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Justiça

Sérgio Cabral: Seis anos de prisão, sete transferências e muitas regalias

A 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu revogar a ordem de prisão da Justiça Federal do Paraná contra Cabral.

G1

17 de Dezembro de 2022 - 08:36

Sérgio Cabral: Seis anos de prisão, sete transferências e muitas regalias
O ex-governador Sérgio Cabral deixa prédio da Justiça Federal do RJ no dia 5 de junho após acompanhar depoimento de Lula — Foto: Fábio Motta/Estadão Conteúdo.

A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou o pedido de liberdade do ex-governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral, preso desde 2016 pela Lava Jato. Com a decisão, Cabral pode ser solto a qualquer momento. Ao todo, o político cumpriu 2.219 dias de prisão, o equivalente a seis anos e 22 dias no sistema prisional do estado. A decisão de revogar a prisão foi votada nesta sexta-feira (16) por 3 a 2 pela 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF).

O ex-governador foi preso no dia 17 de novembro de 2016, na época, suspeito de comandar uma organização criminosa que fraudava licitações e cobrava propina de empreiteiras. Ao longo do processo, Cabral chegou a admitir o recebimento de valores indevidos em diversos contratos assinados durante seus dois mandatos como governador, entre 2007 e 2014.

A decisão a favor de Cabral pelos ministros do STF, nesta quinta-feira (15), derrubou a prisão preventiva do ex-governador do Rio de Janeiro. Essa era a última ordem de prisão que ainda mantinha o político na cadeia.

Os ministros decidiram por revogar a ordem de prisão da Justiça Federal do Paraná contra Cabral, anular as decisões tomadas e enviar o caso para análise da Justiça Federal do Rio. O Supremo Tribunal Federal está julgando o pedido de soltura de Sérgio Cabral

A defesa de Cabral questionava a competência da 13ª Vara Federal de Curitiba – responsável por processos da Lava Jato – para analisar o caso em que o ex-governador é acusado de receber propina por irregularidades em um contrato de terraplanagem do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, da Petrobras.

23 condenações

Antes das últimas decisões do STF, que anularam ou modificaram algumas sentenças anteriores, Sérgio Cabral chegou a ter 23 condenações em processos decorrentes da Operação Lava-Jato. Todas as penas do governador somaram 425 anos e 20 dias de prisão.

Ao todo, Sérgio Cabral foi denunciado em 35 processos decorrentes de investigações da Lava-Jato, sendo 33 na Justiça Federal e dois na Justiça do Rio (estes junto com o ex-procurador-geral de Justiça Claudio Lopes).

Segundo as investigações da força-tarefa do Ministério Público Federal, ao assumir o governo do Estado em 2007, Cabral instituiu como regra a cobrança de propina no valor de 5% dos contratos da Secretaria estadual de Obras. Além desse percentual, o ex-secretário de Obras Hudson Braga estabeleceu a chamada “taxa de oxigênio”, que consistia em cobrança de propina equivalente a 1% dos valores recebidos pelas empreiteiras nestes contratos com o governo estadual.

A última condenação de Cabral aconteceu em maio desse ano, quando a Justiça Federal determinou uma pena de 17 anos, 7 meses e 9 dias de prisão, pelo crime de corrupção passiva. Dessa vez, pelo recebimento de R$ 78,9 milhões em propina da Odebrecht para beneficiar a empreiteira nas obras do PAC Favelas, da reforma do Maracanã para a Copa de 2014, da construção do Arco Metropolitano e da implantação da linha 4 do metrô.

Revisão processual

Cabral continuava na cadeia por conta de um único mandado de prisão, expedido pelo ex-juiz Sergio Moro, em uma ação de corrupção no Comperj, em um processo julgado pela Justiça Federal de Curitiba. O julgamento da ação dos advogados do ex-governador, pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, derrubou a prisão preventiva de Cabral.

Contudo, antes disso, em dezembro de 2021, outra decisão do STF ajudou na revisão das penas impostas ao ex-governador. Na ocasião, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal decidiu que o juiz Marcelo Bretas não tinha competência em um processo que condenou Cabral a 14 anos e 7 meses de prisão por corrupção na área da saúde.

