cerca de 70% da ração animal, e estão acompanhando o ciclo internacional de alta das commodities.

Além do desequilíbrio do mercado nacional, a demanda mundial por carne bovina cresceu em 2010. O Brasil consome cerca de 80% da carne produzida no País, mas o mercado interno sofre influência da escassez de oferta do produto no mercado internaconal já que outros grandes produtores como o Uruguai, a Argentina, os Estados Unidos e a Austrália, por exemplo, também estão no limite da capacidade de produção.

Outro agravante é o fato que as nações emergentes aumentaram suas compras e os países desenvolvidos começam a dar sinais de recuperação na economia. Os Estados Unidos, por exemplo, retomaram as importações de carne bovina congelada, cozida e processada do Brasil, que estavam suspensas desde junho de 2010.

Exportações

As exportações de carne bovina do Brasil registraram receita 16% maior em 2010, saltando de US$ 4,118 bilhões em 2009, para US$ 4,795 bilhões no ano passado. Em relação ao volume, houve redução de 3% nos embarques, passando de 1,924 milhão de tonelada em 2009 para 1,864 milhão de tonelada em 2010, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).

Apesar de uma receita maior, o setor de bovinos não superou o recorde histórico registrado em 2008, quando a receita ficou em US$ 5,325 bilhões e o volume foi muito inferior ao registrado em 2010 de 1,383 milhões de toneladas. A principal razão para o crescimento da receita no ano passado foi o aumento de 18% nos preços em dólar. Em 2009, a média de preços por tonelada era de US$ 3,3 mil, enquanto em 2010 a média saltou para US$ 3,8 mil.