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Mato Grosso do Sul

Com um passivo trabalhista de R$ 70 milhões em Sidrolândia, João Pessoa é proibido pela Justiça de sair do país

Dentre esses artifícios, o juiz constatou a utilização de pessoas físicas e jurídicas interpostas para o pagamento de despesas do empresário.

Redação/Região News

03 de Novembro de 2024 - 20:20

Com um passivo trabalhista de R$ 70 milhões em Sidrolândia, João Pessoa é proibido pela Justiça de sair do país
Usina Santa Olinda. Foto Divulgação

O empresário João Pessoa Bisneto, dono das Fazendas Boa Vista e Pantanal em Quebra Coco, onde até 2013 funcionava a Usina Santa Olinda, está proibido de sair do País e nem pode dirigir porque teve a carteira de motorista apreendida do grupo CBAA (Companhia Brasileira de Açúcar e Álcool), que administra várias usinas de álcool no País, e já comandou a Usina Santa Olinda. Só em Sidrolândia ele acumula R$ 70 milhões em dívidas com ex-fornecedores e ex-funcionários que mesmo recorrendo e vencendo milhares de ações na Justiça, continuam no prejuízo.

Com um passivo trabalhista de R$ 70 milhões em Sidrolândia, João Pessoa é proibido pela Justiça de sair do país
José Pessoa de Queiroz Bisneto. Foto: Divulgação

No último dia 29 de outubro, o juiz do trabalho André Luis Nacer de Souza, do Tribunal Regional do Trabalho de Mato Grosso do Sul, (TRF24) determinou que a Polícia Federal cumpra a ordem de “proibição de saída do país do executado José Pessoa de Queiroz Bisneto, seja por via área, terrestre ou marítima”. Na mesma decisão, o juiz também determinou a suspensão da CNH do empresário, proibindo-o de dirigir veículos automotores.

Segundo o juiz, as proibições decorrem do fato de o empresário responder por dívidas trabalhistas de R$ 179,2 milhões e de que, até o presente momento, nenhum valor irrisório deste montante foi quitado. Além disso, foram constatados no processo inúmeros artifícios utilizados por ele e por suas empresas para ocultar e blindar o próprio patrimônio.

Dentre esses artifícios, o juiz constatou a utilização de pessoas físicas e jurídicas interpostas para o pagamento de despesas do empresário, de sua esposa e para compra de imóveis para sua filha. Além disso, o empresário utilizou sua esposa, sua filha e uma pessoa jurídica para aquisição de imóveis. O magistrado ainda afirmou que o empresário ostenta um padrão de vida elevado, mencionando provas de viagens do empresário para destinos como Ilhas Maldivas, Dubai, Nova York, Cancun, Miami e São Petesburgo.

A decisão menciona, ainda, faturas de cartão de crédito em nome de José Pessoa com valores altíssimos, chegando a R$ 108.258.45 em apenas um mês, por exemplo, além de gastos no cartão de crédito igualmente elevado com hotéis de luxo, tais como Hotel Fasano (R$ 8.000,00), Palácio Tangará (R$ 10.398,46), Resort Xcaret de Cancun (R$ 23.428,24) e Copacabana Palace (R$ 2.397,90).

Conforme o juiz trabalhista, “não se está, aqui, fazendo juízo de valor de como o devedor gasta seus recursos”. A questão, segundo consta na decisão, é que “enquanto há farta comprovação de gastos supérfluos com o intuito de manter seu suntuoso padrão de vida, há dívidas que há anos o devedor deliberadamente não paga, utilizando-se, inclusive, de meios escusos de ocultação patrimonial, agindo, repita-se, com nítido desprezo por esta Justiça do Trabalho e por seus credores”.

Na decisão, há ainda determinação de venda de um imóvel e de que se prossiga a “investigação patrimonial” em relação ao empresário. A reportagem entrou em contato com escritório que defende o empresário. Em resposta, a defesa disse que processo contém relevantes partes que tramitam sob segredo de justiça e, em respeito a essa condição e à legislação vigente, não irá comentar detalhes sobre o conteúdo ou o andamento do processo.

"Ressaltamos que estamos tomando todas as medidas cabíveis e necessárias para resguardar os interesses afetados por essa decisão, sempre com estrita observância aos princípios legais e ao direito à ampla defesa. Agradecemos pela compreensão e permanecemos à disposição para eventuais esclarecimentos dentro dos limites permitidos", disse em nota.

Calote milionário

Boa parte dos milhares de funcionários  perderam o emprego com o fechamento da Usina Santa Olinda morreu sem receber seus direitos trabalhistas. Quem passou por este drama foi Fernando Vitorino da Silva que por 9 anos (entre 1995 e 2004) trabalhou como recrutador de mão de obra no Nordeste para a usina. Foi demitido sem receber nenhum dos direitos que foram reconhecidos pela Justiça do Trabalho. Até hoje viúva não recebeu nenhum centavo do crédito de R$ 1 milhão ao qual tem direito.

Em 2013, o empresário entregou em regime de arrendamento por 3 anos, 200 hectares divididos em lotes de 5 hectares para 40 ex-funcionários com direitos trabalhistas a receber. Cedeu a eles um trator para desenvolverem atividades agrícolas e assim conseguirem alguma renda. A ideia não deu certo, muitos trabalhadores cederam a posse da suas parcelas para ex-colegas de trabalho. Ao término dos três anos, João Pessoa não cumpriu a promessa de renovar por mais três anos o arrendamento. Tomou o trator de volta os 200 hectares. Atualmente o empresário explora os 8 mil hectares da antiga usina com o plantio de soja e milho. No auge de produção da Santa Olinda, parte da cana vinha desta propriedade e de outros 12 mil hectares arrendados.