Com base nessa decisão, a defesa de Cabral e de outros réus decidiu pedir a anulação de condenações em outros processos, entre eles o caso relacionado à operação "Fatura Exposta". A operação denunciou desvios que chegaram a R$ 300 milhões entre 2006 e 2017. Cabral admitiu participação no esquema e confessou ter recebido propina de empresários do setor.

Seis presídios diferentes

Durante os seis anos de reclusão, Cabral frequentou seis unidades prisionais diferentes, nas cidades do Rio, Niterói e Pinhais, no Paraná. A última transferência do ex-governador aconteceu no dia 15 de junho, quando trocou o Grupamento Especial Prisional (GEP) do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro no Humaitá, Zona Sul do Rio, pela unidade prisional da Polícia Militar, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio. Ao todo, foram sete transferências entre presídios no período.

Assim que foi preso em novembro de 2016, Cabral foi levado para Bangu 8, em Gericinó, na Zona Oeste do Rio. Confira as outras unidades que receberam o político.

  • Maio de 2017: ele vai para Benfica, na Zona Norte.
  • Janeiro de 2018: Cabral é transferido para o Complexo Médico de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (PR), depois de denúncias sobre regalias em Benfica, como uma videoteca.
  • Abril de 2018: o ex-governador volta para Bangu 8.
  • Setembro de 2021: vai para o Batalhão Especial Prisional da Polícia Militar, em Niterói.
  • Maio de 2022: Cabral vai para Bangu 1, presídio de segurança máxima, após novas descobertas de regalias no BEP.
  • Maio de 2022: Três dias depois, Cabral chegou ao Quartel dos Bombeiros do Humaitá.
  • Junho de 2022: Cabral é transferido de volta para a unidade prisional da PM em Niterói.

Regalias na prisão

As placas de isopor instaladas no teto de sua cela para isolar o calor, uma medida para enfrentar com mais conforto os dias de sol forte, não foram as únicas regalias atribuídas a Sérgio Cabral durante os seis anos que esteve preso.

A suposta estratégia para diminuir o clima quente na cela da Unidade Prisional da Polícia Militar, em Niterói, atual residência de Cabral, vem sendo investigada pela Vara de Execuções Penais (VEP) desde abril desse ano.

Sérgio Cabral deve ser transferido para presídio de segurança máxima nesta segunda (2). Contudo, essa não foi a única suspeita de regalias ao longo do tempo de reclusão do ex-governador do Rio de Janeiro. Celulares, anabolizantes, cigarros eletrônicos e listas de encomendas a restaurantes: tudo isso já foi encontrado durante vistorias onde o ex-governador cumpria pena.

Em 2017, câmeras de vigilância de Bangu 8 (de onde o ex-governador foi transferido) mostraram que Cabral circulava livremente pela unidade, recebia encomendas e visitas fora de hora. Na época, também se apurou se ao ex-governador era concedido o direito de dormir na biblioteca da unidade prisional. O local tinha ar-condicionado.

TV de 65 polegadas

No mesmo ano, em outra unidade prisional, em Benfica, na Zona Norte, uma sala de cinema foi montada para Sérgio Cabral, com TV de 65 polegadas. Vara de Execuções Penais apura se Sérgio Cabral tem regalias na cadeia; isopor para conter calor foi achado no teto de cela. O espaço incluía aparelhos com caixas de som e um equipamento para rodar 160 filmes que foram comprados exclusivamente para as sessões na cadeia.

Farmácia de 'dar inveja'

Em 2018, também durante uma inspeção, representantes do Ministério Público encontraram uma farmácia de dar inveja a detentos de outros presídios. Os investigadores descobriram, numa enfermaria no primeiro piso da cadeia de Benfica, um ambulatório grande e uma quantidade de remédios que impressionou os membros do MP.

Camarão e presunto de Parma

Também em Benfica, o Ministério Público flagrou mais privilégios. Promotores encontraram alimentos importados na ala onde estava Cabral. Os pratos incluíam camarão, queijo francês, presunto de Parma, castanha, bolinhos de bacalhau e iogurte.

Visita de parlamentares

As regalias, segundo o MP, também favoreciam parlamentares que quisessem visitar os colegas presos em Benfica – incluindo o ex-governador. A investigação mostrou que políticos recebiam autorização de superiores para evitar os trâmites convencionais, exigidos pela Secretaria de Estado de Administração Penitenciária, para uma visitação.