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Policial

Versão de Elize que dá base a laudo é "inconsistente", diz promotor

José Cosenzo fala que relato de acusada de matar executivo contradiz IML. Documento apresentado na terça traz 53 fotos que mostram reconstituição.

G1 SP

22 de Agosto de 2012 - 09:14

O promotor de Justiça José Carlos Cosenzo disse nesta terça-feira (21) que a versão apresentada por Elize Matsunaga durante a reconstituição da morte do empresário e ex-diretor executivo da Yoki Marcos Kitano Matsunaga é "absolutamente inconsistente". O laudo da reprodução simulada do Instituto de Criminalística (IC) foi divulgado com exclusividade pelo G1 na tarde de terça. O advogado de Elize, Luciano Santoro, declarou que o documento é apenas mais um elemento de prova e preferiu não comentar contradições entre o laudo e parecer divulgado anteriormente pelo Instituto Médico-Legal (IML).

O laudo da reprodução simulada feito pelo IC em 6 de junho registrou que, segundo a versão de Elize, o tiro ocorreu a 1,94 metro de distância, que ela estava de frente para Marcos na hora do crime e que a vítima foi decapitada no dia seguinte. O exame necroscópico feito no cadáver pelo IML e divulgado em 14 de junho havia apontado que Marcos foi morto com um tiro à queima-roupa, disparado de cima para baixo e foi decapitado ainda vivo.

Elize, que é bacharel em direito, está presa pelo crime. Ela foi denunciada pelo promotor e aguarda a audiência de instrução na Justiça, na qual será decidido se ela irá a júri popular por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver.

Marcos foi morto na noite de 19 de maio. Elize confessou ter atingido o empresário com um tiro e esquartejado o corpo com uma faca. O corpo de Marcos Matsunaga foi encontrado, em pedaços, às margens de uma estrada em Cotia, na Grande São Paulo. No início de junho, Elize confessou o crime à polícia.

O documento do IC é dividido em três partes: traz uma descrição do apartamento do casal, resultados de exames de DNA de amostras de sangue colhidas no local e uma sequência de imagens de Elize monstrando a reconstituição do crime (veja as 53 fotos, na ordem em que constam no laudo).

'Direito de mentir', diz promotor
O promotor, que afirmou na noite de terça ainda não ter recebido o laudo da reprodução simulada, ressaltou que ele foi feito apenas com base nas alegações da bacharel, como é previsto. Segundo ele, Elize tem direito garantido por lei de mentir para se defender e que a versão dela está em confronto com os laudos do IML.

Cosenzo disse que se interessou particulamente por duas fotos do laudo publicadas pelo G1: a do momento em que Elize está de frente para a vítima e a que mostra, segundo a versão da ré, a forma como ela efetua o disparo. O promotor se disse intrigado. "Se o tiro foi à queima-roupa, como é que pode ser a dois metros? Segundo: se o tiro foi de cima para baixo, ela está de frente para Marcos, só se fosse uma bala bumerangue para ela fazer a curva e voltar", afirmou.

O promotor lembrou que a versão de Elize que deu sustentação ao laudo é anterior ao resultado dos exames do IML, que mostraram que a vítima foi decapitada ainda viva.

"Em todo o momento ela nega que tenha decapitado Marcos quando ele ainda estava vivo. Quando ela deu essa versão, o laudo de exame corpo delito não tinha sido divulgado. Se ela soubesse que o laudo iria contradizê-la, ela não iria dar essa versão. Ela é inteligente. E mais. Essa versão tem pouca ou nenhuma relevância porque ela estava todo o tempo com o advogado dela. Evidente que ela estava sendo orientada. Ela é tudo, menos ingênua", afirmou.

Cosenzo disse que o debate final entre a versão de Elize e a versão presente nos laudos será realizado no momento do júri. Mas, até lá, serão ouvidas testemunhas técnicas que darão o caminho tanto para o promotor quanto para a defesa.

"Na hora que tivermos o laudo, vamos ter uma bela discussão", afirmou. O promotor descarta, por ora, pedir outra reconstituição do crime para confrontar as versões. "Não tem necessidade de reconstituição. Talvez peça alguns esclarecimentos para o perito. Mas só posso dizer isso depois que tiver de posse do laudo", afirmou.

O advogado de Elize, Luciano Santoro, disse que ainda não teve acesso ao laudo oficial e classificou o documento como mais um elemento de prova do processo. "Eu vou ter que ler o laudo e requerer os esclarecimentos necessários. A Promotoria se baseia em um único laudo que é o laudo necroscópico. Eu, na verdade, enxergo de forma diferenciada. Vejo todos os elementos de prova em um contexto só. Adiciono um laudo ao outro e as provas testemunhas produzidas. Para mim, é só mais um elemento de prova."

Reconstituição do crime
No documento sobre a reconstituição, os peritos afirmam que, segundo a versão de Elize, o tiro que atingiu Marcos ocorreu a 1,94 m de distância. Ainda de acordo com o laudo, exames técnicos e de DNA comprovaram que o sangue encontrado no apartamento é mesmo da vítima.

A distância do tiro e o momento da morte de Marcos são pontos divergentes em relação ao laudo do Instituto Médico Legal (IML) que examinou o corpo do empresário.

A reprodução simulada foi feita por peritos do Núcleo de Perícias em Crimes contra a Pessoa do Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Técnico-Científica em 6 de junho.

O laudo está dividido em três partes (descrição do local; reprodução simulada; e dos exames) com um anexo (desenho esquemático da cena do crime). Ele trata somente dos fatos que ocorreram desde o momento em que o casal discutiu em 19 de maio, quando a bacharel revelou ao empresário que descobriu a traição dele, até o dia seguinte, quando ela deixa o apartamento triplex com as malas onde estavam as partes do corpo. Na reprodução, um policial interpretou Marcos.

As fotos mostram a mulher indicando como usou uma pistola, calibre .380, para atingir Marcos, e depois como utilizou uma faca de cozinha para esquartejá-lo e colocar os pedaços em três malas.

Passo a passo do crime
No laudo, 26 páginas mostram como foi o crime a partir do relato de Elize. A reprodução dos fatos teve participação de um policial no papel do executivo.

A sequência de fotos mostra desde o momento em que a bacharel come pizza ao lado do empresário na mesa da sala de jantar, passando pela discussão, tiro e esquartejamento. Todas elas seguem o relato da ré confessa.

O que não é simulado no laudo é o momento em que Elize pega o carro e descarta partes do corpo de Marcos em uma estrada de terra sem movimento na região de Cotia, na Grande São Paulo. O laudo do Insitituto de Criminalística será anexado ao processo que tramita na Justiça. Ele será confrontado durante um eventual julgamento com as demais provas. O Ministério Público deve receber o documento ainda nesta semana.