SIDROLÂNDIA- MS
Desmotivados com preço baixo, assentados abandonam produção leiteira
Ao longo dos últimos 10 anos vários produtores deixaram a atividade, migrando para o cultivo de mandioca ou simplesmente arrendaram os lotes.
Redação/Região News
22 de Abril de 2025 - 08:57

Embora abrigue em seu território 3.314 pequenas propriedades rurais, Sidrolândia não conseguiu se consolidar como polo relevante da produção leiteira, atividade que normalmente é típica da agricultura familiar. De 8 mil litros diários, a produção leiteira do município despencou para 1.500 litros. Há 10 anos foram instalados em diferentes assentamentos, 35 resfriadores com capacidade para armazenar mais de 90 mil litros. A Prefeitura desconhece quantos destes equipamentos, adquiridos com recursos de emenda parlamentares, ainda estão sendo utilizados.
Ao longo dos últimos 10 anos vários produtores deixaram a atividade, migrando para o cultivo de mandioca ou simplesmente arrendaram os lotes para lavouras de soja, animados com uma renda anual que chegou a R$ 40 mil, faturamento bruto equivalente a 14 meses com a venda de leite, atividade que exige dedicação integral sem direito a folga. Já para quem arrenda, o maior desafio é torcer para as condições climáticas ajudarem na obtenção de uma boa produção.
A combinação de preço baixo pago pelos laticínios e os altos custos de produção foram determinantes para o assentado Mário Hausmann, do Capão Bonito, abandonar há 4 anos à pecuária leiteira, atividade a qual se dedicou por 22 anos. "No último ano que trabalhei com leite, recebi entre R$ 1,70 e R$ 2,00 por litro, valor insuficiente para cobrir os meus custos de produção", lembra.
Com um rebanho de 28 vacas (incluindo Jersey, Girolanda), ordenhava 500 litros por dia, produção somada a de outros assentados da região, atingia 3 mil litros, vendida basicamente para dois laticínios, o Vencedor de Deodápolis e o Imbaúba de Bandeirante. Mário preservou toda a estrutura que montou para a produção leiteira, incluindo o galpão, ordenhadeiras, gerador de energia elétrica, além de um resfriador com capacidade para receber 1.600 litros. Para chegar neste estágio, somando o custo de aquisição das vacas (que garantiam 30 litros de leite em duas ordenhas), quem entrasse na atividade agora precisaria investir R$ 300 mil.
Quem também abandonou a produção leiteira foi Cláudio Sartori, também do Assentamento Capão Bonito. Ele chegou a produzir 700 litros de leite por dia, desempenho que o habilitou uma edição do torneio leiteiro realizado durante a Exposição de Sidrolândia. Preços baixos, falta de políticas públicas de fomento, o levaram a trocar o leite pela piscicultura e a produção artesanal de embutidos. Muitos produtores não dispõem de implementos para o plantio do milho e capiaçu, capim usado na preparação da silagem que garante a alimentação do gado durante o período de estiagem quando as pastagens ficam ralas.
Neste ano a Prefeitura suspendeu o programa de apoio à produção de silagem que em 2023 e 2024 benefício 100 assentados. A Secretaria de Desenvolvimento Rural e Meio Ambiente forneceu sementes, preparava o solo para o plantio de um hectare de milho por capiaçu.
Os assentados do Barra Nova, que há 10 anos chegaram a comercializar 10 mil litros por semana, atualmente vendem 70% menos. "A soja tomou conta do assentamento", conta Everton Mordelira. Ele reclama os efeitos da pulverização de agrotóxicos nas lavouras vizinhas que estariam comprometendo a produção do mamão usado na dieta alimentar da vaca. Tem uma produção diária de 64 litros, parte destinada à fabricação de rapadura. Até chegar ao laticínio em Dourados, o caminhão percorre 150 km no assentamento. Considerando o trajeto de ida e volta, são 400 km de percurso, o que achata o preço pago pela indústria (R$ 2,17/litro) por causa do custo do frete.




