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Economia

Preços pagos aos produtores "derretem" no Estado

Soja, milho e gado tiveram reduções no mercado, enquanto os custos aumentaram mais de 40%.

Correio do Estado

05 de Novembro de 2022 - 09:05

Preços pagos aos produtores "derretem" no Estado
A arroba do boi chegou a bater R$ 300 e agora é cotada a R$ 252 - Foto: MARCELO VICTOR

Os preços pagos aos produtores rurais de Mato Grosso do Sul pelos grãos e bovinos reduziram nos últimos dois anos. Já os custos para produzir subiram vertiginosamente no mesmo período. As maiores quedas foram percebidas na arroba do gado comercializada no mercado físico do Estado.

Em novembro de 2020, a arroba da vaca era negociada a R$ 256,10 em MS. Enquanto no mesmo período do ano passado, o valor pago ao produtor foi de R$ 248,72. Já nos primeiros dias do mês vigente, a arroba é vendida a R$ 238,73 – queda de 6,8% ou R$ 17,37 no período. A arroba do boi caiu 4,9% no intervalo de dois anos, saindo de R$ 265,95, em 2020, para R$ 252,82, na primeira semana de novembro de 2022. Os dados foram compilados da Granos Corretora.

Para exemplificar, uma vaca com 15 arrobas era comercializada a R$ 3.841,50 em 2020 e dois anos depois o pecuarista recebe 3.580,95 (R$ 260,55 a menos). No caso do boi gordo, um animal com as mesmas 15 arrobas passou de R$ 3.989,25 para 3.792,30 no período.
De acordo com Eliamar Oliveira, analista do departamento Técnico do Sistema Famasul, somente de 2020 para 2021, o custo ficou quase 50% mais caro. “Em um ano, o custo de produzir uma arroba cresceu aproximadamente 47%”, disse.

Segundo Staney Barbosa, economista do Sindicato Rural de Campo Grande, Corguinho e Rochedo, no mercado agropecuário, o que dita as oscilações de preço são essencialmente as condições de oferta e demanda. “Faz alguns meses que a arroba do boi gordo apresentou tendência de queda e, na sequência, estabilizou-se com algumas quedas pontuais na casa dos R$ 260/@”, comenta.

Para ele, existem diversos fatores internos e externos que nos ajudam a entender essa queda. “Um primeiro fator é interno, e reflete a perda do poder de compra dos consumidores brasileiros, forçando-os a buscar outras fontes de proteína para suprir suas necessidades energéticas, como frangos, peixes e outras carnes”, elabora.

GRÃOS

No caso dos grãos, a movimentação dos preços não foi linear. Em 2020, a saca com 60 kg de soja era comercializada a R$ 174 em Mato Grosso do Sul. No ano seguinte, a oleaginosa caiu 9%, indo a R$ 158. Já em novembro deste ano, a saca é vendida a R$ 172. Conforme já publicado pelo Correio do Estado, custo da produção de soja em Mato Grosso do Sul aumentou 42,14% em dois anos. Na safra 2020/2021, o valor investido por hectare era de R$ 4.826,26; para 2022/2023, a projeção é de que o produtor tenha de investir R$ 6.860,08.

A saca do milho se manteve estável no período, sendo vendida a R$ 73 em 2020, passando a R$ 76 no ano passado e a R$ 72 na semana passada. Enquanto isso, o produtor de milho desembolsou R$ 8.220,80 por hectare plantado este ano, ou 150% mais ante a safra 2020/2021, quando o custo foi de R$ 3,3 mil, conforme a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja-MS). Os preços dos insumos continuam impulsionando o custo de produção. “Os dados são impressionantes e corroboram com o que já alertamos nos últimos tempos. Enquanto muitos falam que temos lucros altíssimos, a verdade é só uma, o produtor hoje trabalha no limite, muitas vezes com risco de prejuízo”, frisa o presidente da Aprosoja-MS, André Dobashi.

CONSUMO

Na outra ponta da cadeia produtiva, o consumo aponta para uma tendência de alta. Economista e head de pecuária da Agrifatto, Yago Travagini comenta que o preço da carne bovina já se mostra mais competitivo em relação ao boi gordo. “A carne bovina apresentou um nível de competitividade muito melhor em relação ao frango nos últimos dias. A diferença já chegou a 450% e a 500% em relação ao frango. Hoje, está em 270% perto da média histórica”, analisa.

Ocorre porque há um indicativo de valorização da arroba do boi gordo na comparação com a carcaça casada, que é uma definição mercadológica da carne bovina, na qual combinam os quartos traseiros, dianteiros e a ponta de agulha. Travagini analisa que a relação entre os dois indicadores ficaram um pouco descolados durante este ano. “A desvalorização do boi gordo acometeu de forma mais intensa a arroba, e a carcaça casada não teve desvalorização na mesma proporção. Depois de quase um ano, voltamos a ver margens mais positivas para a carcaça casada em reais por quilo”, afirma.

A conclusão é de que um movimento como esse pode significar uma possível valorização da arroba, projeta o economista. “Notamos que está melhorando a fluidez, com a demanda interna de fim de ano como propulsor para o preço da carcaça do boi gordo, isso pode levar os preços para cima no curto prazo, pelo menos é o esperado por agora”. Segundo José de Pádua, gerente Técnico da Famasul, a expectativa para o último bimestre é de que o consumo interno responda com maior firmeza, assim como o cenário desenhado pelo especialista da consultoria, e para que possa reverter a tendência de queda no preço da arroba. Ele também comenta que é provável uma desaceleração nas exportações.

“As razões que justificam essa expectativa estão relacionadas aos fatores que são comuns para o período: aumento de emprego com as contratações temporárias e pagamento de décimo terceiro salário, que representam maior volume de recurso na economia”, projeta. (Colaborou Rodrigo Almeida)