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Política

Artuzi revela detalhes da pressão que sofreu enquanto esteve preso na Capital

Midiamax

11 de Maio de 2011 - 08:43

O ex-prefeito de Dourados, Ari Valdecir Artuzi recebeu com exclusividade a reportagem do Midiamax, em Campo Grande. Atualmente sem partido, o ex-comandante da cidade que tem o segundo maior colégio eleitoral do Estado limitou-se a falar, pela primeira vez, como foram seus dias como “hóspede” de cadeias provisórias na Capital, após ser preso pela Polícia Federal com a deflagração da Operação Uragano. Ele também fala de perseguição política.

Ari Artuzi disse categoricamente que se considera 'vítima de uma teia política' que acabou tendo, até o momento, punição para uma única pessoa: a perda de seu cargo como prefeito, a expulsão do PDT e quase cem dias preso. Sem revelar nomes dos políticos influentes que, segundo ele, o envolveram em escândalos, Artuzi promete, no momento oportuno, “dar nome aos bois”.

O ex-prefeito diz ter certeza que foi perseguido por conta de um único interesse de um grupo político: a prefeitura de Dourados, que depois de eleições realizadas em 2011, foi escolhido o ex-vice-governador e aliado do governador André Puccinelli, Murilo Zauith (DEM). “Eles não admitem uma pessoa como eu estar lá (a frente da prefeitura)".

A peregrinação de Artuzi em Campo Grande como preso custudiado da Polícia Federal de Dourados – que desencadeou a Operação Uragano – começou com sua transferência para uma das celas do 3º DP, no bairro Carandá. Lá o ex-prefeito foi filmado e fotografado por um agente da polícia civil com a ajuda de uma agente, que ele afirma se chamar Fátima. As imagens foram parar em rede nacional de televisão.

Sobre os dias no 3º DP, Ari Artuzi diz que não foram fáceis, a começar pelo tratamento que disse ter recebido dos policiais responsáveis pela segurança no local. “Não tinha direito nenhum. Não deixavam me visitar, apesar do esforço. Uma noite, meu advogado da época (Carlos Marques) foi chamado pela policial Fátima que falou que eu estava batendo com a cabeça nas grades. Tudo mentira. Se eu tivesse batido como ela disse eu tinha ficado com a cara todo machucada. Um outro policial disse que tinha um buraco (no teto) e que se alguém fosse me dar tiro que era pra ficar em pé. Eles ficavam me coagindo dizendo que alguém ia me matar”.

Artuzi recorda-se que sua transferência aconteceu no dia que pastores foram ao 3º DP fazer orações. Lá estava o delegado titular do Garras, Ivan Barreira, que o questionou se aquelas pessoas eram amigas dele. “Eu disse que sim e meia hora depois me transferiram”. Naquela delegacia o advogado do ex-prefeito o visitou apenas uma vez, segundo ele.

Na sede do Garras, Artuzi disse que continuou isolado e lá recebeu a visita de seu então advogado uma vez. Segundo ele, agentes continuaram com as afirmativas de que ele podia ser assassinado. “Eu não acreditava porque eu sempre andei sozinho na rua em Dourados. Nada mudou, o que mudou depois foram as perseguições, desde as gravações feitas pelo menino em Dourados (Eleandro Passaia)".

Foi na sede do Garras que Artuzi sofreu crise estomacal e depois de alguns dias foi levado para tratamento médico, no Hospital do Pênfigo. Na unidade, disse que ficou algemado nos pés e mãos e ainda com forte escolta. “Pensei, estão me tratando aqui pior que bandido. Daí pedi pra voltar pro Garras. Chegando lá disseram: arruma tuas coisas. Eu falei que não ia. E quando foi 6 horas da tarde juntaram três, quatro e me levaram pra Polícia Federal, algemado. Lá não acharam lugar e me levaram pro Presídio Federal”.

O ex-prefeito afirma que ao chegar ao Presídio Federal agentes jogaram spray de pimenta em seus olhos. O levaram pra uma cela e no outro dia cortaram seu cabelo, deixando-o quase careca. “Eles me levaram pra me manter isolado”, diz.

No Presídio Federal, Artuzi diz que recebeu uma visita de sua filha mais velha, então com 15 anos. Outra visita “ilustre” foi do delegado da Polícia Federal de Dourados, Braulio Galone. “Eu não entendi direito o que ele queria. Parece que ele queria que eu entregasse alguém”.

Seu então advogado também foi uma vez, para sugerir que ele renunciasse. “Meu advogado fazia muito tempo que não ia. Ele chegou e disse: se você renunciar sai. Sai você e sua esposa. Eu estava 93 dias preso, minha esposa presa, minhas filhas eu não sabia como e onde estavam. Como eu tinha uns documentos da prefeitura mportantes assinados, eu disse: se for pra sair amanhã eu renuncio”.

Medo

Artuzi disse que seu único medo era de que a marmitex que todos dias era servida para ele estivesse envenenada, mas em nenhum momento pensou em fazer greve de fome. Sobre os comentários dos agentes sobre um plano para assassiná-lo, o ex-prefeito afirma que tinha certeza de que era armação, uma maneira para intimidá-lo a mando de alguém influente que ele afirma saber quem é, mas prefere não dizer.

Atualmente Artuzi e a família mora em uma chácara de sua propriedade. Segundo ele, não possui recursos em conta bancária, apenas uma dívida de R$ 150 mil. Sem dinheiro para tratar os animais, alguns já morreram, outros estão doentes. “Tô devendo uns oito mil na cidade de ração, remédio. Mas agora não tenho mais onde pedir fiado”.

Sobre sua vida no município, Artuzi disse que anda livremente. “Nunca uma pessoa me perguntou cadê o dinheiro? Nunca! Tem muitas pessoas que sabem que o pessoal armou pra mim”, finaliza.