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Policial

Nem diz à PF que pagava a policiais metade do faturamento com tráfico

Em depoimento de nove horas, traficante informou à PF nomes de policiais suspeitos

R7

11 de Novembro de 2011 - 15:53

Após ser preso ao tentar fugir da Rocinha (zona sul do Rio), o traficante Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, disse em depoimento à Polícia Federal que ao menos metade do que ganhava com a venda de drogas era entregue a policiais na forma de propina. Ele informou à PF o nome de alguns dos policiais - civis e militares - suspeitos de pegar o chamado "arrego", assim como as delegacias e batalhões em que eles atuam.

Nem também relatou, de forma detalhada, algumas situações de extorsão por parte de policiais. Segundo o traficante, ao menos duas vezes, o caixa mensal de venda de drogas fechou sem lucro em razão do pagamento de propinas. Nem contou no depoimento que alguns policiais iam à Rocinha mais de uma vez no mês para recolher o "arrego".

O secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, disse na tarde sexta-feira (11) que ainda não teve acesso ao depoimento.

- Não tive acesso ao depoimento, mas faço votos que essa pessoa [Nem] revele detalhes do funcionamento do tráfico e da conduta de agentes públicos.

Beltrame participou na tarde desta sexta do lançamento do projeto Garupa que deve reforçar na capital o patrulhamento de motos do Batalhão de Choque.

Em conversa informal com agentes federais, Nem disse ter orientado traficantes da comunidade a não reagirem quando a favela for tomada para início da implantação da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora). A previsão é de que a retomada do território ocorra no domingo (13). Nem disse ainda que a maioria dos criminosos já deixou a comunidade, mas que muitos continuam no local.

Após ser preso, na madrugada desta quinta-feira (10), Nem passou a noite na sala do delegado da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes), na sede da superintendência da PF, na zona portuária. Ele recusou a comida oferecida pelos policiais.

Na sede da PF, Nem ligou para a mãe e mandou um recado aos filhos para que não faltassem à escola. Entretanto, a movimentação de policiais na favela desde o início desta semana fez com que quase 5.000 alunos de escolas públicas ficassem sem aulas.

O traficante foi transferido para o complexo penitenciário de Bangu, na zona oeste, no início da tarde de quinta-feira (10). No mesmo veículo blindado foram levados outros 11 criminosos, entres policiais civis, PMs e comparsas de Nem. Um policial militar reformado, apontado como segurança do traficante, foi levado para o BEP (Batalhão Especial Prisional), em Benfica, zona norte.

De lá, ele deve seguir para um presídio federal de segurança máxima, conforme anunciou o governador Sérgio Cabral (PMDB). O governador disse esperar que a ocupação da comunidade transcorra sem confrontos

Chefe do tráfico na Rocinha, Nem foi preso por policiais militares na madrugada desta quinta-feira quando tentava deixar a comunidade escondido no porta-malas de um Corolla.
Na tarde de quarta-feira (9), agentes da Polícia Federal prenderam
dez pessoas na Gávea, na zona sul, entre as quais três policiais civis, um policial militar reformado e um ex-PM que faziam a escolta dos demais. Eles receberiam R$ 2 milhões para escoltar a fuga dos criminosos.

Beltrame: "ainda há muito a ser feito"

O secretário estadual de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, classificou a prisão do traficante Nem como um grande passo no combate ao crime organizado, mas ressaltou que ainda há muito que fazer.

- Nós demos um passo importante, mas ainda há muito a ser feito. Prender pessoas, apreender armas, drogas e munição é importante, mas precisamos acabar com o território, o porto seguro do comando paralelo. Essa é a grande vitória, porque a simples ameaça da perda de território onde o tráfico dominava vulnerabilizou essas pessoas. Eles saíram do seu reduto e foram presos. A quebra desse paradigma é o nosso grande trunfo.

Para Beltrame, a captura do chefe da venda de drogas na Rocinha aconteceu graças à integração entre as polícias Militar, Civil e Federal e os setores de inteligência dessas instituições. Quanto ao processo de pacificação da comunidade em São Conrado, que estaria previsto para começar neste domingo, o secretário preferiu não confirmar a data.

- A Rocinha será ocupada, terá uma força policial. O dia que isso vai acontecer ainda depende de uma análise dos resultados já obtidos.

Os policiais dirigiam quatro carros. A prisão aconteceu perto do Shopping da Gávea e em frente ao jóquei. Com o grupo, foram apreendidos os quatro carros utilizados pelos policiais, três fuzis, dez pistolas e joias de ouro.