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Policial

Preso estelionatário de clínicas médicas que aplicou golpes de R$ 1 milhão

Midia Max

10 de Agosto de 2012 - 13:44

Enquanto a Polícia Civil apresentava para a imprensa um estelionatário suspeito de aplicar golpes de R$ 850 mil a R$ 1 milhão em todo o país, sendo R$ 40 mil em Campo Grande nos últimos seis meses, outro médico que atua no Hospital da Unimed registrava boletim de ocorrência na manhã desta sexta-feira (10), contra Valfrido Gonzalez Filho, 33 anos, após ter depositado R$ 500 na conta bancária do golpista.

Se passando por supervisor de hospitais ou até médicos nos quais ele conhecia o tom da voz, Valfrido ligava para o setor financeiro, dizendo que ‘estaria naquele momento em uma situação complicada e que a pessoa deveria fazer a ele um depósito de urgência’. “Era o momento em que eu pressionava a atendente, dizendo que ela seria demitida se não me fizesse o depósito de imediato”, conta o estelionatário.

Em muitos dos casos a funcionária ficava tão desesperada que conversava até com o diretor para fazer o depósito, momento em que Valfrido dizia que a quantia teria de ser maior. “Conseguia R$ 300 e depois falava que estava precisando de mais dinheiro, passando sempre o número da conta de uma avó ou de terceiros”, comenta o golpista.

Na Capital já foram 13 vítimas em clínicas particulares, hospitais, uma maternidade e diversos médicos renomados da cidade

“Da mesma maneira ele ligava em hospitais do interior do Estado, como aconteceu com um médico em Maracajú, São Paulo e do Paraná para aplicar golpes. O conhecimento dos profissionais ele obtinha por meio contatos e de uma companheira que já trabalhou como atendente no Proncor e conhecia muitos profissionais”, diz o delegado Wellington de Oliveira, responsável pelas investigações.

Fora do ambiente dos hospitais, o estelionatário via a oportunidade em prefeitos, supervisores de banco e até mesmo pessoas com alguma dificuldade

“Ele dizia ser um desembargador influente, um pastor ou até bispo. Em um dos golpes ele descobriu que um prefeito possuía um processo e se fez por desembargador. Ao mesmo tempo em que falava com a vítima por telefone, simulava conversar com o advogado e com isso pedia depósitos. Neste caso ele chegou a levar R$ 300 mil”, conta o delegado Oliveira.

Já com pessoas em comum ele ligava falando que era padre ou bispo. Tirando sarro, Valfrido perguntou se a imprensa não ‘gostaria que ele fizesse uma simulação do seu trabalho’. “É muito fácil, porque todo mundo gosta de padre. E bispo é o que eu consigo mais dinheiro, fazendo um sotaque italiano misturado com paraguaio. Falo de um projeto para crianças e nessa brincadeira já ganhei muito dinheiro”, garante o golpista. Em um dos casos, segundo o delegado, uma das vítimas depositou a ele R$ 8 mil.

A entrada no mundo do crime foi em 1998, quando Valfrido foi preso pela primeira vez pelo crime de estelionato. “Tudo começou quando eu fui buscar emprego em uma empresa de transportes. Liguei para o dono, que inclusive é o mesmo até hoje, e me passei por um juiz. Disse a ele que queria que meu filho trabalhasse e pedi a colaboração dele, que deixou de atender 20 pessoas que estavam na fila de espera para falar com ele e me garantiu emprego, inclusive me chamando de excelência”, diz o golpista Valfrido.

Comparsa garante ser inocente, mas repassava possíveis vítimas a estelionatário

Parte dos golpes tiveram a colaboração de Maria Aparecida Padilha, que garante ser inocente no crime. “Esse homem é um psicopata, ele me pressionava para repassar nomes de médicos e eu era ameaçada por ele”, diz Maria, que atualmente está presa no presídio feminino da Capital pelo crime de uso de documento falso e estelionato.

”Se eu quisesse ia até ganhar dinheiro nessas eleições, porque sei de inúmeros políticos que iriam colaborar na hora comigo. Mas agora que estou enclausurado posso dizer que estou arrependido. Não pela minha família porque não tenho ninguém, o que tenho é a minha conta bancária, mas vou prestar vestibular no final do ano e quero estudar Direito”, finaliza o golpista.

O detalhe em toda essa história é que a Polícia Civil ainda precisa saber para qual presídio vai levar a vítima, já que ele teria problemas com internos. “Ele já aplicou golpes até em um preso na venda de uma casa e outros casos que ele ainda não repassou os detalhes. Então até por segurança vamos ver onde ele será encaminhado”, comenta o delegado.

Sobre a descoberta do estelionatário a Polícia Civil conta que ele foi pego se passando por um primo de nome João Honório. “Á princípio esse primo dele não sabia de nada, mas Valfrido estava foragido e, para não ser pego, utilizava o nome de um primo para não ser preso. Porém, quando ele perdeu o documento, foi à polícia registrar o extravio, sendo reconhecido e preso como o estelionatário”, fala o delegado.